Nos últimos dias nos chocamos mais uma vez com o brutal assassinato de uma pessoa negra, o africano Moise Kabagambe, cruel e covardemente morto após cobrar o que lhe era de direito: o pagamento atrasado.
Mas não é de hoje, nem de ontem, que essas notícias nos atingem em pleno dia e noite; tivemos um homem negro morto por seguranças de um supermercado, outro que foi literalmente chicoteado, um que foi executado com mais de 80 tiros em menos de 10 segundos, ao ser “confundido” com um crimonoso, e o mais próximo e recente caso de um jovem negro espancado em Açailandia simplesmente por possuir um carro.
Chocante, não é? Pelo visto nem tanto. É cada vez mais comum esse tipo de notícia e noto que o choque e revolta da população diminuem à medida que os casos aumentam; uma naturalização da morte dos corpos negros. Há quem diga que estamos voltando a 1800, quando negros eram escravos que valiam apenas pelas moedas de ouro que se pagava por seu trabalho. Corpos sem alma e sem valor humano para a sociedade da época.
Mas não estamos de volta ao Século XVIII. Nós, negros, nunca saímos de lá desde que a assinatura da Lei Aurea nos deu “liberdade” na mão e nenhum dinheiro ou perspectiva no bolso. Quando subimos aos morros, vivemos em favelas e nunca mais descemos, exceto por ainda poucas exceções.
No Brasil, o corpo negro sempre teve nenhum ou pouco valor social. Casos como o de Georg Floyd, morto por um policial e que culminou no movimento mundial “Black Lives Matter”, acontecem todo dia na sua esquina, na sua calçada, na porta da sua casa. Às vezes chega ao noticiário, às vezes não. Mas são poucos os que geram comoção e provocam um debate sobre o racismo.
A verdade é que ainda estamos presos em 1800 e com pouca perspectiva de avanço em um país racista e descriminatório que enxerga o assassinato brutal de um negro como apenas mais uma notícia na TV.