A vida no sentido amplo da palavra é dualidade, está em constante transformação, aliás basta estar vivo para que todas as mudanças ocorram, como dizem “a vida é um estalar de dedos” e tudo pode mudar. A vida é movimento, assim como a escrita, assim como a poesia. A poesia é vida expressa em versos que transformam o mundo. É na poesia que podemos nos expressar, é nela que reside todos os lamentos, todos os dissabores e todas as agonias, mas, é nela também, que está toda a bela beleza da vida, seja o lado bom, seja o lado ruim, ou seja, a poesia é dualidade.
“A poesia é um aceno da palma da mão”. Essa é uma frase de autógrafo do poeta Paulo Rodrigues para outro poeta (José Neres) de sua mais recente obra, A claridade da gente (Penalux, 2023, 106 páginas),livro em que o poeta traz à tona um grito de alerta à necessidade de sobrevivência do homem: em UMA HERANÇA PARA FILÓ o patrão cuspiu no jardim./arrancou as flores/das melancias/e dançou/como se emplacasse/um gol./derrubou os sonhos,/as cercas,/a paz./(só os olhos do lavrador/resistiram)./o fogo/devorou a casa/e a filha mais nova./a foice abriu/o proprietário/ao/meio/e a propriedade/não faliu. Sabemos que a poesia é uma das ferramentas mais ávidas à crítica social, nela o autor pode e dever dizer tudo aquilo que está preso na palavra.
O caxiense Paulo Rodrigues é graduado em Letras e Filosofia e, como a maioria dos poetas, é um artista da palavra, ele sabe “brincar” com as palavras para dizer ao mundo o que está oculto para que todos consigam enxergar o que é (in)visível aos olhos. O autor de O Abrigo de Orfeu, e outras tantas obras, é Membro da Academia Poética Brasileira e recentemente entrou para a Academia Caxiense de Letras. Em A claridade da gente ele passeia por todas as mazelas da sociedade em geral como, por exemplo, no poema REFORMA AGRÁRIA, onde o filósofo mostra a dor do homem do campo: Pedro e Luciana abraçam/a castanheira/como se fosse uma menina/recém nascida./retiraram o feijão/da mochila com cuidado./as formigas passeiam entre os seios,/ele pensa nos filhos/e nem percebe./os tiros atravessaram/os dois, na mesma altura./as mãos unidas/em comunhão com as folhas./o assassino revirou o lixo/do lado de dentro;/colocou uma rosa/ao lado da marmita.
Carregado de personagens reais e fictícios, A claridade da gente é uma obra que parece que é mesmo da gente, nos faz sentir íntimos com o texto, pois em cada poema é uma corrida às pesquisas para saber de quem se trata, incentivando o leitor a ir atrás deste ou daquele personagem. É uma obra recomendada para todos os públicos que têm o mínimo de curiosidade sobre os acontecimentos ou mazelas de seu lugar, de seu país, embora o autor não mencione nomes geográficos, mas o que fica de verdade é o amor à terra, à vida, à literatura e à boa leitura.
MINHA VEZ
comigo foi cinema
cigarro barato,
jornal do dia
anterior.
só depois
cultivei paixões
e sorrisos
de plásticos.
Paulo Rodrigues
Uma resposta
Belíssimo texto!!! Parabéns!!!