Geane Lima Fiddan é professora de Literatura.
Possui Licenciatura em Letras desde 1999. É Especialista em Linguística e mestre pela Universidade Nova de Lisboa, Portugal.
Publicou 3 livros com gêneros diversos. “Argos da Matéria”, poesias, publicado em 2006; “O Norte”, coletânea de contos, publicado em 2013, escrito em Lisboa/Portugal e publicado pela Paco Editorial, em 2012 e “Os Guardiãs Mirins”, conto infantil, publicado em 2019 pela Editora Felizes.
Participou de diversos movimentos culturais no Maranhão e em Portugal, principalmente vinculados a questões ligadas à literatura.
Atualmente vive longe das grandes badalações culturais, pois optou por uma vida mais reservada. Contudo, tem contribuído com as questões referentes ao meio ambiente e à espiritualidade.
II GÊNESE OU EMBARCAÇÕES
Em tempos adversos
ainda estamos reaprendendo
a nortear o que se passa por dentro.
O que se passa por dentro,
de vez em quando, está por fora,
por fora estamos nós
quando não fazemos faxinas internas
para despoluir diversas margens.
Pássaro azul voando rumo ao infinito
dar voltas feito um quatrolho,
cuja leveza anda à flor da pele.
Não é fácil andar nesse cosmo,
mas não é impossível acordar
o bem adormecido.
ÁGUAS DO PAI
Não esperávamos nada mais do que um dia maneiro
quando a cantoria que cai das nuvens chegou esparramando-
se no chão de mangueiras e se embrenhando nas ruas,
a percorrer os montes, as vilas, as ladeiras,
lavagens de ares após trabalhos intensos,
impertinências para alguns seres de pedras e de areias
que se preocupam com a vida de muitos e se mantêm
em certas estações que assustam.
São tantos os corações que ainda ousam correrem para os banhos
da infância como se o que cai das nuvens e se espraia no solo
e no telhado, fosse tudo que restasse.
CAROS
Nas primeiras horas do dia
gaivotas modificam versos na areia.
Ventos e ciscos embrenham-se pelas janelas
enquanto
um sereno chuvisco desmancha imagens
nos vidros dos ônibus
rio atravessando morros
pessoas que levam as suas cruzes
qual peixinhos voadores
soluçando outro plano.
À tarde chora
diante da matéria poética desfeita
e a noite exige mais lirismo.
EM TEMPOS ADVERSOS
Em tempos adversos
ainda estamos reaprendendo
a nortear o que se passa por dentro.
O que se passa por dentro
de vez em quando está por fora.
Por fora estou eu
Cuando no hago dispersivos.
Voadores rumo ao infinito
dão voltas feito um quatrolho
cuja leveza anda a flor das águas.
Se não é fácil andar nesse cosmo
é possível acordar o albatroz
por dentro adormecido.
ANUNCIAÇÕES
É madrugada nessa ilha em que pouso sonhando boas anunciações que ressoam até mesmo no coração. Um galo canta no quintal do vizinho e espanta a dor que permeia os dias solitários. Uns pingos de águas batem com delicadeza no chão. Gritos de passarinhos ecoam no quarto. No quarto, uma rosa, fotos e livros antigos lembram os que passam a vida esperando. Quem me dera ver teus olhos num voo menos passageiro.
É madrugada nessa casa com fibras e infinitas conchas, páginas, pétalas e miçangas espalhadas pelos cantos testemunhando a jornada. La fora, a constelação de Orion evidencia uma construção sublime. Então, vejo um gato e penso lá na mata deve haver um índio com mãos repletas de terras e sementes expostas aos transeuntes. Quem me dera viajar contigo pelas estradas ornamentadas pelas essências dos ipês.
PASSAGEM
Ontem, tarde da noite, andei pela cidade como um poeta lírico nas andanças. Repentinamente, vi um senhor sobre uma ponte, falando sozinho. Então, parei e me aproximei do cidadão que tinha cerca de 80 anos. Percebi que ele falava para o mar e dizia alto: – Minha Susana! Minha Susana! Onde está você? Subitamente, o homem ficou calado e então perguntei. Quem é a Susana? Ele olhou para o mar e disse. – É aquela onda que parte todos os dias!
3 respostas
Bons textos, de uma poeta que não deveria se afastar das badalações literárias, pois com o outro se aprende bastante. Abraço, querida e volta, pois és uma boa poeta.
Suspirei e viajei nesses poemas. Geane, seus poemas precisam circular mais pois faz muito bem para a alma. São alentos.
Saudades dessa poetisa de alma nobre que inspira paz e ternura por onde passa.