Por: Vinicius Loiola Beserra – estudante de Letra Inglés, mora em Imperatriz há mais 40 anos, casado, bebeu água do rio e se apaixonou pela Princesa do Tocantins.
(Texto escrito com a ajuda do Google Voice, presente na suíte do Google Docs.)
Quem anda por Imperatriz hoje percebe uma cidade bastante dinâmica por conta do Frenesi, da ida e vinda vinda de veículos e de pessoas. A cidade é um importante que polo atacadista assim como de comércio de bens e de serviços destacando-se ainda no setor educacional com a presença de duas universidades públicas sendo uma Federal e outra Estadual, além da presença de três grandes grupos educacionais e de uma faculdade regional particular.
Também chama atenção na cidade o turismo de negócios, o que pude perceber bem de perto quando trabalhei como atendente de uma locadora de aluguel de veículos que hoje tem sua sede no aeroporto. Além disso, Imperatriz é uma cidade que reflete o modelo de um centro privilegiado em relação a uma periferia, dentro do contexto do capitalismo reprodutivista. Assim, se destaca na cidade o setor de prestação de serviços médicos, o setor de Comércio atacadista e de prestação de serviços educacionais.
Mas ocorre que eu tenho saudades de uma imperatriz provinciana que não existe mais, mas que existe somente na minha mente. Uma cidade das minhas memórias emotivas, uma cidade que se perdeu no espaço e no tempo e onde o ritmo de vida era bem mais lento. A minha Imperatriz provinciana era uma cidade onde quase todo mundo se conhecia, e que não tinha o Frenesi que se vê hoje em dia típico de uma cidade que reflete o capitalismo globalista.
Sim, eu tenho saudades da minha Imperatriz provinciana, de uma elite igualmente provinciana, das disputas de kart que eram realizadas ali próximo do camelódromo, ou então na próxima mané Garrincha, onde fica o estádio Municipal Frei Epifânio da Abadia. Tenho saudades daqueles jogos escolares, no qual a disputa principal era entre uma escola particular e o Graça Aranha.
A minha Imperatriz provinciana também era uma cidade arborizada pois só na rua de casa nós tínhamos o equivalente a um pequeno bosque e que aos poucos a partir do final da década de 90, foi sendo destruído por conta da mudança de mentalidade da população que passou a fechar as frentes de suas casas, por conta do aumento da violência. Tenho saudades daquelas ruas arborizadas da Coronel Manoel Bandeira, da Godofredo Viana, e das árvores da Uema, hoje Uema Sul que que se encontra menos verdejante.
Aquele Zeitgeist, aquele espaço-tempo não existe mais, pois a Uema hoje é a UemaSul, o antigo Amaral Raposo onde cheguei a estudaram gerações mais antigas eu estudei o último ano do segundo grau, só existe pela metade. O Antigo Cine Muiraquitã, ali na praça da cultura hoje abriga um restaurante. Assim aos poucos essa memória motivo vai se perdendo, mas ela não é somente uma memória minha ela é a memória da cidade, ela também é uma memória de amigos, ex amigos, colegas conhecidos, e de pessoas que já se foram.
Sim, eu tenho saudade daquela Imperatriz com ares provincianos, com a sua elite endinheirada, frequentadora do flyback, das modinhas dos anos 80 e 90, de um ritmo de tempo onde se podia dizer: “eu tenho tempo”, ao contrário de hoje em dia.
Eu tenho saudade daquela Imperatriz de ares provincianos onde não fazia tanto calor e onde você podia dormir com a janela aberta, pois a temperatura era tão agradável mesmo durante o verão que não precisava de ar condicionado ou de ventilador e ainda se usava pijama de algodão. É claro que naquele tempo as matas em redor da cidade eram muito mais frondosas e abundantes, ao contrário do que se tem hoje em dia, um mar de eucaliptos.
Daquela Imperatriz provinciana, resta ainda 15 de Novembro que já perdeu boa parte do seu patrimônio arquitetônico histórico, e que hoje é praticamente sempre nevrálgico da noite da cidade aos fins de semana. Essa é a única parte da cidade que ainda me lembra a minha Imperatriz de outrora que aos poucos vai sendo esquecida nas memórias daqueles que partem daqui pra lá ou daqui pra outros cantos.
A Imperatriz de hoje é uma cidade praticamente destruída que não se lembra do seu passado ou melhor que está se esquecendo dele. É uma cidade que reflete cada vez mais a marca de um tempo que é a sinteticidade e da transitoriedade, das relações humanas. Pois, Zygmunt Bauman que o diga. E assim, muitos que vivem hoje jamais conhecerão essa história é motivo, jamais terão acesso a memória do dia em que Imperatriz ganhou a sua primeira TV que fez história no jornalismo e que é a Mirante do Rio. Sim, eu tenho saudades da minha Imperatriz provinciana.
4 respostas
Uau! Até eu tenho saudades desta terra onde nunca coloquei os meus pés. Ao ler este artigo pude perceber como a geração de hoje se perde no tempo. O tempo acaba sendo rápido, que não aproveita aos detalhes, como é viver de verdade!! Parabéns ao escritor.
Obrigado Sarinha, venha um dia nos visitar!
Que lindo texto! Viajei no transbordo da sua emoção. Seres de luz intensos como você conseguem esta profundidade. Parabéns pelo texto!
Obrigado Liana, tenho muitas memórias de nossa Imperatriz provinciana que não existe mais.