Quando recebo de presente um livro do escritor, ou de alguém que o leu, gostou e deseja compartilhá-lo, não tenha dúvida: recebo com alegria e com a certeza de que não será encerrado eternamente numa prateleira qualquer, e condenado ao esquecimento. Será lido criteriosamente, e dele extraída sua melhor essência. O livro, quando lido, se constitui em uma importante peça de arquitetura da formação da personalidade humana.
A doação, ou mesmo a recomendação da leitura de um livro carrega uma forte carga simbólica. Se recebida com consciência, até curativa é. Quem leu, e depois recomendou, já experienciou as delícias do universo percorrido e quer compartilhar. Recomendar a leitura de um livro, emprestar, ou doá-lo também é uma boa ação.
O livro é pra ser lido, decifrado, compreendido. Se considerado bom, difícil, ou ruim, não importa. Ali estão impressos não só letras, mas a alma, ou um conjunto de almas, o esforço, a pesquisa e a coragem do escritor, ao se considerar a dificuldade e os custos elevados para se sistematizar uma obra, e publicá-la, seja nas plataformas digitais, ou físicas
Na véspera do Natal, ao visitar o tio Camilo, irmão do meu saudoso pai, em São Luís, encontrei-o sentado numa preguiçosa ouvindo a rádio Nacional e olhando para o pomar que ele ajudou a plantar. Ao ouvir minha voz, tia Dorinha, esposa dele, veio ao nosso encontro e foi logo perguntando “teu nome é com E ou com H”?
–Com E.! Elson, é hebraico, filho de Eli, que significa filho de Deus- respondi tentando compreender o motivo da pergunta.
Ela riu, e minutos depois voltou com um elegante livro, a partir da capa, com uma bonita dedicatória seguida de uma fala que compreendi como uma espécie de apelo
“Não sei se você terá tempo para lê-lo, mas, este exemplar é seu”.
-De pronto, respondi. Lerei, sim, tia. Pode deixar!
E já conclui a leitura de Memórias de uma Geração, muito bem escrito por quatro filhos, bem sucedidos, do antigo Povoado Garapa, hoje cidade de Duque Bacelar. Um livro de reminiscências divididas por Lázaro Albuquerque, Linhares de Araújo e Maria Vilmar. A obra é apresentada pela minha tia, Dorinha Aguiar e prefaciada pelo escritor Elsior Coutinho, ocupante da Cadeira 18, da Academia Maranhense de Letras.
O prefaciador não errou quando escreveu que “Já se viu que este livro é farto em motivos de alegrias, de festas, em forte pulsar de corações jovens, em lembranças benfazejas e enternecedora” . escreveu Elsior
Uma delícia de viagem nas aventuras, desventuras e memórias dos quatro filhos agradecidos de Duque Bacelar, com filhos, netos e bisnetos, que em comum, assim como por cá amamos o Rio Tocantins, têm o Rio Parnaíba, o Velho Monge, como um dos guardiões de suas memórias.
Tinha curiosidade de saber o porquê que o Parnaíba é chamado de Velho Monge, Na leitura de Memórias de uma geração, pela pena de Elsior Coutinho, desvendei o mistério, Segundo ele o epiteto surgiu de um soneto intitulado Saudade, de autoria do poeta piauiense Da Costa e Silva (1885-1950) “…As mortalhas de névoa sobre a serra…/ Saudade! O Parnaíba-Velho Monge/ As barbas brancas alongando…e, ao longe,/ o mugido dos bois da minha terra”
Encerro o texto de hoje, com um trecho da apresentação da minha tia Dorinha Aguiar ao se referir ao reencontro com os amigos e amigas da juventude que culminou com a criação de um grupo de WhatsApp e depois na construção de Memórias de uma geração
Foi uma explosão de emoções, abraços, lágrimas, sorrisos fáceis. Eram os filhos da terra sentindo um renascer, um reviver.
Grato, pelo livro, tia Dorinha.
Gostei da viagem,