Há quem goste e há quem odeie e quem alegue que é muito improvável de acontecer na vida real, mas é inegável que por muito tempo os chamados “triângulos amorosos” fizeram parte de muitas histórias na cultura pop. A rivalidade principalmente em torno da disputa do coração da mocinha por dois personagens masculinos, e geralmente sempre muito atraentes, permeou por muito tempo no imaginário de muitos leitores, criando até mesmo nomes para definir a torcida por um determinado personagem, como “#teamfulano”. Por outro lado, também era comum haver o “triângulo amoroso reverso”, no qual duas mulheres disputavam a atenção de um homem, algo que mesmo na época já podia ser visto como algo bem problemático, pois enfatizava ainda mais a rivalidade feminina. É verdade que houveram triângulos amorosos interessantes e bem desenvolvidos, assim como casos em que essa temática não foi tão bem trabalhada, como iremos discorrer na nossa lista abaixo.
Sendo considerada uma das sagas adolescentes mais famosas até hoje, “Crepúsculo“, de Stephenie Meyer, foi precursora de triângulos amorosos na literatura. Na saga de vampiros, a protagonista Bella Swan, apesar de sempre se enxergar como uma garota sem graça aos olhos masculinos, passa boa parte da história sendo disputada por dois rivais: Edward, tido como um vampiro belíssimo e Jacob, um lobisomem musculoso. Com o tempo, fica claro que a jovem ama o vampiro, apesar das investidas de Jacob, que começou a demonstrar atitudes obsessivas com a garota, como beijá-la à força. Por muito tempo, o triângulo amoroso foi responsável por mover a trama, gerando torcidas fervorosas nos fãs da saga. Apesar de ser uma história de romance, aqui o triângulo amoroso mais atrapalhou do que contribuiu para o desenvolvimento do enredo, fazendo com que tramas mais importantes ficassem em segundo plano, como a aparição dos Volturi.
Durante a era das adaptações de distopias, “Jogos Vorazes” roubou os holofotes. Suzanne Collins faz uma forte crítica social em sua trilogia, onde crianças e adolescentes dos pobres Distritos são forçados a lutar uns contra os outros para divertir uma Capital privilegiada e rica. Apesar do enredo carregado e sombrio, aqui a protagonista Katniss se vê presa não somente numa trama política, como em um triângulo amoroso entre seu melhor amigo Gale e Peeta, seu parceiro de Distrito nos Jogos Vorazes. Apesar de inicialmente não se darem bem, os dois tributos do Distrito 12 são forçados a fingir um relacionamento amoroso, a fim de manterem as aparências e entreter a audiência do reality. Aqui, o triângulo amoroso se mostra um tanto problemático, principalmente por se tratar de uma trama política e que não deveria ser centrada em desenvolver um romance. O laço de amizade entre Gale e Katniss não deveria ser um pontapé para um romance, ainda mais que no fim a autora descarta o personagem de forma abrupta e sem motivo aparente.
Outra série literária a se utilizar de um triângulo amoroso como pano de fundo para a narrativa é “Instrumentos Mortais”, de Cassandra Clare, em que a protagonista Clary se vê envolvida em uma guerra celestial e se apaixona pelo forte guerreiro Jace Wayland, cuja paternidade é constantemente contestada ao longo dos livros, rendendo o primeiro término do casal. Jace e Clary acabam sendo levados a pensarem que são irmãos e com isso Clary se envolve brevemente com seu melhor amigo Simon, que sempre foi apaixonado por ela. Nesse caso, o personagem Simon acaba se enquadrando no clichê da “friendzone”, uma vez que o relacionamento dos dois não perdura por muitos capítulos e Clary volta a se aproximar de Jace, apesar de até então serem irmãos. O casal protagonista apenas se resolve quando o verdadeiro irmão de Clary aparece na trama.
Uma trama que mistura distopia com um toque de romance de realeza, “A Seleção”, de Kiera Cass, também trouxe um forte triângulo amoroso que causou muito fervor no fandom. Há quem torcia por Maxon e quem torcia por Aspen, apesar de, assim como em Jogos Vorazes, por exemplo, aqui a trama política em si já era suficiente por si só. America se vê obrigada a se separar de Aspen, seu amor de infância, para participar da Seleção para escolher a próxima princesa de Illéa, a qual sua mãe a forçou a se inscrever e, de quebra, incentivada pelo próprio Aspen. Quando se aproxima do príncipe Maxon, além de descobrir mais sobre ele e as artimanhas da realeza, a jovem passa a nutrir sentimentos profundos pelo herdeiro da coroa. Tudo piora quando Aspen vai trabalhar dentro do palácio e entra em conflito não só com a realeza, mas com todas as problemáticas envolvendo o reino e rebeliões por todo o país, além de colocar em risco a vida de America no processo apesar de se apaixonar por outra garota enquanto continua se pegando com a ex-namorada com o perigo de serem pegos e mortos por traição ao príncipe e, portanto, traição à coroa.
No mundo de Sarah J. Mass, temos um continente separado por uma muralha que divide feéricos e humanos após anos de guerra. A jovem Feyre não imaginava que ao sair para mais um dia de caça, iria se separar de sua família e se deparar com uma maldição que assolava Prythian, o reino dos feéricos. É aí que ela conhece Tamlin, grão-senhor da Corte Primaveril, o qual ela desenvolve um romance profundo e a princípio épico. Ainda no primeiro livro, ela conhece o enigmático Rhysand, que se mostra um feérico arrogante e rival de Tamlin. Feyre, apesar de não simpatizar com ele a princípio, cria uma conexão que só é explicada no segundo livro, quando Rhysand a “sequestra” de seu casamento com Tamlin, salvando-a de um relacionamento tóxico. Os dois então desenvolvem seu relacionamento, apesar de ainda terem que lidar com Tamlin a fim de lutar contra as forças do rei de Hybern, que deseja destruir não só Prythian, mas também o reino humano.
Recentemente, a Netflix produziu a série “O Mundo Sombrio de Sabrina”, que contava a história da jovem bruxa Sabrina Spellman, que dividia seus dias entre ser uma adolescente mortal e uma bruxa de um coven. Ela inicia a trama namorando o jovem mortal Harvey, o qual desconhece sua origem sobrenatural, o que dificulta de certa forma o relacionamento dos dois, principalmente após descobrir sobre o passado de caçadores de bruxas da família de Harvey. Logo somos apresentados ao jovem bruxo Nicholas, que Sabrina conhece na escola de bruxos. Com o tempo, o relacionamento de Sabrina e Harvey se desgasta após o humano descobrir a verdadeira origem da bruxinha, o que faz com que ela se aproxime de Nicholas e se envolva em um relacionamento com ele. Mesmo com várias tentativas do roteiro de reaproximar Harvey e Sabrina, a química entre Sabrina e Nick acabou sendo mais forte e ganhando mais fãs, o que fez com que Harvey acabasse ficando em segundo plano.
Sendo uma série que mistura mistério e suspense, “Manifest” intriga muitos fãs sobre a verdadeira razão por trás do desaparecimento do voo 828. Um dos passageiros a ter a vida completamente mudada por esse fato foi a jovem policial Mikaela. Ao retornar depois de 5 anos sendo até então considerada morta, ela descobre que seu namorado Jared seguiu adiante e se casou com sua melhor amiga. Como se não bastasse, quando ela se envolve com Zeke, ao final da 1ª temporada, Jared constantemente passa a assediá-la, tanto no trabalho como na vida pessoal, o que acaba resultando em um conflito que acaba com Mikaela indo parar no hospital. Esse triângulo amoroso acaba sendo um exemplo problemático, uma vez que tudo acontece simplesmente pela recusa de Jared em aceitar que Mikaela siga em frente sem ele, embora ele possa fazer o mesmo.
Sendo ambientada na Índia, “A Maldição do Tigre”, de Colleen Houck, nos traz uma trama de fantasia épica com muita mitologia indiana e uma aventura empolgante. A jovem Kelsey precisa livrar o príncipe Ren de uma maldição que o aprisiona na forma de um tigre branco, assim como seu irmão Kishan, em um tigre negro. A partir do segundo livro, quando Ren é sequestrado pelo vilão Lokesh e responsável pela maldição, ela se aproxima de Kishan, que até então se mostrava totalmente o oposto de seu irmão. Em meio às tarefas e desafios dados pela deusa Durga, ela se vê dividida entre os dois irmãos, principalmente quando Ren perde a memória, sem que ela saiba que ele fez isso para protegê-la de Lokesh.
Uma trama vampiresca que possui muitos fãs até hoje, “Diários De Um Vampiro” nos apresentou a jovem Elena Gilbert que estava devastada com a morte dos pais, mas tudo muda quando ela conhece o misterioso Stefan Salvatore, por quem se apaixona. Se tratando da série, o triângulo amoroso acabou sendo desenvolvido com a chegada de Damon, irmão de Stefan e um vampiro muito perigoso. À princípio, Damon e Elena se odiavam, construindo uma relação de “amor e ódio” com o tempo, que logo resultou em uma paixão arrebatadora entre os dois. Muito dessa química acabou passando para a tela principalmente pelo fato de até então Nina Dobrev e Ian Somerhalder, intérpretes de Elena e Damon, estarem em um relacionamento na vida real. Por muito tempo, os “shippers” denominados “Stelena” (Stefan e Elena) e “Delena” (Damon e Elena), renderam muitas brigas na internet entre os fãs da série.
A série teen “Gossip Girl” rendeu vários triângulos amorosos ao longo da trama, mas o primeiro deles a aparecer é aquele vivido por Blair Waldorf, Serena Van Der Woodsen e Nate Archibald. Aqui, o triângulo amoroso gira em torno da rivalidade feminina entre as protagonistas, Blair e Serena, que são amigas de infância. A amizade entre as duas é rompida quando Blair descobre que Serena e Nate, seu até então namorado, se envolveram em uns amassos em uma noite de bebedeira. O que resulta em um rivalidade que vai além da disputa pelo mesmo cara, tendo reflexos na vida pessoal e profissional de ambas, onde qualquer coisa vira motivo para intriga entre as duas.
Na trama de época “Downton Abbey”, a personagem Lady Mary Crawley vê seu futuro arruinado quando seu noivo Patrick, que é seu primo de segundo grau e o herdeiro do título e da propriedade de seu pai – o Conde de Grantham, acaba morrendo no naufrágio do Titanic. Nisso, aparece na história o novo herdeiro do condado: Matthew Crawley, um advogado de classe média que é um parente muito distante da família. Os dois entram em conflito desde o princípio e iniciam uma história de “amor e ódio”, mas que é interrompida quando a mãe de Mary fica grávida e um possível herdeiro homem pode vir a nascer, tirando Matthew da herança. Com a recusa de Mary em se casar com Matthew sem saber se teriam uma vida rica ou simples juntos, os dois terminam. Mas os sentimentos entre ambos são testados quando a Primeira Guerra atinge a Inglaterra e uma nova mulher aparece na trama: Lavínia Swire, a noiva de Matthew. Aqui o triângulo amoroso poderia ter criado o clichê da rivalidade feminina, mas o roteiro nos surpreende quando opta por se desviar desse caminho ao criar uma boa relação entre as personagens femininas que se tornam parceiras e confidentes, visando o bem-estar de Matthew.
Um triângulo amoroso que nos surpreende com o final é o vivido por Korra, Asami e Mako na animação “A Lenda de Korra”. No começo, Korra conhece e se apaixona por Mako, que apesar de nutrir sentimentos pela mesma, acaba conhecendo e se deslumbrando pela beleza de Asami com quem acaba namorando. Não caindo no clichê, Korra e Asami, não desenvolvem uma rivalidade feminina, preferindo se unir em uma luta em comum contra a tirania de um ditador. Quando Mako termina seu relacionamento com Asami para ficar com Korra, Asami continua leal a amizade que desenvolveu com Korra e não deixa com que seus sentimentos por Mako atrapalhem seu julgamento. Com o desenvolver da trama, Korra e Mako descobrem que apesar de se amarem, seus interesses pessoais e suas personalidades diferentes, impossibilita um romance saudável e terminam o namoro (duas vezes, já que Korra sofreu amnésia em determinado ponto). O que surpreende nesse triângulo amoroso, é que apesar de terem tudo para criar uma rivalidade entre Korra e Asami, a série faz justamente o oposto: as duas se unem por um bem comum, se tornam melhores amigas, não deixam um homem arruinar sua amizade, e eventualmente as duas se apaixonam e se tornam um casal.
Outro triângulo amoroso criado por Cassandra Clare é o vivenciado por Mark, Kieran e Cristina em “Os Artifícios das Trevas”. Mark, um Caçador das Sombras meio-fada, e Kieran, um príncipe feérico, se conhecem durante a Caçada Selvagem e logo se veem conectados pela sua dor: os dois entendem o que é ser exilado e traído por sua própria espécie. Mark acaba descobrindo sua sexualidade como bissexual ao se ver apaixonado pelo parceiro de caçada, e Kieran apesar de retribuir o sentimento tem medo da rejeição. Quando os dois abrem seus corações e compartilham seu primeiro beijo, eles logo engatam num relacionamento. Porém, os dois acabam rompendo quando Kieran sem querer põem em risco a vida de membros da família de Mark. Nisso os dois se afastam e Mark, retirado da Caçada Selvagem, volta a morar com a família no Instituto de Los Angeles, onde conhece e se apaixona por Cristina Rosales. Eventualmente, Kieran perde a memória acerca do término do namoro e Mark acaba usando isso a favor de um acordo entre as fadas e os Caçadores de Sombras, mas essa nova interação acaba resultando na aproximação de Kieran e Cristina que também desenvolvem sentimentos um pelo outro. No fim, os três acabam com as intrigas e ressentimentos e se tornam de fato um trisal, resolvendo qualquer conflito entre eles e sendo felizes juntos.
É fato que o triângulo amoroso é de certa forma muito visado principalmente por jovens leitores, que se encantam com os galanteios e a disputa de dois personagens masculinos pela mocinha. Por outro lado, outros acham algo maçante e pouco provável de acontecer na vida real, que precisa ser bem feito ou até mesmo há aqueles que acreditam que a época já passou, mas os triângulos amorosos podem servir para nos mostrar que relacionamentos nem sempre são perfeitos ou que determinadas pessoas foram feitas para ficarem juntas. Talvez, o verdadeiro amor da vida da protagonista ainda esteja por surgir no momento certo – ou quem sabe vá ser aquele personagem que menos esperamos.
O triângulo amoroso em “Território de Fúria”
Além de ter que lidar com o fato de ter sido a única testemunha de um assassinato terrível, a protagonista Valerie ainda chama bastante a atenção de dois personagens masculinos – e que não são personagens quaisquer: Cade e Roman.
Ela acaba se envolvendo com Cade ao saber que a vítima que foi assassinada era Aidas, melhor amigo e espião de Cade. Os dois a princípio são bem arredios um com o outro: Cade por não simpatizar com os comuns (humanos) como ela e Valerie por odiar mentalistas como ele. Cade se vê obrigado a “tomar conta” da garota como forma de honrar o último pedido de seu melhor amigo – e também para protegê-la do assassino, que sabe que ela viu toda a cena do crime, apesar de não ter visto seu rosto. Os dois acabam se aproximando e se envolvendo, mesmo que com o tempo Valerie ainda viria a descobrir mais sobre Cade e todo o mistério em torno do espião e do assassinato.
Roman acaba não transmitindo uma boa impressão para Valerie. Apesar de ser um dos mentalistas mais poderosos, além de ser tratado quase como um deus, ele não dá a mínima para ela. Só quando seu melhor amigo é atacado e quase morto pelo assassino é que ele passa a se importar com o caso e a garota. Por ser sempre um alvo por conta de seu poder, ele passa a nutrir sentimentos por Valerie – e ela por ele – quando ambos precisam se unir, o que desperta a ira de Cade, que vê Roman como seu rival. Tudo só piora quando Valerie descobre mais sobre Cade e suas verdadeiras intenções na guerra que está se formando e de qual lado ele verdadeiramente está.
Dicas para criar um triângulo amoroso em uma história:
- Dois homens disputam a mocinha? Isso precisa ser bem feito! É realmente necessário e faz sentido com a história? O leitor realmente vai ficar na dúvida com quem ela vai ficar?
- Nada de rivalidade feminina! Duas garotas podem gostar do mesmo homem? Podem! Mas isso não pode torná-las inimigas mortais apenas por isso ou interferir no desenvolvimento delas.
- Pense em como o triângulo amoroso pode se encaixar na história.
- Se sua história tem como cenário uma guerra, não coloque o triângulo amoroso em primeiro plano! Se há uma guerra rolando, foque na guerra e não em com quem a protagonista vai terminar no final do livro. Nesses casos, pode haver romance sim, mas ele deve vir em segundo plano e não como ato principal!