O ato de se comunicar é sagrado. Nem precisa ser um estudioso profundo do tema para se chegar a essa conclusão. Mas tem um detalhe: o processo fica complicado, quando o que é dito, visto, ouvido e sentido não alcançam a compreensão e a interpretação necessárias. É certo que há situações em que esse tipo de interpretação concorre para o bem. Mas na maioria das vezes torna-se responsável por grandes tragédias, tanto pessoais, quanto coletivas.
Dada à sua importância, estudos importantes foram desenvolvidos ao longo dos anos só para tratar da interpretação das coisas. No direito, por exemplo, aparece a Hermenêutica, que se destina ao estudo e ao desenvolvimento dos métodos e princípios da atividade de interpretação. O mesmo estudo ainda se desdobra na Hermenêutica Bíblica, que cuida do estudo dos princípios e da interpretação do livro sagrado cristão.
Na toada da intepretação ainda tem a Semiótica, assim chamado o estudo dos signos, que aqui, leia bem, precisa ser interpretado como o conjunto dos elementos que representam algum significado, que possuem algum sentido para o ser humano. Trata-se de um tipo estudo indispensável em algumas graduações, notadamente comunicação social. Para sintetizar, a Semiótica cuida de estudar como o indivíduo atribui significado a tudo que está ao seu redor. E por aí segue.
Sentiu aí a importância do ser humano, enquanto ser social, de se posicionar de tal maneira que se torne capaz de interpretar o mundo, ao seu redor?
Somos os responsáveis por aquilo que comunicamos. O problema é a capacidade de interpretação do outro em torno de questões, das mais simples às mais complexas. Por exemplo: pode ser que um boa noite, ao final de um dia difícil, possa ser interpretado como uma ironia, e não uma gentileza e, a depender das circunstâncias, gerar até uma tragédia.
Tragédias à parte. Também é possível ri muito com alguns tipos de comunicação truncada, principalmente quando a ocorrência gira em torno dos sinais de pontuação. Encontrei anos atrás, em um velho livro didático, um conto do escritor Fernando Sabino, “Macacos me mordam” era o título dele, onde o autor de maneira jocosa abordava sobre as consequências de uma comunicação incompleta ou mal feita. O vilão da história foi o oficial do telegrafo.
Um cientista de Minas escrevera para um colega de Manaus solicitando: “
obséquio providenciar a remessa um ou dois macacos”
O telegrafista não compreendeu direito o que estava escrito. Entendeu que seria 1002 macacos.
“Providenciada remessa de 600 restante seguirá oportunamente” respostou o colega de Manaus.
E aí já viu, não é? Confusão na certa, com tanto macaco.
É fato que o processo de comunicação só se completa a partir do momento em que o que diz é perfeitamente compreendido. Imagine a engenharia necessária para se alcançar esse objetivo. Aí entra o uso dos diversos signos gráficos, do todo corporal; passando pelo tom de voz, o gestual e até do ato de silenciar-se. Cenas variadas do cotidiano também entram nesse processo. Nesse particular a questão é potencializada por outro componente que entra no processo da interpretação: os julgamentos.
Dias desses um amigo reencontrou uma antiga amiga de infância, num restaurante da cidade, a quem dedicou exatos 10 minutos de atenção. O tempo foi suficiente para temperar as lembranças do passado com boas risadas, e até celebrar o momento com um brinde, mas também houve tempo para uma amiga da esposa, discretamente, ter “batido um retrato” e enviando imediatamente para a suposta traída amiga. Foi luta para esse companheiro desatar o nó.
Não há como fugir! Se não é tudo, a comunicação é quase tudo! E a depender da forma, pode concorrer para o bem ou para o mal afinal, saber interpretar, o que quer que seja, não é tarefa fácil.