Levanta a mão quem desfez uma amizade, deixou de falar com um parente, ou simplesmente se decepcionou com alguém por conta da sua preferência política. Alguns podem dizer, é besteira, bobagem. Mas a política está em todos os aspectos da nossa vida e não deve ser vista como algo secundário ou sem importância.
Se você está pagando mais caro na gasolina e no gás, busque explicação na política; se sua casa está cheia de cinza e há queimadas para todos os lados: política; se o show do seu cantor sertanejo preferido foi cancelado na sua cidade, também é por motivos que envolvem a política. Por isso, quem você escolhe como seu representante tem grande peso e diz muito sobre suas motivações e preferências.
E desde 2014, quando Dilma e Aécio disputaram uma das eleições mais acirradas para presidente da história, nós vimos um país rachado ao meio. E de lá pra cá, nós só perdemos.
Já são oito anos em que essa rachadura se transformou em um abismo quase intransponível. As simples divergências políticas se transformam em assassinatos brutais e medo de sair na rua.
O que já parece naturalizado no dia a dia do brasileiro, se visto de longe, é claramente um completo absurdo. A sensação é de que já vivemos uma distopia.
Agora, às vésperas de eleger um novo presidente, esse abismo se torna ainda mais aparente. E no dia 30 de outubro, quando o resultado final for anunciado, metade do país estará insatisfeita. E não sabemos as consequências dessa insatisfação.
Quem quer que ganhe também encontrará um senado e uma câmara federal rachados ao meio, afinal é um reflexo do país dividido politicamente. E isso significará uma grande dificuldade de aprovar emendas e projetos, e um desafio para uma governança presidencial.
Independente do resultado, nós já perdemos. Perdemos a admiração, perdemos vidas, perdemos amizades, perdemos empregos, perdemos na economia, perdemos no respeito. Só não perdemos o medo.
Mas se tem algo difícil de tirar do brasileiro é a esperança. E nos resta torcer para que no dia 30 de outubro, por mais que já estejamos derrotados, o resultado nos traga a fé de, só uma vez, voltar a ganhar um pouco.
2 respostas
Oportuno e verdadeiro!
Absolutamente, verdadeiro.
Verdade. Qualquer que seja o resultado das eleições, perdemos, desde já, a boa convivência pelo medo, a mentira e a ignorância. Viveremos uma distopia invertida, o que não é uma utopia, pois não haverá felicidade na intolerância da disputa ideológica criada pela direita contra a esquerda do espectro político, ao contrário da militância radical de algumas décadas atrás. Agora é o sofrimento que se anuncia, não a esperança. Bom para quem quer fazer literatura. Muito mau para quem deseja uma sociedade calcada no estado democrático de direito e na justiça social.
Quem viver verá.