Imperatriz também já teve suas gangues e elas dominaram de certa forma, a cena social da cidade nos idos anos de 1990. Me lembro de um certo dia quando o muro da frente de casa amanheceu pichado com a inscrição gangue da União. Aquilo era uma espécie de demarcação de território e expressão de um grupo de indivíduos que se identificavam como uma gangue. Era como hoje, em dia com as facções, a grosso modo.
Naquela época existiam as Mobiletes, motos com no máximo 50 cilindradas que poderiam ser conduzidas sem a necessidade de habilitação. Essas motos fizeram sucesso, meados da década de 1980, e creio que até meados da década de 1990 desaparecendo aos poucos, seja por falta de peças de reposição, ou então pela descontinuidade da produção.
Mas mesmo assim, eram poucas as pessoas que poderiam comprar uma mobilete mas que era uma ótima opção enquanto meio de comunicação para aqueles que não precisavam de uma carteira de habilitação.
Naquele tempo as mobiletes que eram roubadas, eram simplesmente descaracterizadas pela remoção da pintura original, da carenagem da moto, na verdade era uma peça de metal que protegia, o condutor de se queimar pelo contato ocidental entre a perna e o motor da mobilete. Não tenho ideia de quantos mobiletes foram roubadas e de quantas mobiletes foram desccaracterizadas, mas elas tinham um visual trash, que mais lembrava aqueles carros do filme Mad Max, Pois apresentava uma cor enferrujada.
Me lembro de andar nas mobiletes que eram das minhas irmãs, uma vez ou outra, fato que era raro, mas me lembro muito bem de um episódio que aconteceu na Avenida Dorgival Pinheiro de Souza e na qual foi abordado por dois membros de uma guangue.
Em praticamente todas as vezes que andei de mobilete foi abordado, por garotos, na verdade adolescentes que faziam parte dessas gangues da mobilete. Isso porque, esse meio de transporte mobilete na qual eu andava era muito bem conservada por se tratar de uma monark, enquanto que a maioria desses jovens andavam em mobiletes da marca concorrente, a Agrale. Ah e existiram também, naquele tempo as gangues da BMX, mas isso fica para o outro texto.
Me lembro de uma dessas abordagens, na qual dois garotos andavam lado a lado com minha mobilete e me diziam:
“Ei vamos ali, quero dar uma olhada na tua moto, ela tá novinha!”
Eu simplesmente retrucava: “Vai na frente que vou te acompanhando!”
Hoje eu fico sorrindo da situação, mas nunca em hipótese nenhuma acompanharia aqueles garotos, pois eu sabia que a moto acabaria sendo roubada, com o número do chassi sendo raspado, o que impossibilitaria posteriormente qualquer tipo de recuperação do bem. Naquele momento em que eles me pediam para seguir atrás deles eu simplesmente pensava: “Tá bom! Até parece que eu vou seguir vocês”.
E outro texto vou contar mais um pouco, das histórias das gangues de Imperatriz, pelo menos daquilo em que tive conhecimento, mas por enquanto fica esse relato das gangues de mobilete.
Naquele tempo em Imperatriz, que eu ainda me lembre não existiam roubos a mão armada de motos ou isso ainda era muito raro por sinal, sendo que a grande maioria da população utilizava bicicletas, e algumas poucas motos, sendo que aqueles de classe média, e os mais abastados possuíam seus carros.
Felizmente, aquela mobilete deixou muitas saudades, assim como também sinto falta daquela cidade menos movimentada, e que embora já fosse dinâmica do ponto de vista econômico, ainda mantinha uma certa conexão com parte da sua história do passado.
Não sei o que aconteceu com aqueles dois meninos pré-adolescentes que provavelmente queriam roubar minha moto, mas eu sei que muitos deles hoje não estão mais vivos, Pois muitos perderam a vida seja pelo uso de drogas, seja pela prática de crimes e delitos de maior ou menor monta, ou ainda, por conta das brigas entre grandes rivais.
Hoje, volta e meia temos um grave problema de Segurança Pública que envolve o roubo de veículos automotores e de motocicletas e que tem trazido transtorno, e prejuízo financeiro, a morte e a destruição de muitas famílias. Como se pode perceber o crime só muda o seu objeto do roubo, mas de certa forma ele persiste ainda no roubo de motocicletas ou de carros de passeio.
Fica aqui essa memória afetiva de uma Imperatriz provinciana que ainda persiste em existir nas memórias de todos aqueles que por aqui já vivieram,