terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Mural das Minas #36: HELENA FRENZEL: literatura como linguagem, expressão e vida

Publicado em 4 de março de 2023, às 16:15
Imagem fornecida pela autora.

Helena Frenzel é maranhense, vive na Alemanha.
Formada em Ciência da Computação e Romanística, Literatura é seu modus de ser e operar no mundo.
Nos blogs Bluemaedel, Bluemaedel Lê e em seu perfil no site Recanto das Letras encontram-se quase todos os textos que publicou de 2007 para cá, dentre eles contos, crônicas e letripulias, que é como ela gosta de chamar as brincadeiras poéticas que tece. Dedicados a contos e causos, manteve os projetos Sem Vergonha de Contar, em parceria com a contista Michele Calliari Marchese, e o projeto Quinze Contos Mais, que gerou dois volumes em E-book e reúne textos de diversos autores e autoras de vários lugares do Brasil. Todos os E-books que publicou até agora, como autora, curadora e editora, incluindo a coletânea Maranhão em Contos, composta para aplacar um pouco a saudade da terra natal, encontram-se disponíveis no site do projeto Quintextos.
Atualmente mantém uma coluna no site Notícias da Região Tocantina e faz leituras em áudio para o projeto Fantástico Feminino, no Youtube.

FUSÃO NO AZUL

Fundida em azul de fundo ou plano
Parede, cortina de céu tamanho
Por ruas e dias quase invisível
Cruzo cidades de tons sombrios.

Acessórios, cargas, roupas impedem
Transparência efetiva de não vista ser
De seguir anônima, ativa buscando
Deste mundo, à revelia, u’a parte ser.

A este circo, se me integro, desapareço.
Sofro, por certo, dissolução
De ideias, sonhos, cultura, apreços
Pigmentos, texturas, ideais, visões.

Assim sendo, ao fundo azul me fundo,
Discreta caminho e sonho seguir,
Invisível passar por olhares perdidos
Vampiros por sangue, por vidas febris.

TARA É ATAR

Já paraste para pensar que alma é
Lama, mala e amal?
Já paraste para pensar que amor é maro,
Mal em japonês, na língua dos gibis,
E que também é roma, orma, armo?
Mora?
Arm, amor, que em alemão é pobre,
Coitado!
Será do coito que corta o amor,
Mas se tirando o cê,
E o sentimento,
É apenas um número?
Já paraste?

VIDA A MONOTONIA!

Poesia vem quando quer,
É atrevida essa mulher!
Homem, e por que não?!
De absurdos brota poesia;
De monotonia, inspiração.

COTIDIANO

Quando acordou, tocava no rádio o Chico: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às três horas da manhã, me sorri um sorriso pontual, e me beija com a boca de hortelã, lã, lã, lã, lã”. Levantou-se, tomou banho, café, lavou os dentes, saiu e foi esperar o ônibus. Coisa difícil é vaga pra estacionar, bom foi ter deixado o carro em casa, sem falar que, fora a fila dos ônibus, nenhuma outra parecia andar naquela cidade. No escritório, bateu o ponto, começou o trabalho. Nova lista de protocolos para preencher. Conferiu agenda, organizou tudo. Caso estorno de cartão, o primeiro. Quinze minutos antes do almoço, chega a colega Rosa e o espera para saírem. “A Lasanha do Toni hoje está ótima!”, ela disse. “Então vamos lá!”, disse ele animado. “E o que fizeste hoje, camarada?’’ “Mais protocolos, pra variar”. Ela sorriu e disse: “Normal!”. Uma hora mais tarde, de volta ao trabalho, ele lembra que ela lhe disse: “No final do dia passo pra te apanhar, vice?”. Sim, pegaria carona com a Rosinha. Voltou a se concentrar no trabalho, pensando: “Outros dez casos de uso, rapaz… Coragem, vamos lá!” Final do dia, chega Rosinha perguntando: “E aí, tudo pronto?” “Peraí, deixa eu ir ali acolá arquivar o serviço.” Abriu a porta do armário e uma surpresa: uma pasta com 20 protocolos, iguaizinhos aos de hoje, todos lá arrumadinhos, o esperavam. Mesmos comentários, mesmas descrições, mesmos… “Penso sempre igual?”, cogitou. Antes de concluir que enlouquecia, leu o bilhete e seguiu as instruções: “Para não fazer tudo de novo, otário, não esquece de colar este bilhete na capa da agenda antes de sair!”, assinado com um “Eu sou você amanhã e nós dois já vivemos essa história. Um abraço e até a próxima!” Mais tarde, falou pra Rosinha: “Fiz de novo. Me lembra amanhã de voltar ao neurologista?” Ela o olhou longamente, meio que quase o estranhando, mas logo voltou à rotina e apenas disse: “Como sempre!”.

LETRIPULINDO E PULANDO

Meço o risco que corro pois sei do tanto que valho, tusso diante do engasgo e ouço conselhos gentis. Caibo na mão da poeta, suo frio e posso soar louca aos ouvidos moucos de quem não sabe sorrir. E enquanto pulo a prataria dou meus pulos para levar a vida, e moo, moo a tristeza escrevendo letripulias, brincando com a língua que me criou, cria, cura e recria, todos os dias, sem exceção.

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