Segundo a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical), março é normalmente o mês mais chuvoso em todo o estado do Maranhão, quando as chuvas se concentram no setor norte/noroeste, com valores acima de 400 mm.
É sob as “águas de março” que chegam as comemorações para as mulheres. Março é, para muitos, o mês mais feminino que existe, o mês da fragilidade, o mês da sensibilidade, o mês da empatia, mas podemos dizer também que é o mês da força, o mês em que a sororidade anda de mãos dadas. Mas, afinal, o que de tão bom nós, mulheres, podemos oferecer a uma sociedade capitalista, contemporânea e (um pouco?) patriarcal, como a brasileira?
Como parte das homenagens ao sexo frágil, trazemos à tona uma obra que já fala por si só: “Teresa decide falar” (Cepe Editora, 152 páginas), obra de Lindevânia Martins, lançada em 2022, um livro de contos que aborda vários cenários em vozes femininas, levando o leitor a crer que está diante de personagens reais.
Nesse texto destacamos a narrativa que dá nome à obra: Teresa decide falar. Trata-se de ser um conto de gênero fantástico, no qual a personagem principal é uma equina, que traz em sua essência a angústia de nunca ter sido ouvida pelo seu dono. Aqui podemos fazer um contraponto com a própria sociedade que muitas vezes cala a voz da mulher, assim como fez com Teresa, que passou uma vida inteira numa fazenda:
– Teresa? Quem é Teresa?
– É uma égua manga-larga. Está na família desde que eu era rapazinho. (pág. 09)
Ou seja, ela sempre passou despercebida por seu dono, até o dia em que decidiu falar. Assustado, o dono correu em busca da ajuda de um veterinário para ver se o médico conseguia decifrar a fala Teresa.
A sociedade é cruel, o Homem é cruel. Aqui não estamos em devaneio, nem em mimimi, mas de fato, em apoio à Teresa, uma equina, que, metaforicamente simboliza muitas mulheres que são sufocadas, por não poderem falar o que sentem e o que pensam a seus maridos, namorados e à sociedade em geral.
Quando o veterinário chegou à fazenda, examinou o animal nos mínimos detalhes, mas, como não encontrou nada de extraordinário, disse ao dono que não havia nada demais e que aquele animal ainda viveria por uns longos anos. Foi então que Teresa pôs-se a falar, mesmo não se entendendo nada do discurso, a equina foi eloquente, categórica e dramática em sua fala. É o que basicamente fazemos todos os dias, que nem sempre somos ouvidas. O veterinário admirou-se do que ouvira, embora não tenha entendido nada, o que deixou o dono de Teresa muito desanimado:
– Que pena! Daria tudo para saber o que ela diz. (pág. 11)
Às vezes (em grande parte) os homens e até as próprias mulheres são assim, na persistência de superioridade, ou desigualdade, menosprezam e se fazem de ouvidos moucos à voz da mulher. O restante da história nossos leitores e leitoras podem correr para adquirir a obra e deliciar-se com as múltiplas vozes que nos fazem refletir sobre nossa própria existência.
E, nas enxurradas das águas de marços, chegam as homenagens vindas de todas as partes, inclusive do mundo mágico das páginas dos livros, onde é possível ouvir a voz de uma égua manga-larga chamada Teresa, para que possamos levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.