De alguns anos para cá, em grande parte graças à popularização dos serviços de streaming, tem surgido muita animação ocidental voltada para o público adulto. Enquanto algumas animações focam em humor ácido e satirização, outras não poupam na violência e no derramamento de sangue. E tem aquelas que fazem um misto das duas coisas. Invencível, Arlequina, Rick e Morty, Arcane e Love, Death & Robots são alguns exemplos de séries animadas bem-sucedidas voltadas para o público adulto.
Samurai de Olhos Azuis (Blue Eye Samurai, 2023) é uma animação de origem franco-americana, mas que simula o estilo anime, narra a jornada de Mizu, um samurai tratado como uma aberração por conta da peculiaridade de ter nascido com olhos azuis, símbolo da mestiçagem gerada por um dos quatro homens europeus que residiram ilegalmente no Japão na época em que a mãe de Mizu engravidou. Sem saber exatamente qual dos homens é seu pai e não se importando com essa informação, Mizu vai em busca de vingança contra os quatro europeus, começando por Abijah Fowler, um traficante de armas que inicia uma operação para derrubar o shogun do poder no Japão do Período Edo – época em que o país adotou uma política isolacionista e que durou por mais de dois séculos e meio.
Samurai de Olhos Azuis é composta por 8 episódios que variam entre 35 minutos e 60 minutos de duração. A produção e o roteiro ficaram a cargo de Amber Noizumi e Matthew Green, este último que roteirizou os filmes Logan e Blade Runner 2049.
A animação é cheia de ação e algumas inspirações e/ou semelhanças com outras obras podem ser notadas nos primeiros episódios. Uma das principais é a duologia Kill Bill, do diretor Quentin Tarantino, não apenas por serem obras sobre um personagem em busca de vingança, mas é pela violência exagerada, irrealista e cartunesca, tipo cortar um corpo ao meio em pleno ar como se fosse papel ou o excesso de sangue ao fatiar os braços e as pernas. Mizu não é um protagonista invencível, na maioria dos episódios fica entre a vida e a morte com tantos ferimentos acumulados em batalhas.
Também há uma pitada de videogame, a progressão da história lembra a de um jogo, com os desafios se tornando maiores e mais complexos à medida que Mizu vai avançando de fase. Assemelha-se, também, aos jogos focados na furtividade – devido à temática de samurai, o primeiro jogo que me veio à cabeça foi Ghost of Tsushima, cuja trama se passa durante a invasão mongol na ilha de Tsushima enquanto o protagonista do jogo deve lidar com seus inimigos num combate direto ou usando a furtividade.
Entretanto, Samurai de Olhos Azuis não se resume a apenas mais uma história de vingança e violência. Temas como a honra de um samurai, o preconceito social, obsessão e ódio, liberdade de escolha e limites morais são trabalhados ao longo dos episódios. O preconceito, principalmente, já que é o norte na motivação de Mizu. Seus olhos azuis causam repugnância nas pessoas, e até em si mesmo, como se fosse a face de um monstro ou de um demônio.
O estilo estético da animação também é de encher os olhos. Há uma combinação de animação 2D com 3D que exalta, por exemplo, cenas de contemplação, os cenários no fundo – que, inclusive, faz um ótimo trabalho na reconstrução da época.
Samurai de Olhos Azuis termina com um final aberto para a – já confirmada – 2° temporada, porém justificável e executado de uma maneira surpreendente dentro do que vinha sendo contado. Cheia de ação, bonita visualmente, abordando temas sérios de forma convincente, Samurai de Olhos Azuis é mais uma série animada que se encaixa nessa boa safra de desenhos voltados para o público adulto.