—– Que segredos tem a Política, que forças guarda o Poder, de que relações corruptas se compõe o “Sistema”, do federal ao municipal, a ponto de transformarem políticos bem-intencionados em negocistas mal-afamados?
—– Ao longo dos tempos, tantas perguntas… quantas decepções… nenhuma resposta…
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A palavra “idiota” chegou à Língua Portuguesa por meio do Latim, com origem no grego “ídios” / “”idiótes” e tem o sentido original de “próprio”, “particular”, “peculiar”.
A palavra “patriota” chegou à Língua Portuguesa por meio do Latim, com origem no grego “patriôtés” (e ascendência na língua indo-europeu) e tem o sentido original de “que pertence ao mesmo país”.
A datação, para a Língua Portuguesa, registra que a palavra “idiota” tem registro em nosso idioma a partir do século 15, e a palavra “patriota”, a partir da primeira metade do século 19, especificamente, 1836.
Portanto, é a esse viés linguístico que se aproxima este texto, e nada tem a ver com a ululante e pululante dicotomia ou dicopodia que criaram (ou que aprofundaram, negritaram, maximizaram), que alimentam e em que se apoia grande parte dos milhões de pessoas do Brasil.
Portanto, os muitos “dicotômicos” que não se respeitam mutuamente ao menos respeitem as palavras, em sua beleza ou, ao menos, em sua “inocência” ou pureza de sentido(s) original. As palavras (e nem este texto) não querem vencer nada nem convencer ninguém — afinal, para quem é “adversário” disto ou daquilo, nenhum argumento é suficiente; e para quem é “admirador” daquilo ou disto, nenhuma palavra é necessária. Toda pessoa tem o direito de ir pro inferno em paz… (Aos navegantes, esta frase “forte” quer dizer que cada um é responsável por atos, escolhas, sua vida e o que mais).
Vale lembrar que, na dialética de Platão, “dicotomia” ou “dicopodia” tinha a ver com “coisas” que são contrárias e, ao mesmo tempo, complementares — como exemplos, mulheres e homens, alma e corpo…
Portanto, é claro e evidente (que cachorro só morde porque tem dente — brincadeira: são palavras que eu ouvi em tempos de criança e a memória mas recuperou agora…). Retome-se: Portanto, é claro e evidente que a sadia “contrariedade” e a sadia “complementaridade” dos tempos platônicos diluíram-se ou se dissiparam, muito a muito, no decorrer dos quase nunca produtivos (para a Nação) comportamento(s), embates e, vá lá, debates de uns anos para cá. Em geral, a Política (com “P” maiúsculo) “evoluiu” de conluio de gentes interesseiras para um estranho jogo, técnica ou arte de fazer ex-amigos — ou, ainda e infelizmente, em um espaço ou fórum de defesa do que alguém acha e não de um país que, é visível, se racha…
Dito isso introdutoriamente, relembremo-nos de que aquelas duas palavras (“idiota” e “patriota”) são o que são — palavras. Palavras com séculos de existência, palavras antigas, velhas palavras. Então, aprendamos a respeitar os mais velhos…
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Péricles é o nome de um estadista nascido na Grécia, 495 anos antes de Cristo nascer. Foi líder do partido democrático de Atenas, foi eleito e reeleito várias vezes, acumulando a administração civil e militar ateniense. Sua terra, sob seu governo, alcançou a maior projeção política, econômica e cultural em toda a sua história.
Péricles foi consagrado como a maior personalidade política do século 5 antes de Cristo. Tão profundamente marcante foi sua participação na vida de sua comunidade que o tempo em que ele viveu foi denominado “O Século de Péricles”.
Foi esse político de antigamente — e já não se fazem mais políticos como antigamente… – que inventou a palavra “idiota” e a aplicou aos habitantes da cidade que só se preocupavam com seus próprios negócios, com os assuntos privados, os interesses particulares, suas próprias “coisas”. A palavra “idiota” vem daí, já que, em grego, “ídios” significa “particular”, “privado”, “separado”.
Desse modo, “idiota” não é propriamente aquele que é tolo, ignorante, estúpido. Idiota é o a pessoa que só quer saber de seus próprios interesses — ideologia, grupo, pessoas, nomes, patrimônio, vida…. Não está nem aí pro resto.
Assim, e relembrando e respeitando a Etimologia, pode-se dizer que, numa comunidade existe o IDIOTA (o que só cuida de si e de seus “interesses”) e o PATRIOTA (aquele que se preocupa também com a terra em que está, aquele que ama a terra em que vive e a ela presta relevantes serviços, de interesse coletivo, de espírito comunitário).
Uma cidade, um país, qualquer lugar precisa que seus “idiotas” se transformem em “patriotas”. De estudantes que não estudem só para “passar” e ter um diploma ou certificado, mas para compreender sua terra e sua gente e com ela dividir o produto de seu aprendizado e o resultado de seus esforços pessoais e profissionais.
Uma cidade, um país, um lugar precisa que seus “idiotas” procurem ser, mais, “patriotas”. Precisa de mais empresários e empreendedores que não busquem no apoio a candidatos, na vida política e nos cargos públicos apenas mais o fortalecimento do próprio ego, a ampliação de seus próprios negócios, a “contraprestação” em empregos e (i)licitações, os salamaleques da proximidade ao poder e uma certa “blindagem” política contra eventuais ações fiscais, tributárias e, até, criminais.
Toda comunidade precisa que certos “idiotas” demonstrem verdadeiramente que são “patriotas”. Precisa de gestores que utilizem a política para fazer Administração Pública. Mas não precisa de gente que use a administração pública para fazer política — nem fazer crescer seu patrimônio pessoal ou grupal ou político e coisa e tal.
Toda comunidade precisa que incertos idiotas demonstrem que são, em espírito e carne, aquilo que destilam em tese: patriotas. Que, à luz do poder do dinheiro e do dinheiro do Poder, não facilitem nem permitam a construção, por formas diversas, transversas, de “pequenos” e grandes desvios que beneficiam uns e outros e são pecados aos olhos da Lei de Deus e do deus-Lei.
Que segredos tem a “Política”, que forças guarda o “Poder”, de que relações corruptas se compõe o “Sistema”, do federal ao municipal, a ponto de transformarem políticos bem-intencionados em negocistas mal-afamados?
Que idiotices (isto é, que interesses pessoais) tão fortes escondem-se na alma de políticos vencedores a ponto de se transformarem em meros mercadores das expectativas humanas, em desgraçados dilapidadores de recursos públicos?
Por que é que, em geral, um político com mandato sempre parece acumular mais bens privados e nunca nos convence de que não se serviu do Bem público?
Que “criatura” é essa, a Política, que se torna maior que seu criador, o ser humano, e o deforma?
Ou, inversamente, que criador é esse, o ser humano, que se torna maior que sua “criatura”, a Política, e a deforma?
Que fome é essa que se instala,…
…que voracidade é essa que se amplia…
…e que cinismo é esse que a tudo anestesia, enquanto a corrupção, como rotundo rato roedor, vai roendo e rindo, roendo e rindo, rindo e roendo?…
Por que é que, em nome da Política, as pessoas de Bem já não mais estranham a improbidade, a apropriação, a malversação, o desvio, a concussão e todos os demais crimes dos estelionatários de/com mandatos?
Que tendência é essa rumo à passividade, ao comodismo, à aceitação do que não presta, do que não é bom e útil para todos de uma comunidade, de uma Nação?
Que falta de espírito de luta, de exercício dos próprios direitos e deveres, que ausência de combatividade, que estranha omissão, que conveniente desinteresse é esse pelos destinos de sua terra?
Quanto excesso de “idiotia” e quanta carência de “patriotismo”!…
Uma comunidade em que pessoas se preocupam mais ou apenas com seus negócios, seus interesses, sua própria vida, é uma comunidade que favorece o surgimento de falsas lideranças, o aparecimento de déspotas travestidos de santos, e favorece a instalação de oligarquiazinhas e grupelhos alimentados — e, seguidamente, adubados — pelos próprios recursos públicos, que deveriam retornar mais, melhor, e integralmente, para todos.
Toda comunidade tem direito a um sinal de alerta, um botão de alarme, uma buzina de despertar. Mas, para isso, as pessoas têm de se interessar mais pelas outras pessoas.
É preciso que um maior número de pessoas se envolva conscientemente, verdadeiramente, com as coisas e causas de sua comunidade. Que ajam e reajam. Que não se desliguem, que se informem, que criem condições para não deixar que aquilo e aqueles que não prestam não se plantem em nosso chão, ou não prosperem em nossa terra.
É preciso ter menos idiotas.
É urgente ser mais patriota.
(P. S. – Para quem chegou até aqui e ainda está com certa ideia fixa acerca de umas duas palavras, substitua-se, para simplificar, uma delas pelos substantivos “corrupção” e “incompetência” e, a outra, pelos substantivos “competência” e “punição”. A propósito, uma curiosidade a mais, para tornar sabido que crime e castigo, entendimento e desentendimento são unidos por uma conjunção chamada “e” mas desunidos pela convenção chamada tempo. Isso mesmo: em Língua Portuguesa, a palavra “corrupção” é do ano 1344, portanto, século 14; a palavra “punição” é do século 15. Como se vê, como se lê, não se espere compreensão (na leitura) nem compensação (por crimes): a Justiça é lenta, demora muuuuito — e, até por isso, passa a ser injustiça. A Justiça sequer vem mais a cavalo. Vem assentada em cágado… acentuado).
EDMILSON SANCHES
Administração – Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura // PALESTRAS, CURSOS, CONSULTORIA
2 respostas
Calibragem linguística e esteticamente precisa entre dois extremos comportamentais.
Só pode ter sido assinada por Edmilson Sanches.
Uma só palavra resume o texto….brilhante