Em uma das infindáveis tentativas de (re)organizar meu ambiente de (sobre)vivência intelectual e emocional conhecido como lar, deparei-me com um texto singelo da década de noventa (de nossa autoria) que suscita reflexões sobre o fenômeno emoção humana universal intitulado solidão. No que consiste a experiência da solidão? Quais são suas características? Quais são os tipos, as causas e os sintomas da solidão? Qual a sua forma única de vivenciá-la?
A solidão é um estado emocional complexo que pode ser conceituado de várias maneiras. Em geral, ela se refere à sensação de isolamento social, à falta de conexão com outras pessoas, comportamento de pena de si próprio. A pessoa se sente isolada, desconectada emocionalmente ou socialmente, mesmo que não esteja fisicamente sozinha.
Dessa tentativa de conceituação podemos inferir algumas peculiaridades: a) isolamento social (falta de contato regular e/ou de convívio com outros indivíduos); b) ausência de conexão (sem sentimento de pertencimento a algum grupo social e/ou não ter relacionamentos significativos) e c) presença de sentimentos negativos (tristeza, ansiedade, depressão, baixa autoestima, etc.).
A solidão pode ser: a) social (pouca ou nenhuma interação com outras pessoas); b) emocional (mesmo que esteja com outras pessoas não as sente e/ou estabelece conexão com elas) e/ou c) existencial (sensação de que sua vida não tem um propósito).
Isso pode ser causado por questões sociais (manter-se ou ser mantido isolado(a) da convivência social), psicológicas (sentimentos negativos sobre si mesmo(a)) e/ou biológicas (envelhecimento não saudável, doenças crônicas, etc.)
Devido a isso (solidão prolongada), diversas manifestações podem impactar desfavoravelmente: a) a saúde mental (somatização – transformar conflitos psíquicos em afecções de órgãos ou problemas psicossomáticos e/ou depressão, ansiedade, suicídio, etc.); b) a saúde física (pode aumentar o risco de aparecimento de doenças cardíacas, diabetes, AVC, demência, dentre outros) e c) o bem-estar social (pode haver perda de qualidade de vida, diminuição de produtividade, afastamento social).
E, para que a solidão não nos afete de modo prejudicial, é essencial que: tenhamos momentos frequentes de interações sociais (conexões relevantes), que pratiquemos diariamente o autocuidado e tenhamos objetivos, metas, finalidades que deem significado à nossa vida.
Ainda assim é preciso vivenciar a solidão? Visto sob outro viés, interessantes são os efeitos da solidão naquele(a)s que estão emocionalmente envolvidos com alguém. É uma mistura de esperanças e inseguranças e, muitas vezes, uma alternância entre tais sentimentos. E por falar nestes, o que se pode afirmar acerca dos mesmos? Que são uma inesgotável fonte de inspiração ou de autodestruição? Como cada um tem sua própria verdade e o ponto de vista depende do ângulo e das intenções do observador, nada mais apropriado do que simplesmente continuar…
Estar sozinho não é necessariamente sentir-se só ou vice-versa. O que dizer da tão falada solidão a dois, ou a três ou até mesmo em uma multidão? Alguns poderão dizer que tal sensação é apenas um estado de espírito, uma fraqueza humana, nada tendo a ver com outras pessoas ou a ausência destas. De fato, não existe um fato, apenas conjecturas tendenciosas tão volúveis quanto a brisa do mar.
Tentemos exemplificar sem qualquer pretensão explicativa: quando se está fortalecido espiritualmente ou estabilizado emocionalmente, tudo passa a ser uma consequência do seu ânimo, seu poder interior, seu elo com o divino, do favorecimento oportuno de forças cósmicas, ou qualquer outra fundamentação que se queira dar ao iluminado e até ofuscante humor. E, por conta dessa atitude positiva em busca do necessário equilíbrio, onde quer que se vá tudo ao nosso redor ou em nosso íntimo parece conspirar para que nos sintamos autossuficientes ou simplesmente bem acompanhados.
No entanto, quando acreditamos que a sorte é uma companheira fiel de todos, menos de nós mesmos, ou quando a angústia nos persegue ou a amargura toma conta do nosso ser, passamos a procurar a felicidade externamente, em outrem, como se a presença deste fosse um pré-requisito, um passaporte, uma senha mágica para “o paraíso”. E, obviamente, quando não encontramos essa cumplicidade, constatamos que nada dói mais do que o silêncio contido na solidão.
Agora que já vimos as duas faces da mesma moeda, só nos resta escolher: a solidão a nos conduzir ao isolamento, ao ostracismo, a autopiedade, à tendência natural a aflição extrema ou confiarmos no nosso potencial de nos sentirmos completos e parte integrante de algo maior que depende tão somente de nossa existência e atitudes.
Qualquer que seja a nossa escolha, ela não é um fim em si mesmo, depende do contexto no qual estamos inseridos naquele exato momento e lugar.
Por alguns instantes, adentramos em “ensaios” de psicologia que nada mais são do que a visão de mundo do subscritor deste por meio da inevitável observação e participação em estórias recorrentes. Ouvir, falar, sentir, vivenciar suas próprias experiências solitárias e compará-las com as de outras pessoas, pode ser tudo resumido em uma tentativa de humanização dos relacionamentos.
Solidão em verso, prosa, cantada ou falada, e sempre vivida intensamente, é um incessante estímulo ao convívio por mais paradoxal que pareça.
Uma resposta
Diálogo necessário. Meus parabéns! Dr. Cláudio Santos.