Filme de acesso gratuito e democrático. Assim, fazendo jus à própria história de Manoel da Conceição, o documentário Minha Perna, Minha Classe, sobre a vida e obra do líder maranhense, é lançado no YouTube (@minhapernaminhaclasse). Dirigido por Arturo Saboia e idealizado e produzido por Cassia Melo, o filme teve estreias de sucesso no Maranhão e em São Paulo e chega agora à plataforma digital. “Abrimos mão de inscrever o filme em festivais ou circuito comercial para lançá-lo dessa forma, com um propósito educativo e abrangente. Fizemos exibições especiais na periferia de São Luís, para a comunidade Mojó, cujos moradores participaram do filme; para estudantes, na USP e na Cinemateca, o maior acervo audiovisual da América do Sul. Agora, vamos lançá-lo no YouTube. Precisamos que o legado de Manoel seja conhecido pelas novas gerações e acessível gratuitamente”, destaca Cassia Melo, produtora executiva do filme.
O filme pode ser assistido neste link:
O projeto conta com a Lei de Incentivo à Cultura, patrocínios do governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus e realização da Clímax Filmes e Oito Projetos Criativos. Em São Paulo, o filme foi lançado com sucesso, na Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana, e reuniu cinéfilos, pesquisadores, jornalistas e muitos militantes históricos da Ação Popular (AP), da qual Manoel da Conceição fez parte. Eles deram relatos emocionados sobre Manoel e a luta deles contra a ditadura. Para os críticos de cinema Roger Worms (colunista do DCM) e Bruno Carmelo (mestre em Teoria do Cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III e editor do Meio Amargo), que participaram da mesa-redonda, o filme surpreende pela atualidade. Temas como luta por democracia, trabalhadores do campo em situação análoga à escravidão, o fantasma do comunismo como desculpa para perseguições, violência e fake news, dentre outros.
“O filme faz uma tessitura muito especial entre a vida e a obra de Manoel da Conceição, mas, sobretudo, realça aspectos muito contemporâneos do Brasil, tais como: a urgência das questões do campo; e a necessidade de se conhecer e valorizar a trajetória de personalidades icônicas como Manoel da Conceição, bem como de outras lideranças políticas, em lugar de se repercutir banalidades e se fomentar um mundo dividido entre ‘influencers’ e ‘seguidores’. Esse filme é uma potência para falar desse lugar, do trabalhador rural brasileiro, sobre a violência no campo, a luta pela terra e a sabedoria de quem tem, na paciência e no afeto, a força de seu projeto de transformação social”, destaca Marta Inez Medeiros Marques, professora do Departamento de Geografia da USP e coautora, dentre outros, de Geografia Agrária: Teoria e Poder. O filme foi exibido, no auditório Milton Santos, aos alunos de Geografia e do programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo.
MANOEL DA CONCEIÇÃO – Lavrador, camponês, ferreiro, educador, sindicalista, ambientalista, pensador da luta por igualdade e reforma agrária, líder político, que foi preso, mutilado, torturado e exilado pela ditadura. Subversivo indomável. Assim se definiu o próprio Manoel da Conceição, em entrevista histórica ao jornal O Pasquim. Manoel foi o terceiro militante a assinar a ficha de filiação do Partido dos Trabalhadores, ao lado de Mário Pedrosa e Apolônio de Carvalho. Representava todo um segmento que se unia ao novo partido, o dos trabalhadores rurais. Ele contribuiu, ainda, ativamente na fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (Centru) e da Escola Técnica Agroextrativista (ETA).
Arturo Saboia (direção e roteiro) e Cassia Melo (produtora executiva) têm, no currículo, dentre outros prêmios, 6 Kikitos, no Festival de Cinema de Gramado, pelo curta Acalanto (2013), o primeiro e já bem-sucedido trabalho da dupla. “O documentário está sendo lançado num momento mais do que oportuno. Nos últimos anos, o discurso de ódio e violência varreu o país. Manoel nunca pregou o uso violência. Pelo contrário, foi vítima dela, a perna baleada, amputada e que virou lema de sua luta”, ressalta o diretor Arturo Saboia. Lutador de causas diversas, da reforma agrária à ecologia, os produtores querem transformar a vida de Manoel da Conceição em uma série em breve. “Há sementes de amor e utopia dele em várias frentes”, destaca Cassia Melo. Não faltarão histórias – e temporadas.