(Prefácio de Edmilson Sanches ao livro sobre “Gonçalves Dias, O Poeta Nacional do Brasil”, a ser lançado em breve pelo Institut Cultive Suisse-Brésil, de Genebra)
Houve um tempo, no Brasil, em que Literatura em Língua Portuguesa era escrita ao modo português de se escrever literariamente. Ou seja: os assuntos, a temática, o objeto do fazer literário eram em especial as mitologias grega e romana, escritas, descritas e reescritas com aquele “usus scribendi”, maneira muito própria de se esgrimir um idioma — aqui, a Língua Portuguesa –, com as características estilísticas, gramaticais, morfológicas, sintáticas de um determinado período histórico — no caso, séculos 18 e 19, sobretudo.
Pressionado por Napoleão Bonaparte em 1807, muda-se de Portugal e chega no ano seguinte ao Brasil o quase sempre sofrido e muitas das vezes incompreendido Dom João (depois, Dom João 6º) — cuja família tem uma mãe louca, uma esposa e um filho, Miguel, conspiradores contra ele e o que menos “estrago” vem a fazer é o filho Pedro, futuro Dom Pedro 1º do Brasil, que, no grito (da Independência), apenas lhe (re)tira, ao pai, nosso País, em 1822. Além disso, Dom João, antes de transferir-se para terras brasílicas, sabia de seu Portugal ser “retalhado” em conversações e negociações de tratados que envolviam França, Espanha e Rússia, todos estes querendo um pedaço das terras e haveres lusitanos. Ou a ameaça de perder Portugal para a França, sob sangue, ou, rendendo-se sem guerra à França, ver seu país tomado pela força naval da Inglaterra, com quem o reino luso mantinha sólidos laços econômicos e de apoio militar.
É esse Dom João, com sua corte e bens em sua frota de quinze navios e alguns milhares de pessoas, que chega ao grande país dos trópicos sul-americanos. Os intelectuais, sobretudo os que produziam textos, que acompanharam a nobreza — portuguesa com certeza –, reforçaram naquele nascente Brasil dos Oitocentos o “usus scribendi” da Língua Portuguesa, com seus motivos, maneiras e maneirismos temáticos e linguísticos. Ainda não seria com a Corte joanina que o Brasil “nasceria” da Língua que seu povo emprenhava e queria ver nascer… brasileira.
Não demoraria tanto. Nos idos de 1822/1823, quatorze/quinze anos após a chegada de Dom João, nascem o Brasil independente e o maranhense trirracial (índio, negro, europeu) Antônio Gonçalves Dias, que, vinte e três anos depois, como excepcional obstetra literário, traz à luz seu primeiro livro, seus “Primeiros Cantos”, obra toda ela grávida de Brasil: sua gente — inclusive senão sobretudo índia –; e sua terra, onde assomam palmeiras e assobiam sabiás.
É desse homem — Gonçalves Dias — o de que trata o concurso literário (“Concurso Gonçalves Dias”) e seu tema (“Gonçalves Dias, O Poeta Nacional do Brasil”), que o Institut Cultive Suisse-Brésil, de Genebra, abriu para escritores brasileiros, fechando com mérito o ano do bicentenário gonçalvino, motivo de ações, comemorações e outras realizações de pessoas jurídicas e físicas, governamentais e privadas, do Exterior, do Brasil, do Maranhão, de Caxias (terra natal do Poeta) e, claro, do Institut Cultive, à frente sua fundadora e presidente, a “trinacional” (brasileira, nordestina e suíça) Valquíria Guillemin Imperiano, que, por convicção ou convocação, de “motu proprio” ou solicitada, se desdobrou neste findante 2023 e trouxe ou levou para brasileiros e estrangeiros programas via Internet com palestras, exposições, declamações de professores e outros convidados, todos ao redor do agradável calor da fogueira literária e linguística, educacional e jornalística, historiográfica e científica de Gonçalves Dias.
À minha frente, a quantidade de textos concorrentes do “Concurso Gonçalves Dias” do Institut Cultive toma conta de nada menos que 196 páginas impressas, nas quais verso(s) e prosa poematizam e proseiam em torno da Poética, da Estética e até da Ética do Homem e Obra gonçalvinos.
Seja no texto simples, na poesia de menor esforço ou na prosa de maior pesquisa, o que é comum a todas as composições — além de serem e saberem-se concorrentes entre si – é um sadio desejo de agradecer ao Poeta por iniciar, nos meados do século 19, o jeito brasileiro de se escrever em português. O científico, o educacional, o fonético, o histórico, o morfológico, o psicológico, o semântico, o sintático, o social e coisa e tal estão na obra sempiterna desse (e)terno Poeta, desse exigente pesquisador, desse pioneiro, precursor e inaugurador do Brasil na literatura de Língua Portuguesa.
Que o olhar do leitor para os textos a seguir vejam além das linhas escritas e repare nas nem sempre escondidas intenções dos Autores de, em primeiro lugar, cada um à sua maneira e com seus recursos linguísticos e literários, quererem homenagear o mais nacional dos poetas nacionais, o maranhense, o caxiense Antônio Gonçalves Dias — (en)cantador do Brasil.
Uma resposta
Belíssimo prefácio. Justa homenagem ao peta Gonçalvino