Por: Artemisa Lopes (@artemisalopes_) e Laura Zacca (@lauraa_zacca)
O início de uma história é a parte mais importante de um enredo, pois é através dele que o leitor vai decidir se vai acompanhar ou não aquela jornada. Por isso, o primeiro capítulo pode ser considerado como o mais importante. Porém, o prólogo é um recurso bastante usado em obras literárias que pode funcionar como uma forma de fisgar o leitor com um gostinho da história antes mesmo de ela ter início. Ele pode ser escrito de várias formas, e assim, conseguir captar a atenção do leitor com uma informação que fará sentido apenas no clímax ou ao fim da trama.
O prólogo não é necessariamente essencial em uma história. Ele pode servir como um norte para guiar o leitor ou até mesmo enganá-lo, dependendo do contexto e do gênero do enredo. Ele pode funcionar muito bem em histórias de mistério e suspense, por exemplo, quando o autor retira uma determinada cena de contexto e a insere no prólogo, seja em algum momento do clímax da obra, que já deixa o leitor em dúvida se questionando o porquê de determinados acontecimentos.
Na saga “Sussurro”, de Becca Fitzpatrick, por exemplo, a autora coloca prólogos em todos os quatro livros. Apesar de ser uma trama sobrenatural que envolve anjos caídos, ela também carrega um forte tom sombrio e misterioso. No primeiro livro, o prólogo nos apresenta o protagonista Patch — sem que saibamos ainda quem ele realmente é — em uma cena que reflete todo o conflito que veremos no decorrer do livro 1. No segundo livro, somos apresentados ao vilão já no prólogo em uma cena intensa, sem que saibamos sua real identidade, e ficamos curiosos para saber quem ele é, já que a protagonista Nora, no decorrer da narrativa, passa a ser ameaçada por alguém anônimo. No terceiro livro, como Nora acaba perdendo as memórias, no prólogo temos uma cena entre Patch e o vilão Hank Miller (seu pai biológico) que fazem um acordo que culmina no conflito do livro 3. Por último, no quarto livro, temos o ponto de vista do personagem Scott, que acaba fazendo uma escolha com uma terrível consequência.
Outra série de livros que sempre inicia com prólogos é “As Crônicas de Gelo e Fogo”, do escritor George R. R. Martin, que foi adaptado para o seriado Game of Thrones. Famoso por não ter um protagonista e sim inúmeros pontos de vista, o prólogo sempre nos surpreende com algum evento ou informação bombástica. Porém, sua marca registrada é que os narradores dos prólogos nunca sobrevivem para um próximo ponto de vista e o capítulo termina com sua morte prematura.
A autora Julia Quinn é outra que se utiliza bastante de prólogos, iniciando todos os oito livros de “Os Bridgertons” com flashbacks revelando o passado de um dos protagonistas. Alguns são marcados por uma morte que afeta suas vidas, como o caso de Anthony, Philip, dos livros “O Visconde e Eu” e “Para Sir Phillip, Com Amor”. Enquanto outros revelam o momento exato que se apaixonaram por seus pares, como acontece com Penélope e Michael, nos livros “Os Segredos de Colin Bridgerton” e “O Conde Enfeitiçado”. Já outros trazem à tona problemas familiares enfrentados pelos protagonistas, à exemplo do que acontece com Simon, Sophie e Garrett, respectivamente em “O Duque e Eu”, “Um Perfeito Cavalheiro” e “Um Beijo Inesquecível”. Já o último livro nos surpreende, não com um flashback, mas com uma cena do futuro, do que ainda está por vir, quando temos Gregory literalmente correndo até o altar para impedir o casamento da amada, que acontece em “A Caminho do Altar”.
Em “A Batalha do Apocalipse”, de Eduardo Spohr, temos uma trama angelical complexa e uma mitologia mista. No prólogo, somos apresentados a uma cena entre os arcanjos celestes que faz uma referência à sinopse do enredo, com o personagem Miguel dando o pontapé inicial da guerra entre os mundos que vemos no decorrer do livro. Spohr ainda criou uma trilogia chamada “Filhos do Éden”, que se passa no mesmo universo. O prólogo do primeiro livro se passa no Brasil, apresentando o protagonista Ablon sendo recrutado por um grupo de anjos para uma missão a fim de impedir uma guerra civil.
A saga “A Maldição do Tigre” é uma fantasia que mergulha e se aprofunda na mitologia indiana, na qual acompanhamos a jornada de Kelsey e os irmãos Ren e Kishan tentarem quebrar a maldição que os assola. A autora Colleen Houck já nos deixa curiosos no prólogo do primeiro livro, no qual temos uma cena que mostra Ren sendo aprisionado pelo maléfico vilão, o feiticeiro Lokesh, e o momento de sua maldição, o que nos deixa ansiosos por virar a página para entender o conflito.
O prólogo de “O Príncipe Cruel”, de Holly Black, já começa com uma cena bastante intensa e marcante. Nele, temos um vislumbre de como Jude acabou indo parar no reino de Elfhame ainda criança. Misteriosamente, a figura de Madoc, seu pai adotivo (que ainda não ficamos sabendo quem ele é de fato) se esgueira pela vizinhança e invade a casa da protagonista, alegando estar atrás de quitar uma dívida com a mãe da garota. Após assassinar ela e seu pai, Jude e sua irmã Viviane são levadas por ele para o reino das fadas, onde então se inicia a história.
Outro exemplo de um prólogo instigante e que fisga o leitor acontece em “Corrupt”, de Penélope Douglas. A trama, que tem uma pegada de suspense e mistério, já entrega esse tom no prólogo. O enredo basicamente gira em torno da vingança de Michael, Kai, Damon e Will contra a protagonista Rika após terem ficado na prisão por três anos. No prólogo, a garota se depara com um “presente” em sua cama contendo um bilhete ameaçador e, assim que olha pela janela, vê três figuras encapuzadas e com as máscaras usuais dos Cavaleiros. Só então ela se dá conta de que eles voltaram à cidade por alguma razão — que ela acaba por descobrir no decorrer das páginas.
Como podemos ver, o prólogo pode desempenhar um papel muito importante em uma narrativa para conquistar o leitor. Mesmo não sendo essencial em uma história, ele pode ser o diferencial que chama a atenção do leitor que o fez querer acompanhar aquela trama. Seja pelo tom misterioso, alguma cena que fará sentido apenas no final, ou já nos apresentar o vilão sem que notemos. O prólogo, mesmo em apenas uma ou duas páginas, pode ser talvez, a parte que mais atrai e instiga os amantes de uma boa história.
Dicas:
- Uma boa alternativa é começar usando flashbacks contando o passado trágico de algum personagem que fará sentido apenas no decorrer da trama quando entendemos suas motivações.
- Outra opção é inserir um trecho de alguma cena em específico para atiçar a curiosidade do leitor, como uma parte do clímax ou uma cena romântica entre dois personagens.
- Você pode também apresentar o vilão já no prólogo – mas de forma sutil, sem revelar sua real identidade.
- O prólogo também pode ser usado para já apresentar ao leitor uma profecia ou maldição que será o foco central da trama.
- Apresentar a ambientação da história pode ser uma boa alternativa para já colocar o leitor no contexto em que a história vai se passar.
- Lembre-se: o prólogo deve ter no máximo duas páginas. Ele é apenas para aguçar a curiosidade do leitor.