Humanidade, mitologia, amor, pecados, homenagens e São Luís. Estes são alguns dos temas presentes em A Bula dos Sete Pecados (Palavra & Verso, 2020, 120 páginas), do jornalista, advogado e escritor maranhense Mhario Lincoln. O livro apresenta poemas com diferentes formatos, musicalidades próprias e um criativo jogo de palavras para compor as rimas, as estrofes e os versos, como em “Sextou?”:
“Sextou,
se estou,
sextante.
Sextou
Se estou
Sexteto” (pág. 97).
O texto que dá título ao livro é tanto uma receita médica para lidar com os sete pecados que amaldiçoam a humanidade quanto conselhos e dicas para uma vivência melhor e mais saudável. Como combater a gula? Com “aceitação, boa vontade, resignação”. A preguiça é um obstáculo constante, o que fazer? Segundo a bula, “só por hoje objetivar-se sem infringência”. E a ira, um sentimento tão negativo e incontrolável, pode ser amenizado com “Perdão, perdão, perdão… e bem-aventurança” (pág 33).
A cidade de São Luís, terra natal do autor, é lembrada através de homenagens. Em “Amantes” (pág. 68), a capital maranhense é descrita e confessada como a musa de seu poeta. Já em “São Luís era virgem” (pág 69), Mhario Lincoln compartilha uma breve lembrança de como era a capital maranhense no passado, homenageando-a através de palavras capazes de transportar momentaneamente o leitor para aquela memória:
“Domingo enchia minhas tardes de verão,
Numa São Luís divina, vestida de sonhos.
Praça D. Pedro II, luzente Catedral,
Paixão do poeta pela ilusória vestal.
Tarde de domingo, entradas cor-de-rosa
azuis, amarelas, colorindo sonhos
do Cinema, para assistir a filmes
em preto e branco”.
Por fim, vem “Ode a Pandora” (págs 36 e 37), que reconta o mito da Caixa de Pandora com rimas inteligentes e bem encaixadas, mesmo sem a mesma estrutura versada de outros poemas. Descreve o processo de criação da personagem pelos deuses gregos, o casamento com Epimeteu e o presente que levou a curiosidade da mulher a libertar todos os males no mundo, trazendo um questionamento sobre a função do último elemento que ficou preso na caixa: “E a esperança é o bem ou o mal?”.
Ao final, uma interpretação:
“Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem,
Se deixassem torturar, porque a esperança é o pior dos males,
Pois prolonga o suplício de todos os homens… Veja no que deu!”
A Bula dos Sete Pecados é um livro de poemas rico em temas, uma execução criativa e é um deleite tanto para quem gosta deste gênero literário quanto para aqueles que não costumam se aventurar nas poesias.