Na disputa com Gênesis de livro mais antigo da Bíblia, o Livro de Jó é importante não só, no dizer de Alfred Tennyson, por ser o “maior poema dos tempos antigos e modernos”, mas pela sua constituição histórica. O Gênesis, pelas pesquisas realizadas até agora, teria sido escrito pelo profeta Moisés cerca 1400 anos antes do nascimento de Cristo. Pesquisadores foram a fundo, e mesmo com controvérsias, garantem que Jó foi escrito pelo menos 500 anos antes.
A obra inaugura os chamados livros poéticos e sapienciais da Bíblia, que chamam a atenção pela beleza, harmonia e emoção a partir da relação de amor entre Deus e seu povo, sem falar na expressão dos sentimentos mais verdadeiros para com o Criador. Jó, é assim, um livro cheio de sentimento e emoções. Mas não deixa de ser um livro também histórico, e até certo ponto atual, apesar de seus mais de quatro mil anos.
Quando se conclui a leitura de Jó aparecem logo mil perguntas.A primeira delas é quantas lições são possíveis extrair dessa obra?
Pergunto e logo respondo: depende de como a leitura é feita, e da forma como o leitor recebe, trata e reflete aquele texto do Velho Testamento. De pronto, vejo ali um julgamento! O julgamento de um justo e consciente cidadão da sua inocência, e que mesmo diante do sofrimento extremo em nenhum momento abriu mão de se manifestar/se defender, perante o Deus, que tanto amava, e os homens.
Lição nobre, a de jamais se calar diante de uma injustiça, principalmente quando a injustiçado é a própria pessoa.
Esta é apenas uma nuance do que pode ser extraído daquela poesia triste. Ló, um homem reto, sincero, e temente a Deus e que procurava sempre se desviar do mal. A trajetória de um homem cuja fé em Deus é testada ao extremo. Perde a família inteira, toda fortuna. Fica na miséria e doente. E tudo porque o “cramulhão” numa conversa com Deus insinuou que a fidelidade dele residia, em outras palavras, ao fato de levar uma vida farta e abundante. Manipulador, satanás convence a Deus a lhe autorizar estender a mão contra Ló e dele tirar-lhe tudo
“Toca-lhe em tudo quanto tem e verás se não blasfema contra ti na rua face” disse o diabo, levando assim o desafiado Criador a permitir que tudo de Jó, menos a vida, fosse retirado.
Infere-se que tal permissão só ocorreu por conta da confiança que Deus tinha em Jó, seu servo fiel. Dessa forma, ele não O traiu no momento em que se insurgiu por conta da injustiça a que julgava submetido.
Veja que o carretel de desgraças contra o homem da Terra de Uz fora carreado por Satanás com a autorização do Pai. Tamanho sofrimento que em determinado momento o pobre Jó desejou até nem ter nascido.
A partir do toque do maligno inicia-se um verdadeiro julgamento. No tempo de Jó passar pelo que passou era sinônimo de castigo por algum pecado contra Deus, e nesse quesito ele dizia-se um inocente convicto a ponto de se insurgir, e em sua defesa questionar o Criador, e contraditar os amigos que o acusavam e o instavam a aceitar que havia pecado, e que pelos pecados estaria sendo castigado.
O que se desnuda no conjunto do texto é um verdadeiro julgamento. Jó aparece como o réu, seus os amigos como acusadores, Deus como o grande magistrado e Satanás como espectador e o verdadeiro causador de toda aquela desgraça.
Jó, mesmo depois reconhecendo/se arrependido das blasfémias proferidas, deixou registrada sua indignação. Não se calou!
Outros questionamentos poderiam ser feitos, mas fica aqui só mais um, para encerrar? Se Jó tivesse ficado calado e aceitado passivamente aquela desgraça que se abateu sobre ele será que o Grande Magistrado o teria perdoado e devolvido, em dobro, tudo que o diabo dele havia tirado?
2 respostas
Parabéns Elson pela sua pesquisa e escrita leve e compreensiva! Adorei o texto e a ideia de comparação aos dias atuais!
DEUS te abençõe e te ilumine!
Obrigado, estimada leitora. Um abraço fraterno!!