Pedagogia do afeto; pedagogia do carinho; pedagogia da amizade; pedagogia da compreensão; pedagogia do respeito; pedagogia do amor; pedagogia romântica. Seja o nome que você queira dar a ela, o conceito-base é o mesmo: estabelecer, na relação professor-aluno, uma boa dose de sentimento, de valores humanos, por excelência.
Parece uma coisa óbvia isso. E é. Muitos teóricos da educação já disseram isso, de maneira muito bem elaborada, inclusive com citações técnicas. Mas não é o que observamos, na prática das relações pedagógicas Brasil afora. No geral, a docência se configura uma relação verticalizada, com papéis muito marcados entre professor e alunos, com posições de sujeito bem definidas, às vezes no próprio planejamento pedagógico. O professor é aquele que sabe, que dá a nota, que organiza o tipo de conhecimento e o modo de transmiti-lo, o “dono da disciplina”, o responsável pelo estabelecimento da “grade curricular”. Perceba os nomes: “disciplina”, “grade curricular” e perceba a falta até de sutilezas na distribuição dos papéis na sala de aula e em todo o processo do ensino formal, em todos os níveis – da alfabetização à pós-graduação (“Não brigue com seu orientador!” Quem já não ouviu isso??).
Isso se potencializa nas posturas professorais, que via de regra são tecnificadas e pouco humanizadas. O bom professor é aquele que “coloca o aluno no seu lugar”. Se o aluno fica reprovado, azar o dele. Se metade da turma fica reprovada, ele é um bom professor, ele é rígido e merece ser seguido. Ele deu uma lição à malandragem…
Mas a docência não é um processo técnico. O aluno não é um receptáculo de conhecimento, não é um “balde” onde o mestre despeja sabedoria. O professor não é um programa de computador que fornece a melhor informação sobre a sua disciplina. A escola não é uma Wikipédia. Há, na essência do processo educacional, fundamentalmente, um componente humano, que muitas vezes é negligenciado.
Penso que o professor, se quiser honrar a escolha profissional que fez, deve estabelecer uma relação afetiva com seus alunos, deve construir uma relação humanizada. Isso não significa não reprovar, não significa não ser durão quando precisa. Isso significa compreender que, do lado de lá da sala de aula (que normalmente está mobiliada de maneira a marcar as posições de quem ensina e de quem aprende) estão pessoas, com desejos, opiniões (às vezes, divergentes das suas, por que não?), problemas de vida e, quase sempre, necessidades afetivas – de compreensão, de carinho, de afago – “o mundo anda tão complicado”, como cantou o Renato Russo, um tempo atrás.
Reprove o aluno, se precisar. Seja duríssimo com ele, se necessário for. Não permita que ele assista à sua aula por uma semana. Mas faça tudo isso dando a ele a certeza de que você se preocupa com ele, que faz isso para o próprio bem da vida dele, que o chama pelo nome por respeito, consideração e afeto. Assim, mesmo reprovado, mesmo interditado, ele vai ter em você um amigo.
“Não sois máquinas; homens é que sois”. Quem disse isso foi Chaplin, no clássico “O Grande Ditador”. E ele nem era professor. Ou era?