Por: José Ribamar Silva – Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz. Mais informações no Instagram: @IHGI.ITZ.
O primeiro texto da série Imperatriz Memórias, uma iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz (IHGI), traz reflexões sobre a fundação, os conflitos e os escritos sobre a cidade, conhecida como portal da Amazônia.
Imperatriz, Estado do Maranhão, foi fundada em 16 de julho de 1852, por frei Manoel Procópio do Coração de Maria que, por seu conhecimento no trato com indígenas, foi contratado pelo governo do Pará para fundar uma colônia militar na fronteiro das províncias do Maranhão e Pará, portanto neste ano de 2023 faz 171 anos. Por muito tempo Imperatriz foi apenas uma pequena e acanhada vila acocorada à margem direita do rio Tocantins a mirar-se eterna no azul do espelho das águas deste caudaloso rio.
No entanto, no final da década de 1950, com a construção da rodovia Belém-Brasília, a antiga Vila Nova da Imperatriz, que se emancipara do território do Município de Grajaú através da Lei no 1.179, de 22 de abril de 1924, quando administrava o Estado o governador Godofredo Viana, se espanta com a quantidade de migrantes que para cá vieram em busca de terras devolutas, para a partir delas, fazerem fortuna. Imperatriz foi construída na área de intersecção entre dois biomas: o Cerrado e a Amazônia.
Os migrantes que se instalaram na região contribuíram com o progresso da ainda pequena cidade, mas ao mesmo tempo provocaram terríveis danos ambientais e instalaram um clima de violência que perdurou por longo tempo, seja pela disputa da terra, seja pelo crime de encomenda pelos mais diversos motivos, tanto que Imperatriz tornou-se conhecida nacionalmente como a terra da pistolagem.
A literatura de Imperatriz teve sua gênese como o escritor indianista Manoel de Souza Lima que nasceu no dia 15 de agosto de 1889, em Imperatriz-MA e faleceu em Boa Vista – GO, hoje Tocantinópolis – TO, em 10 de julho de 1942, o primeiro filho de Imperatriz a ter obras publicadas.
Há enorme lapso de tempo entre o surgimento do primeiro escritor de Imperatriz e a primeira escritora a ter um livro publicado na cidade de Imperatriz, a historiadora Edelvira Marques de Moraes Barros, que trouxe aos olhos da população a obra Eu Imperatriz em 1972. No entanto, no final do último quarto da década de 70, tem início a publicação de obras de autores locais em livros e jornais.
No início de 1980, aqueles que se dedicavam às manifestações artísticas e culturais começaram a se organizar em instituições como a Associação Artística de Imperatriz – Assarti, e mais tarde, um pequeno grupo escritores começou a se reunir e fundou o Grupo Literário de Imperatriz. Criava-se o espaço adequado à reflexão sobre a triste realidade de uma das cidades mais violentas do Brasil. Esses escritores surgidos na década de 1980, insurgiram-se contra essa violência e transformou sua pena em arma e seu discurso em cidadela, em trincheira de resistência. Pronto. Pode-se afirmar que esse foi o momento em que, realmente, se inventa uma literatura local com finalidade prática: o contraponto da arte literária à cultura de violência que expropriou famílias de camponeses de suas terras e ceifou muitas vidas ao longo do tempo.
Atualmente, Imperatriz abriga uma população de 273.110 habitantes, conforme dados do Censo de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. É a segunda cidade do Maranhão em termos de população e economia. Possui uma grande quantidade de escritores que publicam com frequência, tanto que sua Academia (Academia Imperatrizense de Letras – AIL), com quarenta cadeiras, promove um dos maiores Salões de Livros do Nordeste e Norte do Brasil. As últimas edições do Salão do Livro de Imperatriz tiveram sempre uma visitação superior a cem mil pessoas e o volume de venda tem superado a cifra de dois milhões de reais. Quanto à violência, ela existe. Porém, é um fenômeno característicos das cidades médias brasileiras e não mais patrocinada pela grilagem e a pistolagem.