segunda-feira, 7 de outubro de 2024

II Encontro de Parteiras Tenetehar e o Instituto Tukàn

Publicado em 4 de novembro de 2023, às 13:01
Fonte: Fabio José Cardias-Gomes. Docente-pesquisador de Psicologia na UFMA-Imperatriz. Psicólogo Clínico e do Exercício e Esporte.
Traditional african village with clay houses in Senegal, Africa.. Imagem: FreePik Premium.

No dia 19 a 23 de outubro de 2023, na aldeia Lagoa Quieta, TI (Território Indígena) Araribóia, perto do município de Amarante, Sudoeste do Maranhão, Amazônia oriental maranhense, foi realizado pela Associação comunitária Nayrui Taw, o II Encontro de Parteiras Tentehar, idealizado pela matriarca Maria Santana Tentehar(Guajajara). Participamos eu e o professor Guilherme Pessoa Júnior, dentre outras pessoas que apoiam a causa, como antropólogos, enfermeiros, ativistas, etc.

Reuniu mulheres povos Tupi tentehar e povos Jê de TIs do sudoeste e centro do Maranhão, que possui cerca de 14 etnias. Houve troca de etnosaberes sobre o parto entre as mulheres, principais atoras sociais desta prática de saúde e bem-estar, com profundo sentimento de acolhimento e responsabilidade. Vale notar que as parterias muitas vezes atuam em situações de dificuldades, não são remuneradas e em que pese o reconhecimento seu pagamento é um simples agradecimento. Mesmo sem qualquer apoio de profissionalização, salvam vidas, trazem a luz recém nascidos de sua etnia, acolhem a dor do parto, a mulher gestante.

A matriarca da aldeia, Maria Santana Tentehar(Guajajara), é idealizadora do encontro, é parteira desde os 20 anos de idade, já realizou por volta de 775 partos no Território Araribóia, é fundadora da aldeia Lagoa Quieta, é tia de Sônia Guajajara e mãe de mulheres lideranças importantes como Cíntia Guajajara, dentre outras. Sua preocupação é passar adiante seu conhecimento acumulado às parteiras mais jovens, pois não é uma atividade fácil, também não remunerada, e de grande reconhecimento social na aldeia, porém exige vocação e não querer nada em troca, recebendo algum agrado de famílias humildes que estão longe de um hospital público urbano.

São incríveis mulheres biomas, mulheres territórios, mulheres sementes…

Na ocasião da nossa visita-técnica ao evento, também estendemos visita ao mais novo Instituto Tukàn, a primeira universidade indígena, para indígena e idelaizada por indígenas no Território araribóia, em especial do casal Silvio Guajajara e Fabiana Guajajara.

Também conhecido como o Centro de Saberes Tenetehar Tukàn é um espaço de autonomia social e difusor de conhecimentos tradicionais aliados aos convencionais. Trabalham com a educação bilíngue, tupi-guajajara e português, com crianças, jovens, adultos e idosos. A instituição pretende se tornar a primeira universidade em um território indígena, recebe apoio de instituições regionais e do governo estadual para a sua construção. Conversamos, eu e professor Guilherme, com os seus idealizadores Silvio Guajajara e Fabiana Guajajara, que como sempre nos acolheram e outras pessoas interessadas, com a hospitalidade indígena. Esperamos colaborar como indigenistas, pesquisadores-acadêmicos e caboclos, pois o local permitirá parcerias com a causa e está localizado perto da aldeia Lagoa Quieta com três importantes fontes de água de três rios da região: Buritizinho, Buriticupu e Sacro…claro que banhamos nos igarapés e sentimos no nosso corpo, também ancestral, as energias de tão magnético local…sucesso ao Tukàn(Tucano).

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