segunda-feira, 14 de outubro de 2024

De contos, causos e oralidades – Convite para um mergulho

Publicado em 17 de outubro de 2022, às 12:00
Fonte: Helena Frenzel – romanista, especialista em Literatura e professora de Espanhol e Português Brasileiro como línguas estrangeiras.
Imagem: Freepik - A girl reading a book on white background illustration. Imagem de brgfx no Freepik

Há tempos o mundo está ao contrário e, diferente do que diz aquela canção magnífica de Nando Reis – “Relicário” – imortalizada pela inesquecível Cássia Eller, muita gente reparou sim, digo: notou. E eu, como percebem, estou nesta estatística. O fato é que, para sobreviver, a gente não pode ficar só falando de atrocidades, tragédias e esquizofrenias, é preciso buscar uma forma de seguir respirando.

Assim que, quando sinto falta de ar, desligo as telas que me distraem e trato de mergulhar num bom livro, ou me ponho a escrever qualquer coisa. Chego até a sentir o cheiro do sal nas páginas que vão me curando, um sal que vai limpando as feridas sem queimadura, sem aquela dor alucinante que costumava separar o corpo da alma quando eu era criança e alguém me limpava as feridas com o tal do merthiolate. Vixe, só de pensar me arrepio! Mil vezes preferia ficar com o joelho ralado do que deixar que me passassem aquele troço ardido.

Sim, quando digo mergulhar nas páginas, me refiro ao que leio e ao que escrevo. E por falar em escrita, sempre pergunto às pessoas que aprendem línguas estrangeiras comigo o que elas menos gostam nos cursos. Muitas dizem que não gostam de fazer exercícios e a maioria diz que não gosta de escrever. E eu sempre pergunto: “Mas você não gosta de escrever ‘em geral’ ou você não gosta de escrever ‘numa língua estrangeira’?” Poucas são as almas que se salvam ao dar uma resposta. Eu trato de frisar que a escrita também tem um papel fundamental no aprendizado, pois escrevendo vai-se memorizando vocabulário e aprofundando o uso da língua, sem falar no efeito colateral que nos leva a estruturar melhor o pensamento e a libertar a alma. Mas como não sou de forçar ninguém a nada, apenas trato de mostrar os benefícios da atividade sem qualquer tipo de proselitismo, que para quem não sabe, é a palavra que se utiliza para nomear o que fazem aqueles que vão por aí tentando impor aos outros a sua visão de mundo como única verdade.

Parece coisa da Idade Média, não? Não, não é coisa só da Idade Média, é coisa da Era da Pós-Verdade, como temos visto muito por aí num mundo que, como diz a canção, está ao contrário. Aliás, eu sempre me pergunto se algum dia o mundo já esteve “certo”, ou se foi mesmo só uma leve impressão que alguém teve. Nem quero pensar agora em tentar responder esta pergunta, melhor pensar sobre o poder da palavra e sobre o que as mulheres escrevem.

E para isso convido você a mergulhar nos textos delas, principalmente se você for uma pessoa que quer entender como funciona o patriarcado, e quão urgente é a nossa necessidade de acabar com ele. Em livros escritos por homens, em boa parte deles, lemos sobre opressões. Em livros escritos por mulheres, na maioria deles, encontramos estratégias para sobreviver às opressões – e combatê-las! Daí que se você quer viver num mundo mais igualitário, é urgente começar a lê-las!

Nomes? Cito alguns. Algumas das autoras que andei lendo e relendo recentemente foram: Conceição Evaristo, Lu Ain-Zaila, Nikelen Witter, Helena Terra, Irka Barrios, Clarice Lispector, Lisa Alves, Márcia Montenegro (brasileiras), Octavia Buttler, Toni Morrison (norte-americanas), María José Ferrada (chilena), María Fernanda Ampuero (equatoriana), Patrícia Portela (portuguesa), Bernardine Evaristo (inglesa), Laura Gallego, Rosa Montero, Elia Barceló, Cristina Campos (espanholas), Alice Hasters (alemã) e tantas outras. Com todas elas aprendi… imensidades!

E quanto a autoras maranhenses, o Mural das Minas (aqui neste site: https://regiaotocantina.com.br/arquivos/cultura/mural-das-minas/) está cheio de ótimas sugestões. Neste mural você encontra textos que tratam de questões filosóficas e existenciais, textos que falam do perigo da conformação, da necessidade de resistência e resiliência, que refletem sobre o papel do cuidado, da arte e da escrita, sobre o valor da autoestima e do autoconhecimento, sobre amor, relacionamentos, sexualidade, consciência de classe e gênero; há os que fazem denúncia social e todos eles mostram como a palavra é libertadora. Há também homenagens, tanto a homens quanto a mulheres, geralmente pessoas que foram apagadas da memória coletiva. Isso, porque as mulheres, diferente do patriarcado, não querem excluir ninguém, querem respeito e aceitação para todos os seres. É pedir muito? Bem, fica o convite: mergulhe nos textos de autoria feminina, descubra o que as mulheres andam escrevendo e veja que outro mundo é possível, quando se quer!

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