A arte, em suas várias nuances, é toda forma de expressar os sentimentos: a alegria, a magia, o encantamento. É inegável que, por si só, a arte não existe, mas está à mostra em todos os recantos, seja em uma rádio, ouvindo uma boa (ou má) música, seja na TV, assistindo a um comercial, a uma novela, a um filme, ou até mesmo em quadro esquecido na parede. Enfim, a arte existe nos menores detalhes. E quando nesse mundo mágico das artes o alvo principal é o riso? E quando tudo que faz graça lembra um palhaço? Mas onde está o palhaço? Qual seu lugar no mundo das artes? Passando recentemente por nossa ilha, um dos maiores “palhaços” de nossa geração, o eterno Trapalhão Dedé Santana, disse em uma conversa muito informal, que “ o circo é a mãe de todas as artes”.
Foi nessa magia do circo, do riso ensurdecedor do palhaço, que a Companhia de Teatro Humanitas, sediada em Timon, trouxe ao público O Sorriso do Palhaço de Deus; evento apresentado em um formato relativamente novo, mas sem perder o encanto do teatro, o espetáculo se passa em um ambiente circense, com objetos que ganham vida, como carrossel, globos coloridos, bonecos, tendas, tudo envolve o espectador. Sobre o desafio de levar o teatro para o audiovisual, o diretor do Humanitas, Junior Marks, declarou: “ claro que nada substitui o teatro, o ao vivo, o nosso ritual sagrado, mas claro que enquanto a gente não pode estar de volta neste espaço tão importante, a gente vai achando essas alternativas para continuar se sentindo vivo”. Com isso, o distanciamento nos aproxima um do outro, em meio ao caos em que vivemos.
O Sorriso do Palhaço de Deus é um espetáculo que traz uma mistura de sentimentos, pois contagia a cada um que assiste. “Um misto de sentimentos invadiu meu coração, pude me ver dentro do texto, em cada momento do espetáculo teleteatral”, comemorou a professora de dança Leidilene Silva. Com direção geral de Rodrigo Serra, Maquiagem de Francarlos, produção de Leandro Soares, texto de Carlos B. Filho, aliado à interpretação impecável de Junior Marks, tudo se casa perfeitamente dentro do audiovisual, forma encontrada pela Companhia Humanitas de Teatro para levar um pouco de entretenimento ao público. Cada movimento ou ambientação do teleteatro não deixa nada a desejar, pois prende a atenção do espectador do início ao fim. Sobre a ideia do teleteatro, o professor e diretor de teatro Marcos Dominici, do grupo Teatro Improviso, relatou que “a tentativa (que é uma coisa nova) de misturar as linguagens do teatro com a do audiovisual ainda é experimentação, foi muito interessante perceber as duas coisas ao mesmo tempo. Tudo é novo, mas é instigante, deixa aquele tempo teatral de você pensar e analisar nessa pegada contemporânea”.
Há uma grande dicotomia entre o ator e o personagem. A atuação de Junior Marks é primorosa. Na cena, ele lança mão do glamour e se esbalda na vida cotidiana dos palhaços. O ator “brinca” com assuntos sérios, deixando bem claro que a vida de palhaço não tem essa graça toda. “É impressionante a dicotomia entre o palhaço e o ator ali configurada. Um texto impactante, confessional e até de engajamento social, uma vez que o palhaço ainda é uma figura pretendida na sociedade e na arte”, sentenciou a professora e psicopedagoga Fernanda Michelle. De fato, há profundas mensagens críticas de cunho social mensuradas na voz da figura engraçada do palhaço, “para onde o palhaço vai, a alegria vai atrás. Se o palhaço sentir dor, é uma dor engraçada. Se o palhaço sentir fome, é uma fome engraçada. Se o palhaço for assassinado, é um assassinato engraçado” (texto de Carlos B. Filho).
E para comemorar seus 21 anos de estrada, muitos sacrifícios e árduos trabalhos, o grupo Humanitas está trazendo para o público em geral várias apresentações no teleteatro (teatro no audiovisual). Além de “O Sorriso do Palhaço de Deus”, está apresentando também “Suite 21” e “O Soldado e a Floresta”. Todos esses espetáculos vão estar disponíveis no canal do Youtube Humanitas Grupo de Teatro.
O espetáculo “O Sorriso do Palhaço de Deus” é um alento para todos nós que estamos reclusos em nossos lares. O texto é todo simbólico, no entanto, no desenrolar da história, deixa pistas metafóricas, para que cada um possa fazer suas próprias interpretações. Quando se fala em palhaço, a primeira coisa que vem à mente é muita alegria, sorrisos fartos, porém, há vários questionamentos sobre isso: “Para onde vai o palhaço?”, “Que sina é essa?” “Deus, que sina é essa?”. São incógnitas como essas que nunca paramos para enxergar além, porque o palhaço é sinônimo de alegria sempre, ele está por aí, nas portas das lojas, chamando atenção do consumidor, está em cima dos carros, pulando, gritando, cantando e distribuindo alegria para todos.
Sabemos que o palhaço é uma figura emblemática dentro das artes em geral, no entanto, não só de “graça” vive o palhaço.