Por Hyana Reis – Jornalista e escritora.
No dia 07 de abril celebramos o Dia do Jornalista, mas eu não sei bem se temos assim tanto a comemorar. Há tempos a profissão vem sofrendo com a desvalorização, as fake news e a novas tecnologias. Desta vez, a grande ameaça são as inteligências artificiais. Estaríamos nós, jornalistas, fadados ao ostracismo?
Não é de hoje que anunciam o fim do jornalismo. Quando a TV chegou disseram que seria o fim da rádio; quando a internet chegou, o fim seria da tv; quando as redes sociais se popularizaram, foi decretado o fim da função de jornalista. E aqui estamos, com todas as mídias ainda resistindo, e atingindo seu próprio nicho e público.
Agora uma nova “ameaça” paira sobre nós. Os novos programas e charts são capazes de criar conteúdo dos mais variados e complexos: textos e notícias, produzir imagens e até vídeos com apresentadores bastante realistas. E o mecanismo não é tão difícil de usar, basta dar o comando, e, em poucos segundos, o seu conteúdo foi produzido.
É praticamente impossível concorrer contra uma ferramenta inteligente com acesso a internet e a velocidade que um humano jamais seria capaz de alcançar. Portanto, é inegável que o uso das inteligências artificiais irão sim revolucionar e modificar profundamente o mercado de quem cria conteúdo.
Mas ainda há muito que o programa é incapaz de fazer, como: entrevistar fontes, produzir uma notícia in loco, investigar uma denúncia, produzir reportagens exclusivas, dar um furo, e toda uma gama de conteúdos que não estão na internet; e cabe ao jornalista trazer ao conhecimento do mundo. Estamos tão presos ao mundo digital, que esquecemos que nem tudo está lá, e há literalmente um mundo aqui fora para desbravar.
Também não podemos ignorar que tais ferramentas podem fazer o total oposto de informar e noticiar: fica ainda mais fácil produzir uma fake news e espalhar desinformação na internet. Não à toa, viralizou há dias atrás uma imagem do Papa Francisco em uma roupa por demais fashion para um líder religioso. A imagem produzida por inteligência artificial é tão realista, que até mesmo grandes portais acreditaram em sua veracidade. Coube ao jornalista investigar a imagem, e expor a verdade. Um papel que já estamos desempenhando há anos e que se tornou uma das principais funções da nossa profissão. Mas que agora se torna ainda mais árdua e necessária.
Também não podemos enxergar os programas de produção de conteúdo apenas como vilões que vieram roubar nossos trabalhos. As inteligências artificiais podem e devem ser ferramentas para colaborar com a nossa profissão e auxiliar na produção de conteúdo, pois ela é apenas isso, uma ferramenta. Os charts jamais serão capazes de superar a criatividade humana, eles apenas o reproduzem. Cabe a nós manter a originalidade e relevância nas nossas produções para garantir nosso lugar no mundo digital.
Mas quem garante que esse texto que você acabou de ler foi realmente escrito por uma pessoa real ou apenas mais um conjunto de palavras elaboradas por uma inteligência artificial? Ficará cada dia mais difícil saber a diferença.