Por: Artemisa Lopes (@artemisalopes_) e Laura Zacca (@lauraa_zacca), do Canal Luna Solis
Você sabia que existem dois arquétipos de personagem que se encaixam na definição de segundo personagem mais importante em uma trama abaixo do protagonista? Existe uma diferença básica entre eles. Na coluna de hoje, vamos explicar o que distingue o co-protagonista do deuteragonista. Confira a seguir alguns personagens da cultura pop que se encaixam nesses perfis e saiba como reconhecê-los.
Tanto o co-protagonista quanto o deuteragonista têm o papel de maior relevância depois do protagonista e do antagonista em uma trama. A diferença entre eles é que o deuteragonista toma decisões que afetam o enredo, assim como o protagonista, enquanto o co-protagonista costuma acompanhar o protagonista em sua jornada, por isso sua importância na história. Uma fórmula básica de identificá-los é tirar o personagem da “equação” — se a trama continuar funcionando, ele é um co-protagonista, pois eles podem ser substituídos. Mas, se com a ausência desse personagem não existir história, ele é um deuteragonista.
Em alguns casos, o co-protagonista pode ser um deuteragonista, mas nem sempre será o caso. Existem três tipos mais comuns de deuteragonista: o primeiro deles é o par romântico, que costuma ser um co-protagonista e deuteragonista ao mesmo tempo. Se esse par romântico toma decisões que afetam o enredo e não possui ponto de vista, ele é um deuteragonista e um co-protagonista, mas se a função dele na trama é ser apenas o interesse romântico, ele é só um co-protagonista. O segundo tipo de deuteragonista mais popular é o do mentor. Nesse caso, o mentor será um deuteragonista quando o protagonista é influenciado diretamente pelas decisões desse mestre. Ou seja, quando o protagonista é um peão desse mentor em um jogo maior. O terceiro tipo de deuteragonista é o rival. Esse arquétipo será um deuteragonista quando a rivalidade entre esse personagem e o protagonista mover a trama. Ou seja, nem todo rival é um deuteragonista. Conheça agora alguns desses exemplos em sagas famosas.
Rhysand, Peeta e Maxon são exemplos de deuteragonistas do estilo par romântico. Eles não funcionam apenas como interesse romântico das protagonistas, pois suas decisões são tão importantes quanto as de suas parceiras e afetam toda a trama. Porém, como não possuem ponto de vista para serem protagonistas assim como suas amadas, eles se tornam então deuteragonistas. Rhysand, por exemplo, é o Grão-Senhor da Corte Noturna. Sem ele, Feyre não teria se tornando a primeira Grã-Senhora da história de Prythian e, como consequência disso, não teria participado ativamente da guerra contra o vilão, Rei de Hybern. Ou seja, sem Rhysand, não haveria a história de Acotar. Na trilogia de “Jogos Vorazes”, sem os boatos inventados por Peeta em suas entrevistas com Ceaser para Panem, tanto ele quanto Katniss não teriam sobrevivido aos dois Jogos Vorazes em que participam. Já que eles só recebem patrocinadores graças às fake news dos “amantes desafortunados do Distrito 12” e a falsa gravidez de Katniss. Mesmo como ele e Katniss separados, no livro “A Esperança”, as decisões de Peeta continuam afetando o enredo, tanto influenciando a população de Panem, quanto salvando o Distrito 13 de um bombardeio da Capital. Ou seja, embora não tenhamos o ponto de vista de Peeta para que ele seja um protagonista, ele também não é um co-protagonista qualquer, já que suas ações têm grandes consequências no enredo, fazendo dele um deuteragonista. Sendo o príncipe de Illéa, as ações de Maxon Schreave afetam todo o país, e consequentemente, a trama do livro “A Seleção”. Literalmente, sem a existência dele, não haveria a seleção de princesas e, portanto, não haveria livro. Como não temos o ponto de vista de Maxon para que ele seja um protagonista, ele é um deuteragonista nos livros.
Já personagens como Gandalf, Dumbledore e Haymitch são deuteragonistas do tipo mentor, em que suas ações literalmente colocam os protagonistas em situações que os fazem atingir objetivos específicos que culminam neles se tornaram os heróis dessas histórias. Se Gandalf não tivesse chamado Bilbo para a jornada de “O Hobbit”, o Um Anel nunca teria parado nas mãos de Frodo, logo não existiria a trama de “O Senhor dos Anéis” também. Logo, sem esse personagem, Sauron jamais seria derrotado e os dois protagonistas jamais teriam se tornado heróis da Terra Média. O mesmo tipo de influência pode ser observada em outro mago da cultura pop, Alvo Dumbledore. O protagonista Harry Potter foi forjado ao longo dos anos em Hogwarts por Dumbledore para ser alguém capaz de se sacrificar em nome do bem maior. Como acusou Severo Snape, Alvo o havia criado como um “porco para o abate”. Sem Dumbledore, Harry jamais teria derrotado Voldemort. Sua importância na trama é tamanha, que mesmo após sua morte ele continua influenciando o protagonista e o desenrolar dos fatos, que culmina na vitória de Harry e seus aliados na Batalha de Hogwarts. Outro mentor que move a trama e seus acontecimentos, é Haymitch Abernathy, de “Jogos Vorazes”. No primeiro livro, é graças à influência dele que Katniss e Peeta conseguem os patrocinadores e vencer os jogos juntos. É também graças a ele que os tributos do Massacre Quartenário se rebelam contra a Capital e ajudam Katniss a sobreviver a arena e ser resgatada pelo Distrito 13, possibilitando que ela se tornasse O Tordo. Ou seja, se ele é removido da equação, Katniss e Peeta jamais teriam sobrevivido a ambos os Jogos Vorazes que participam e a rebelião jamais teria acontecido sem O Tordo.
Como exemplos de rivais que desempenham a função de deuteragonista, temos Luke Castellan, Cardan Greenbriar e Príncipe Zuko. Toda a trama do primeiro livro da saga “Percy Jackson e Os Olimpianos” não existiria se Luke não tivesse roubado o Raio Mestre de Zeus. Logo, sem o personagem não haveria história, já que Percy jamais teria sido acusado do roubo e, consequentemente, o protagonista também jamais teria descoberto sua origem como semideus. É graças a seu desejo de vingança contra os olimpianos que temos o ressurgimento de Cronos, o grande vilão da saga. É também devido à rivalidade entre ele e Percy que dá origem a todas as tramas de “Os Olimpianos”: o roubo do raio no primeiro livro, a busca pelo velocino no segundo livro, o sequestro de Annabeth e Ártemis no terceiro, a jornada no labirinto de Dédalo no quarto livro e a guerra entre semideuses e deuses gregos contra Cronos no último livro. Tudo acontece por conta da rixa entre Luke e Percy. Já Cardan Greenbrair, de “O Príncipe Cruel”, se encaixa tanto como par romântico como rival da protagonista, desempenhando ambas as funções como deuteragonista. Ele funciona como um par romântico deuteragonista com suas decisões como príncipe de Elfhame afetando a história de Jude e movendo a trama, já sua rivalidade com a protagonista desempenha um papel que influenciam as ações dela ao longo do enredo, assim funcionando como um deuteragonista do tipo rival também. Ou seja, sem a presença de Cardan na história, não haveria enredo, já que o começo da narrativa se dá por conta de uma conspiração para matá-lo. Outro deuteragonista no papel de rival é o Príncipe Zuko, de “Avatar: A Lenda de Aang”. Boa parte do enredo é graças à perseguição de Zuko à Aang na tentativa de capturar o Avatar e conseguir recuperar sua honra para com sua nação, fazendo Aang e seus amigos percorrerem vários locais do Reino da Terra no intuito de escapar dele. Ainda ao fim da jornada, Zuko se une à Aang para derrotar seu pai, o Senhor do Fogo. Sem ele, Aang jamais teria aprendido a dominação do fogo, derrotado seu pai, dado fim à Guerra dos Cem Anos e conquistado a paz, restaurando o equilíbrio entre todas as quatro nações.
Agora, personagens como Rony e Hermione, da saga Harry Potter, Grover e Annabeth, da saga Percy Jackson, e Bonnie e Caroline, de “The Vampire Diaries”, são co-protagonistas. Isso porque se você os retira da história, eles podem ser substituídos por outros personagens e a história continuaria a funcionar. Embora, sim eles sejam importantes, pois acompanham os protagonistas em todas as suas jornadas. Se Rony Weasley e Hermione Granger não existissem, nada impediria Harry de fazer outros amigos que desempenhassem as mesmas funções que eles na trama. O mesmo vale para Grover Underwood e Annabeth Chase. Se Percy não os conhecesse, nada impediria o semideus de fazer novas amizades. Outro filho ou filha de Athena e outro sátiro poderiam substituí-los na história. O caso de Bonnie Bennett e Caroline Forbes é o mesmo, embora sejam as melhores amigas de Elena Gilbert e a acompanhem na jornada dela, outra bruxa poderia desempenhar a função de Bonnie, assim como outra barbie vampira poderia substituir Caroline. Ou seja, se você retira o co-protagonista a trama ainda funciona, pois nada impede que eles sejam substituídos.
Ou seja, a diferença básica entre o co-protagonista e o deuteragonista é que apesar de ambos serem importantes para o enredo e o protagonista, é que sem o deuteragonista a trama não existe, enquanto os co-protagonistas podem ser substituídos em suas funções. Um exemplo claro dessa diferença é o anime e mangá “Naruto”, no qual, todos os personagens têm suas funções bem determinadas. O protagonista é claramente Naruto Uzumaki, personagem que dá nome à obra. Os co-protagonistas são todos os membros do Time 7: Kakashi Hatake, Sakura Haruno e Sasuke Uchiha, que acompanham o protagonista em toda a sua jornada. Dentre esses co-protagonistas, Sasuke Uchiha se destaca como um deuteragonista também, pois é a sua rivalidade com o protagonista que move toda a narrativa. As decisões de Sasuke, por exemplo, dão origem a toda a trama de “Naruto Shippuden”, se o personagem é retirado da equação a história não existiria. Enquanto que, tanto Kakashi quanto Sakura, são personagens cujas funções podem ser substituídas no enredo. Sakura Haruno é uma personagem que desempenha o papel de ninja médica da equipe, se a personagem é retirada do enredo, ela pode ser facilmente substituída por outro ninja médico. Já Kakashi não só pode ser substituído, como em diversas situações no anime e no mangá outro personagem desempenhou seu papel como mentor do protagonista, como os casos de Yamato e Jiraya que o substituíram por algum tempo.
Como podemos observar, embora tanto o co-protagonista quanto o deuteragonista são os personagens de maior relevância na trama abaixo do protagonista e do antagonista, eles possuem funções distintas no enredo que revelam o grau da sua importância no desenrolar dos fatos da narrativa. Enquanto os co-protagonistas podem ser substituídos em suas funções, uma história não funciona sem a presença do deuteragonista, que nem sempre será um personagem regular, mas suas ações afetam o enredo assim como as decisões do protagonista. Ou seja, para identificá-los, você só precisa retirar o personagem da equação e ver se a trama continua existindo: se a resposta for não, ele é um deuteragonista. Vale lembrar que pode haver mais de um co-protagonista e de um deuteragonista na história.
Se você quiser saber mais sobre a diferença entre esses tipos de personagem e descobrir outros arquétipos encontrados em uma narrativa, ouça o podcast literário Luna Solis Cast nas plataformas do Spotify, Deezer, Google Podcast, Amazon Music e Apple Podcast. Se você é fã de livros, você pode encontrar esse e outros temas literários no nosso podcast.