Região Tocantina – Como você descobriu que queria ser escritor?
Alysson Steimacher – A vontade de ser escritor nasceu junto com o hábito da leitura, sem dúvida alguma. Eu sempre fui daqueles leitores compulsivos, que lia até bula de remédio, que atravessava a rua para ler um cartaz, que lia desde Hq’s até romances clássicos. A ideia de que, em cada livro, pudesse existir um universo diferente sempre me fascinou. Um dia, a vontade de criar meus próprios universos bateu a porta e eu fingi não ouvir. Mas a vontade ficou lá, batendo, batendo, até que um dia eu criei coragem (sim, escrever para mim é um ato de coragem…) e eu resolvi escrever minha primeira história completa. Acho que a parte mais difícil neste processo, ao menos para mim, foi (ou está sendo…) o de se assumir como escritor. A síndrome de impostor ainda bate à porta vez em quando e espero que um dia ela desista.
Região Tocantina – Por que escolheu a literatura de terror e mistério?
Alysson Steimacher – Definitivamente, não foi uma escolha, ao menos não consciente. Eu cresci lendo clássicos da literatura de mistério e de horror, de Agatha Christie a Arthur Conan Doyle, de Edgar Alan Poe a Stephen King. Foi este tipo de literatura que eu escolhi como leitor, então a transição para escritor foi uma coisa natural. Eu queria escrever as mesmas histórias que me tiravam o sono, que me colocavam em uma cena do crime, que me faziam percorrer a cidade em uma investigação atrás de um assassino, colhendo pistas como em um quebra-cabeças.
Região Tocantina – Você, vindo de outra área (a Física), teve alguma dificuldade em escrever literatura?
Alysson Steimacher – Se eu tive? (Risos). Eu tenho até hoje. A Física é um curso fascinante, que te prepara para resolver os problemas do universo. Por outro lado, a Física não te ensina nada sobre como construir os arcos de um personagem, escolher o melhor tipo de narrador, como ambientar uma cena. Metade eu aprendi como leitor, empiricamente. A outra metade ainda estou aprendendo, fazendo cursos especializados para escrita de ficção.
Região Tocantina – Como você cria suas histórias? De onde elas surgem?
Alysson Steimacher – Eu sempre escuto por aí que existem dois tipos de escritores; o jardineiro e o engenheiro. O jardineiro é o tipo que tem uma ideia e começa a escrever, sem saber direito aonde aquela ideia vai te levar. O engenheiro, por sua vez, planeja a história e conhece o início, o meio e o fim antes de começar a escrever. Eu, talvez por minha formação em ciências exatas, sou do tipo engenheiro. Quando eu tenho uma ideia, ela vem como o fio em um novelo. Eu começo a puxar, e puxar, e puxar e uma ideia vai se ligando a outra, e outra, e outra. As melhores ideias vêm quando não estou pensando em literatura, quando estou distraído com alguma atividade cotidiana. Lavar louças, por exemplo, é uma fonte imensa de ideias. Já perdi a conta de quantas vezes precisei parar com a louça para anotar uma ideia.
Região Tocantina – Que autores e autoras inspiram você?
Alysson Steimacher – Nossa, a lista é grande. No Brasil, gosto muito do Machado de Assis, que tem alguns contos de terror excelentes, além da produção já consagrada. A Lygia Fagundes Telles, que morreu recentemente, também tem alguns contos fantásticos, como o “Venha ver o pôr-do-sol”. Para os autores estrangeiros, talvez seja necessário dividir por categorias. No realismo mágico/fantástico, gosto muito do Gabriel Garcia Márquez, do Jorge Luis Borges e do Haruki Murakami. No suspense/mistério, ainda fico nos clássicos Agatha Christie e Arthur Conan Doyle, mas vou acrescentar o Michel Bussi pelo excelente “Ninfeias Negras”. Na fantasia, gosto muito do Neil Gaiman, do J. R. R. Tolkien e do Terry Pratchett. No terror, gosto muito do Clive Barker e do Stephen King.
Região Tocantina – Qual é (sem spoiler!) a história do seu romance?
Alysson Steimacher – “O signo do seis” é um romance policial que se passa na cidade de Brumar (cidade fictícia inspirada em São Luis do Maranhão). O livro é focado nas histórias pessoais de dois investigadores que buscam um serial killer que está aterrorizando a cidade, matando crianças em estranhos rituais. Enquanto resolvem o mistério, os investigadores serão engolidos por um turbilhão de segredos do passado, enquanto o tempo corre mais rápido a cada morte.
Região Tocantina – Que outras histórias podem vir por aí?
Alysson Steimacher – Para o próximo ano deve sair mais um livro dessa série “Brumar”. Os personagens dessa série não vão me dar sossego tão cedo e eu já comecei a planejar o novo romance. Ainda estou devendo o segundo livro da série “Áurea”, que já está planejado, então ele deve sair em breve também. Para este ano ainda quero publicar alguma história mais curta, um conto ou uma noveleta, provavelmente um cozy mystery.
Região Tocantina – O que você diria para quem também quer começar a escrever ficção?
Alysson Steimacher – Primeiramente, não deixe para amanhã. Teve alguma ideia? Rabisque em algum canto, deixe anotado. Muitas vezes uma ideia puxa a outra e assim nasce uma história. Comece por algo curto, um conto, por exemplo. Você vai ver o resultado rápido e vai ficar motivado a escrever outro, e outro, e talvez isso leve você a querer escrever coisas maiores, como noveletas e romances. Estude, tem muito material gratuito sobre escrita na internet. Hoje em dia temos a facilidade da autopublicação em diversas plataformas digitais. A Amazon, por exemplo, te permite publicar uma história (sem custo algum para você) que ficará disponível para o mundo todo. Escrever é um processo viciante, deixe isso te embriagar.