Por: Gabriel Neres – Jornalista.
Nick Ventura, professor universitário e conceituado especialista em Mitologia, é convocado pela polícia a ajudar na investigação de um assassinato ritualístico e cheio de simbologias ligados à prática wicca. Acompanhado por sua aluna Bia e pelos policiais Sandra e Michel, começa uma corrida contra o tempo para impedir mais mortes e descobrir quem é o responsável pelos atos hediondos. A narração é dividida entre o período da investigação, que vai de 24 de setembro até 4 de novembro, e flashbacks que acompanham o “Destruidor” cerca de 10 meses antes do início dos assassinatos.
À primeira vista, e talvez tenha sido uma inspiração proposital ou apenas uma coincidência, Mortes de Primavera (2021, publicação independente, 364 páginas) lembra uma aventura de Robert Langdon, famoso simbologista criado pelo escritor americano Dan Brown e que protagoniza cinco livros do autor. Conspirações, o envolvimento de uma sociedade secreta, símbolos, a resolução de enigmas e várias reviravoltas preenchem tanto os livros de Dan Brown quanto esta obra de Douglas Ribeiro.
Mas também destaco as diferenças. Enquanto a escrita de Dan Brown possui um detalhismo excessivo na descrição de cenários, de objetos e de símbolos que, por vezes, se torna cansativo, a escrita de Douglas Ribeiro é mais dinâmica e fluida, trazendo descrições suficientes para permitir que o leitor visualize a cena ou o objeto.
O professor Nick Ventura possui problemas reais e mais relacionáveis com o leitor, como seu vício em bebidas alcoólicas, que foi uma das causas de seu divórcio, o fracasso em cumprir promessas ao filho, como buscá-lo na escola no horário da saída, e a culpa envolvendo um trauma do passado que parece lhe causar a síndrome do impostor. O autor é muito competente em nos fazer simpatizar com Nick logo nas primeiras páginas e desenvolve muito bem todas as questões do protagonista.
Outro destaque é o uso das personagens femininas na história. Bia, a aluna que ajuda Nick na elaboração de um perfil, a princípio servindo como um alívio cômico, demonstra-se mais inteligente do que o próprio professor. Landara, amiga de Ventura e membro de um grupo de wiccanos, também possui um papel importante na investigação. Fernanda, a ex-esposa do protagonista, é quem o conforta num momento de baixa autoestima. Sandra é a líder da investigação e parece haver uma química com o professor que pode se desenrolar num romance em livros futuros. É a segunda vez que percebo uma forte presença feminina numa obra de Douglas Ribeiro. A outra vez foi no romance policial Presa Fácil, onde a equipe de investigação é composta por mulheres.
Para quem é fã dos livros de Dan Brown e sente saudades das aventuras de Robert Langdon (afinal, são quase seis anos desde o último livro protagonizado pelo simbologista), Mortes de Primavera preenche muito bem este vazio. Para quem não for fã dos livros de Dan Brown, também vale a pena conferir Mortes de Primavera, pois é um livro muito bem escrito, cheio de suspense e que prende o leitor do início ao fim.