Por; Hyana Reis – Jornalista e escritora.
Um dia inteiro sem produzir, sem ter grandes ideais, sem uma lista de afazeres, apenas praticar o nadismo: a arte de fazer nada. Pode parecer um sonho para a maioria, exausta da rotina que nos exige tanto. Mas, não se engane, tal prática pode se converter em um verdadeiro pesadelo.
O que pode ser um descanso para o corpo, facilmente vira um transtorno para a mente. Em um mundo que nos cobra ocupações cada vez maiores (trabalhar, estudar, aprender uma nova língua, fazer exercícios, escrever um livro, ter um hobbie, etc e etc), o simples ato de estar desocupado pode causar uma tremenda sensação de culpa. O que, por fim, acaba por não permitir realmente aproveitar um momento de nadismo.
Essa necessidade de produzir parece que se agravou ainda mais no período de isolamento, onde se criou uma sensação que estar apenas em casa lutando pela própria sobrevivência não era o suficiente, era preciso sair de um dos piores momentos da história com algo mais para apresentar no currículo. Fomos tomados por uma positividade tóxica que nos envenena até hoje, e pode deixar tantas sequelas quanto o vírus.
Para mim, se tornou impossível apenas sentar e apreciar o nada. Se meu corpo para, minha mente produz ainda mais: uma série de pensamentos de culpa que não me deixa descansar. “Eu preciso escrever um novo livro; aprender mais uma língua; estudar mais o francês, o inglês; aproveitar o tempo livre para executar alguma tarefa pendente…”, e por aí vai.
Parece que toda nossa existência precisa estar focada na próxima conquista, e não nas que já alcançamos. Vivemos no futuro. Não à toa, vivo em uma das gerações com maior índice de ansiedade, depressão, ansiedade e outros transtornos mentais. Eu mesma sou uma delas.
As pessoas nos parabenizam pelo que produzimos sem saber o quanto aquilo nos custou, da nossa saúde física e mental. E já perguntam pela próxima: quando vem o próximo livro? O próximo filme? Quando vem o mestrado? Terminou o mestrado, e o doutorado? Aprendeu espanhol, qual a próxima língua? Correu aquela maratona, quando é o próximo evento? E o próximo? E o próximo? E o próximo?
Estamos tão acostumados a lutar todo dia, que quando não estamos em batalha, nos perdemos no nosso próprio descanso. E eu me pergunto, afinal por que a pressa? Por que essa necessidade? Contra quem eu estou correndo, e qual o prêmio no final? Esperamos que seja a felicidade, mas no fim, pode ser apenas um burnout.
Por isso pratique o nadismo sem culpa, o nadismo faz bem!