Ruaní é o seu nome artístico, por meio do qual ela vem trilhando os caminhos da música. Graduada em História e em Direito, professora concursada, ela começou, em plena pandemia, a compor e a cantar de maneira profissional, sendo motivada muito pelas suas relações espirituais e seus compromissos sociais. Com um projeto artístico e musical bem traçado, Ruaní vem ampliando sua atuação como cantora e produzindo material, que vai divulgando, chegando já a São Paulo. Nesta entrevista, ela explica um pouco do seu processo criativo, dos seus planos e da relação entre a sua música e suas crenças. Vale a leitura.
Região Tocantina – Como começou sua carreira artística?
Ruaní – Minha carreira artística só foi definida, de fato, em 2020, durante a pandemia. Nesse ano, tive minha iniciação espiritual e dentro dela recebi inspirações para compor e me reconhecer como cantora e entender que esse é o meu propósito de vida. No entanto, eu canto desde criança, participando de forma esporádica em alguns eventos, tanto em Senador La Rocque (minha cidade natal), quanto aqui em Imperatriz.
Região Tocantina – Quais são as suas influências artísticas?
Ruaní – Eu fui criada escutando MPB e alguns artistas internacionais como Beatles e Elton John. Os meus pais recebiam muitos amigos que são músicos e fui acostumada a todo final de semana ter rodas de viola/violão regadas a muitas conversas sobre política. À medida que fui amadurecendo, fui escutando outros tipos musicais como: R&B, Pop e Rock. Toda essa mescla me influenciou e sempre me considerei uma artista eclética, tanto que isso me atrapalhou em alguns momentos a entender minha identidade artística. Mas quando me vi mais espiritualizada, principalmente dentro de uma doutrina afro-indígena, minha identidade artística aflorou. Me tornei artista de terreiro, influenciada totalmente pela Umbanda e Santo Daime (doutrinas das quais participo). Dentre os artistas que mais escuto e me inspiro estão: Maria Bethânia, Milton Nascimento, Mateus Aleluia, Mariene de Castro, Luedji Luna, Xênia França, Fabiana Cozza, Dessa Ferreira e outros diversos que levam a cultura afro-indígena para o mundo.
Região Tocantina – A sua trajetória, como artista, reflete muito da sua militância e suas crenças?
Ruaní – Todo artista é político, mas nem todos militam suas pautas. Dentro da minha educação familiar, a militância sempre esteve presente. Meus pais fizeram parte ou deram apoio para vários movimentos, como pastorais dentro da Igreja Católica, Comunidades Eclesiásticas de Base – CEBI, MST, sindicatos, partidos políticos, movimento diocesano, movimento indígena, dentre outros. Aprendi com eles e com a Uemasul, no meu curso de História, o que é debater e problematizar a sociedade. A minha arte não seria diferente. Ela reflete pautas que vão desde a religiosidade, até discriminações sociais como o racismo, a intolerância religiosa, o machismo e a xenofobia. Todo artista tem um poder político, e eu prefiro usá-lo para fazer com que as minorias se identifiquem por meio da minha arte.
Região Tocantina – Onde as pessoas que querem ouvir sua música encontram o seu trabalho?
Ruaní – Em breve, minhas músicas autorais estarão em todas as plataformas digitais. Mas por enquanto podem encontrar diversas interpretações bem bonitas nas minhas redes sociais. Lá eu posto vídeo, frequentemente. É só procurar: @ruanicantora em qualquer rede, como Instagram, Tiktok e Youtube.
Você pode apreciar um pouco do som da Ruaní aqui:
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Região Tocantina – Quais os seus planos para os próximos anos?
Ruaní – Dentro do meu plano estratégico, tenho algumas realizações a alcançar. Uma delas é o lançamento, ainda este ano, dos meus singles. Estou no processo de pré-produção dessas músicas. Posteriormente, lançarei o álbum, dentro de um futuro próximo. A médio e longo prazos, pretendo conseguir reconhecimento como artista, tanto aqui, em Imperatriz, quanto em outras regiões, principalmente na cidade de São Paulo, onde minha arte tem tido bastante receptividade.
Região Tocantina – Você acredita na música como instrumento de mudança social?
Ruaní – Defini como minha missão recuperar a ancestralidade dos povos afro-diaspóricos, proporcionando reparação histórica e curativa no mundo cultural, por meio da arte. A música nos leva a lugares inimagináveis, ela cura, tanto no sentido abstrato, quanto no sentido mais palpável (é o exemplo das Frequências Hertz, que são utilizadas de forma deliberada em sessões terapêuticas). Me considero uma curandeira – com todas as bençãos e responsabilidades que isso traz. Ao cantar, sinto que me curo e curo outras pessoas. Essa é a grande mudança social da música, mostrar possibilidades para nós, sejam elas possibilidades de autoconhecimento, mudança, movimentações políticas etc. Além desse sentido mais desmaterializado, temos a produção cultural, que movimenta diversas pessoas, em vários âmbitos, para que qualquer manifestação cultural aconteça. Dentro da música são disponibilizados empregos, ações sociais, mobilização política, e tudo isso é mudança social.
Região Tocantina – Você se divide entre a docência, o direito e a música. Como relaciona todos esses papéis?
Ruaní – Como mulher, preta, de uma classe social proletarizada, ainda não tive oportunidade para viver somente da música. Pela necessidade e também pelo não reconhecimento próprio de me ver como uma artista profissional, fui me alocando em outras áreas. A Educação sempre fez parte da minha vida, uma vez que toda minha família é composta por professores. Então, quando me vi na vida adulta, eu me tornei educadora como um processo social muito naturalizado pela minha família, seguindo uma vida acadêmica nesse processo (finalizei um mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Formação Docente em Práticas Educativas – PPGFOPRED, na UFMA, em 2022). E, até hoje, a educação me sustenta e me faz evoluir também. Com os estudantes eu aprendo todos os dias a ser mais humana, mais empática e mais madura. Acredito na educação como fonte de mudança social, assim como é a arte. Assim, sempre me dividi entre as minhas duas paixões, educar e cantar. Sou funcionária pública da educação por 40h (às vezes mais, dependendo da demanda) e sempre cantava em horas vagas. Hoje, me dedico mais ainda à música e confesso que às vezes é desafiador conciliar as duas profissões; as agendas às vezes se chocam. Em relação ao curso de Direito, foi um curso que fiz e não me arrependo, mas não pretendo trabalhar na área, por enquanto. Foi uma graduação que me agregou muito em conhecimento e me trouxe bons amigos, como uma boa etapa acadêmica deve ser.