segunda-feira, 7 de outubro de 2024

LITERATURA MARANHENSE EM FOCO #001 – Vida – do nascer, amar, envelhecer e nunca morrer, porque a vida é voo (Pequeno ensaio sobre a poética de Dilercy Adler e Márcia Luz)

Publicado em 5 de agosto de 2023, às 9:54
Fonte: Ana Elizandra Ribeiro (Anna Liz) – poeta, cronista e professora. Tem participação em quase 100 antologias, nacionais e internacionais. Já publicou oito livros solo e organizou duas antologias com obras de 25 escritoras maranhenses. Recebeu vários prêmios de Literatura.  Atualmente, é presidente/coordenadora da Associação de Jornalistas e Escritoras Brasileiras, coordenadoria Maranhão/AJEB-MA.

Pois que a literatura é, para nós, o lugar em que assentamos a nossa fala, dizemos o que somos, o que sentimos, o que nos aflige e o que nos leva ao prazer ou prazeres. Escrever é um serviço, quem escreve está ao dispor do outrem. E hoje, conheceremos um pouco mais de duas escritoras maranhenses, Dilercy Adler e Márcia Luz, duas mulheres que se lançam na literatura, como quem se joga do alto de penhasco, ou melhor, do céu, não para cair, mas para continuar sonhando, esperançando, amando, voando. Com linguagem fluida, acessível, leve, por vezes, pontiaguda, essas escritoras cantam a vida, o ufanismo, o amor idílico, sacro/profano, a família, a morte e nos asseveram “a linguagem da poesia não pode ser reduzida ao âmbito dos exercícios da razão”.
Ainda olhando por esse prisma, a poética das escritoras faz-me pensar nas inúmeras funções da literatura, dentre elas, destaco:
SONHAR – a literatura nos transporta, provoca alegria ou tristeza, diverte ou emociona – nos permite viver, sentir emoções e sensações. Note-se nos seguintes trechos do poema “meus quinze anos” de Márcia Luz:

todo sonho de adolescente
ao completar 15 anos
é uma festa rodeada de príncipes e princesa
(…) ou fazer uma viagem para lugares longínquos
mesmo para quem é de Caxias e de uma família
com 10 irmãos, o sonho não poderia ser diferente (Márcia Luz).

REFLETIR – A literatura não tem o poder de modificar a realidade, mas é capaz de fazer as pessoas reavaliarem a própria vida e mudarem de comportamento. É o que vemos nos poemas “mãos estendidas e fique atento” de Dilercy Adler:

Mãos estendidas
ele me olha
enternecida observo
olhar tristonho
tez amarelada
barrigudinho
pés descalços
não cheira bem…
e dos seus olhos grandes
quase esbugalhados
duas lágrimas começam a rolar…

Fique atento à criança
sem escola na rua
fique atento à dor
nas calçadas expostas e cruas
fique atento
aos que deviam proteger e violentam…
fique atento
à falta de amor neste planeta!.

Além dessas funções da linguagem, sobre a poética delas, vale destacar a metapoesia. O fazer poético é um ofício ora enaltecido, como no poema “Ser poeta” de Márcia Luz, quando ela diz

é um ser lindo e inteligente
faz o melhor trabalho: poetar
invade o íntimo do leitor
desperta curiosidade os seus escritos

ora lugar de diálogo, em que a poeta é instrumento, como diz Dilercy Adler no poema “Poesia” :

eu me calo
quando me falas
eu sempre grito
as tuas dores
mas também digo
os teus prazeres
e ainda bendigo
por me fazeres teu instrumento.
Outra tônica da produção literária de ambas é o amor. No poema “Percurso do amor” de Márcia Luz, por meio da enumeração, a poeta mostra a dialética do convívio amoroso:

viagem
decisão
chegada
telefonema
jantar
carinho
passeio
fotos
festa
dança
praia
lanches
aconchego
direção
presentes
calmaria
mar
abraços
beijos
e….

Ao passo que na poesia de Dilercy Adler, convivem o sacro e profano, como percebemos em

da linguagem erótica
recrio liturgias
procissões
santos e rezas
que se pretendem assépticos e no entanto
mostram-se
contagiam-se
e nos contagiam/com seus venenos.

Dilercy Adler ainda traz reflexões importantes e necessárias sobre dois fatos de nossas vidas, o envelhecer e a morte, vejam no poema “amarga rotina”:

envelhece a pele
envelhecem os olhos
a saudade e a alma…
envelhece sem chama
com uma calma velada
que até aborrece.

E em epitáfio, apesar de falar sobre a morte tem um tom de esperança:

Joguem as minhas cinzas do alto
para que eu possa continuar
contemplando
sonhando
esperançando
abençoando

amando! –

Joguem as minhas cinzas do alto
para que eu possa continuar voando!.

Porque é isso mesmo, a poeta não morre, mas se eterniza na sua palavra. E assim, podemos dizer que escrever é o jeito que essas mulheres, escritoras de excelência, encontram para eternizar suas passagens pelo mundo e pelos mundos de outras pessoas.

Texto Publicado, simultaneamente, no jornal O Progresso:

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