Por: Helena Frenzel – romanista, letripulista, professora e contadora de causos.
“Não conheço, mas sei quem é”. Parece uma frase sem nexo. É que as pessoas omitem coisas ao falar. Essa é a lei da preguiça e dela ninguém escapa. Talvez ficasse mais claro se a criatura tivesse dito: “Não conheço bem (a pessoa), mas sei de quem se trata”. E estaria tudo certo – massa! – porque conhecer e saber não significam exatamente a mesma coisa, não é mesmo? Conhecer, segundo o Houaiss, é “saber muito sobre algo” ou “ser apresentado a algo ou a alguém”. Já saber é “estar ciente ou ter informação de algo ou de alguém”. De maneira que nossa frase inicial poderia ser melhorada: “Ainda não nos apresentaram, mas sei de quem se trata”.
Essas são só duas hipóteses no meio de tantas que pode haver, e pra não ficar especulando sobre frases sem contexto, que podem significar qualquer coisa que se queira, vou encher este espaço de expressões igualmente memoráveis que usamos “a dar com o pau”, aqui usada no sentido de “usar algo com muita frequência” ou “fazer algo com muita frequência”, ou simplesmente no sentido de “muito”. “Tem dinheiro a dar com o pau, a criatura” significa que a pessoa tem dinheiro pra dedel, de montão. E gente milionária eu não conheço, ou melhor: nunca nos apresentaram, mas sei que andam por aí curtindo os juros altos.
Ao ler este texto você bem poderia dizer: “Doido não é como bom”. E não é mesmo. O que tem doideira a ver com bondade ou habilidade? Talvez essa frase signifique que uma pessoa considerada doida não pode ser considerada boa da cabeça, isto é, em sã consciência mental. Mas será mesmo? Você acha que eu sou doida ao escrever esse texto? Nem pergunto se você acha que eu sou “boa” no sentido de bondade, digo: uma pessoa boa, que não faz mal a ninguém, ou uma pessoa boa em algo, que faz algo bem, com habilidade, entende? E não vou por aí para que você não diga: “Ô coitada!”.
Antes que cheguemos a esses finalmentes, vou me preparar para ir ali “capar o gato”, que é o que uso pra dizer que vou “puxar o barco”, que “já me vou“ ou “vou-me já“, querendo dizer que “fui!“. Ou talvez fosse melhor sair de “à francesa”, como diz a música da Marina Lima, deixando você a “ver navios“, “pensando na morte da bezerra“ ou “catando coquinho”, mas esse não é o meu estilo, minha mãe soube me educar.
E antes que digam que me faltam parafusos na cabeça ou que estou me achando os fundilhos da Gilda (uma expressão do tempo da onça) é melhor baixar a bola, para ninguém ter que mandar o outro ir para a Caixa a prego ou coisa que o valha. Não sei se é bem assim, mas desconfio que o prego da Caixa era o lugar para onde mandavam joias, relógios e coisas que poderiam ser empenhadas em troca de algum valor. Então, mandar alguém ir para a Caixa a prego poderia significar mandar a pessoa para um lugar do qual ela nunca mais voltaria, dado que pobre, via de regra, nunca consegue recuperar os objetos que mandou para o prego (o penhor), mas essa é só uma hipótese, que fique bem claro. Passei minha infância ouvindo os adultos dizerem essa frase e não sei se entendi direito o que eles diziam ou queriam dizer.
Meu povo, como não tenho nem um pau para dar no gato, muito menos joias e relógios caros, fecho a conta e passo a régua nesse texto, saindo pela esquerda com a cara mais limpa, que não é o mesmo que sair pela direita com cara de tacho, como o povo que anda por aí querendo convencer os outros de que propina é um simples presente. Nem aqui nem na China, muito menos na Arábia!
E saio sorrindo, porque o riso, criatura, é o melhor remédio da vida. Hasta la vista, baby! E além de sorrindo, saio cantando: “Bye bye, baby, bye bye… Arlindo Orlando, volte, onde que que você se encontre…”, uma canção que, quem viveu os anos oitenta no Brasil certamente vai lembrar, num blitz.