Não basta mais existir profissionalmente 8 horas por dias, cinco ou seis dias úteis por semana, offline. Agora também há certa exigência em ser um profissional, independente de qual área, de maneira online, 24h por dia.
Os nutricionistas dão dicas de dieta; os psicólogos respondem dúvidas e pedidos de conselhos de seguidores; os profissionais de comunicação mostram como fazer a nova trend; os advogados leem casos de possíveis clientes; o médico grava vídeos com informações relacionadas à saúde; etc e etc. Nenhuma área escapa mais dessa tiktozação das profissões, onde sua competência não é mais medida apenas por seu currículo ou experiência, mas pelo número de seguidores e conteúdo relacionado ao seu trabalho você possui nas redes sociais.
Usar suas próprias plataformas para compartilhar aquele meme, ou momentos íntimos da sua vida privada está se tornando “cringe”, e o que se posta em seu perfil está sim sendo julgado e determinando não apenas sua vida privada, mas a profissional, de forma inegável.
Se antes o seu currículo precisava apresentar endereço, telefone, email, hoje também é obrigatório acrescentar o pequeno @ das suas redes sociais. Futuros contratantes e RH avaliam o seu perfil antes de determinar se você fará ou não parte da empresa. E mesmo após a contratação, não se engane, você continua sendo monitorado. Compartilhar conteúdos da empresa, e participar de dancinhas e trends são hoje o novo “vestir a camisa” e mostrar proatividade pela sua profissão e carreira.
Você sabia, que segundo pesquisa, da WE Marketing Médico, as buscas por médicos na internet subiram, em média, 50,58% nos últimos 4 anos? Ou seja, hoje é tão comum procurar um novo profissional de saúde pelo Instagram, TikTok e outras plataformas, que de forma tradicional e offline. E isso se aplica também a outros profissionais. Quantos de nós não encontramos algum serviço buscando pelo perfil nas redes sociais?
Já não basta fazer um curso, uma faculdade, se especializar, se aperfeiçoar e executar bem a profissão que escolhemos, é preciso transmitir isso de forma online de maneira atraente para os seguidores. Além da necessidade da compra de equipamentos para uma imagem de qualidade, é preciso ainda dominar técnicas de comunicação, que nem todos possuem, e nem deveriam, dependendo da sua profissão. Não ter o carisma para ser um influencer na sua área de atuação já te deixa para trás neste novo mercado à la Black Mirror.
Mas para mim, o mais preocupante na Tiktokzação das profissões é como a vida privada vai ficando cada vez mais inexistente, e o espaço para ser você mesmo, longe da sua profissão, está cada vez menor e claustrofóbico. Onde vamos respirar e despir nossa persona do mundo corporativo? Uma pergunta cada vez mais difícil de responder.