domingo, 10 de novembro de 2024

IDE E PREGAI

Publicado em 26 de dezembro de 2023, às 10:44
Fonte: EDMILSON SANCHES é membro da Academia Maranhense de Ciências, do Conselho Regional de Administração, do Conselho Regional de Contabilidade, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Internacional de Literatura Brasileira (Estados Unidos), do Instituto Histórico e Geográfico e Academia de Letras de Caxias, e de Academias de Letras dos Estados do Maranhão, Pará, Espírito Santo e São Paulo.
Imagem cedida pelo autor.

Não sou Cristo, mas estou certo de que meu reino também não é deste mundo. Tenho saído por aí, indo e pregando sobre uma esperança que não sei quando se realiza, um mundo que talvez não se construa. Mas essa é a minha mentira particular, contrapeso e contraponto para uma verdade real que fere, machuca, aniquila e, quase sempre, desguiada, não conduz à Verdade maior, primeira e última, essencial.

Tenho semeado coentros e aroeiras, pois é necessário, em alguns casos, que se colha amanhã o que se plantou ontem  — não pelo resultado da colheita, mas pela necessidade de mais sementes. Em outros casos, é indispensável semear aroeiras, sequoias e baobás, de antemão sabendo que o semeador dessa semeadura nada colherá; entanto, o mundo não é feito só de semeadores, mas de quem, depois deles, se acolherá sob a copa das imensas árvores que brotaram, vingaram e, frondosamente, se estabeleceram e montaram guarda ao longo das estradas da vida.

A vida são escolhas, e todos temos de pagar o preço das opções. A alternativa ética, do conhecimento, da pregação utópica, tem cobrado alto dos que a preferem. Não é fácil não acocorar-se em terras de sapo. Não é fácil não dançar conforme a música. É preciso manter seu próprio nome consigo, e não ser uma maria-vai-com-as-outras.

Recompensa? Não se sabe. Também não se espera. Pelo menos, não no lado de cá, insustentável pela leveza do ser e pelo peso do ter. Onde patrimônios aumentam conforme diminui a personalidade. Onde não se contratam trabalho, mas compram-se pessoas – mas, se há pessoas que têm preço, ainda existem seres humanos que têm valor. Valor dá-se a gente; preço, dá-se a coisas. E quando gente se coisifica, não recebe título, mas rótulo; o que a distingue é a etiqueta com o cifrão capital, não a tarja com a unção divinal.

Aos que insistem, e não se dobram, a possibilidade de, um dia, do lado de lá, o Ser Superior aproximar-se e, com o polegar untado de santo óleo, fazer o sinal-da-cruz na fronte do ser menor, dizendo-lhe: “Eu o abençoo, meu filho, por, pelo menos, ter tentado o máximo possível aproximar-se da Minha imagem e semelhança”.

Aí, os que não tentaram se prostrarão.

Então, ide. E pregai.

Amém.

E amem-se.

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