QUANDO A ESCRITA CHAMA
Ela desperta, abre a porta e as janelas, ouve os bem-te-vis e rouxinóis, percebe as folhas das árvores movendo-se, aspira as flores, respira a manhã, enquanto toma um café.
Pensa na caneta e no papel, sente necessidade de escrever, mas os afazeres do lar a prendem. E ela, quase que mecanicamente, reproduz os velhos e degastados hábitos. Mas a caneta e papel a chamam – o tempo é urgente.
Como que por espanto, ela se senta e se dá conta de que precisa renovar os propósitos da alma. É tomada, então, por uma felicidade pueril e começa a brincadeira com seus fiéis companheiros, desliza-se pelos caminhos da escrita. Ela pega a caneta e deita sobre o papel em branco os recados de sua alma inquieta e compõe seus versos com calma, musicando a essência de suas angústias e individualidade poética.
OLHAR E VER
Hoje pela manhã, fiz uma caminhada solitária no campo – árvores, flores, igarapés, canto de pássaros –, nenhuma dessas belezas ficou registrada no córtex; a retina não captou. Todo meu pensamento era sobre você: o sorriso tímido e claro, os olhos de mistério, as mãos sedentas do encontro, um corpo quente que me absorvia como ímã, o descontrole de minha respiração quando seu olhar encontrava o meu. Essas cenas tomam minha imaginação poderosamente. E eis que penso que o meu fado para sempre é ser o cenário das lembranças sobre você.
CRÔNICA DA ALFORRIA
Ella se deitou na grama e contemplou as estrelas. Desejou ser uma estrela, ter outras a sua volta, queria sentir-se livre também, longe de tentáculos. Queria estar junto a outras, mas dispensava a opressão, a vigilância, a cobrança; queria apenas companhia. Pensou que poderia correr descalça pela praia, sentir a brisa em seus cabelos e na pele, sentir o sol ofuscando-lhe a vista, lambuzar-se de sorvete e sorrir com a alma.
Fechou os olhos e respirou liberdade.
Sabia que tinha brilho; um brilho tímido, mas o tinha.
Um dia seria uma estrela
LIBERTA
Até ontem, Ella era apenas a mulher que cuidava da casa e da família, muito resignada. Mas, hoje, ela fugiu sem trégua, sedenta, faminta. Surgiu como quem sai do fosso, deixando para trás toda a sua apatia. Olhava a sua volta com olhar abundante e ambicionava novas experiências. Apertava com força entre as suas pernas todo o desejo reprimido e do rosto saltavam-lhe luzes em forma de lágrimas aliviadas.
Nas ruas, as pessoas a olhavam com admiração e abriam-lhe passagem com reverência e ela renascia, como uma deusa.
3 respostas
Você é mulher brilhante, sucesso.
Tem toda a minha admiração , uma pessoa maravilhosa.
Parabéns Poetisa, Ana Liz o Maranhão,o Brasil e o mundo precisa de pessoas como você!