Quando o jovem advogado Agostinho Noleto se mudou para Imperatriz, a cidade não tinha quase nada do que tem hoje. Ele, literalmente, viu a cidade crescer. E não só isso: ele contribuiu com esse crescimento, refletindo sobre ele, atuando na justiça e na educação, na cultura e na literatura. Nesta entrevista, Agostinho Noleto reflete sobre este percurso que na cidade fez. Acompanhe.
Região Tocantina – Como era Imperatriz quando o senhor chegou?
Agostinho Noleto – Falar de Imperatriz, que vi pela primeira vez em julho de 1968, é um gratificante exercício de memória, mas mergulhado em nostalgia. Fala-se de uma cidade interiorana tomada por súbita explosão demográfica, sem definição urbana e desprovida de qualquer planejamento que se pudesse antever a metrópole que se tornaria. Com cerca de 30.000 habitantes, a cidade pulsava em descompasso urbanístico, mas revelava força econômica e incipiente vida social. Não tinha água encanada, luz elétrica, telefone, ruas calçadas, praças, jornais e rádios e nem suspeita de sinal de TV. Lembro que ficávamos ao pé dos aviões que chegavam semanalmente do sul do país, pedindo aos tripulantes que cedessem jornais já lidos pelos passageiros. Notícias do mundo, sabia-se pelas ondas da Rádio Nacional e algumas emissoras do exterior, como BBC de Londres, rádio de Havana e Moscou, cujas ondas sonoras chegavam até nós.
De Imperatriz de 1968, o melhor que se podia dizer é que era um grande garimpo, sem ouro nem pedras preciosas, mas com uma população adventícia ávida de prosperidade que suas terras natais não ofereciam.
Região Tocantina – A Belém-Brasília foi tão fundamental assim para o crescimento da cidade?
Agostinho Noleto – Mais do que fundamental, eu diria que Imperatriz foi refundada por Bernardo Sayão, o engenheiro chefe da construtora pública que Juscelino Kubitscheck criou para construir a rodovia da integração nacional. Sem ela, a rodovia BR-010, estaríamos muito próximos da pequenina cidade fundada por Frei Manoel Procópio. A Belém-Brasília rasgou a pré-Amazônia maranhense e entregou aos aventureiros de todo o Brasil terras e matas de um mundo novo que fez de Imperatriz sua capital.
Região Tocantina – O senhor acredita que, no caso de Imperatriz, é conveniente falar em crescimento e não em desenvolvimento?
Agostinho Noleto – Para esta pergunta, o primeiro impulso é responder que havia crescimento sem desenvolvimento em Imperatriz das décadas de 60 e 70, haja vista que o vigor econômico vinha do aproveitamento irracional e altamente depredador dos recursos naturais abundantes representados pelas terras devolutas de espessa cobertura florestal de valor inestimável, atacada e destruída para possibilitar a monocultura do arroz e subsequente formação de pastagens para o gado das grandes fazendas que iam surgindo. No plano urbanístico, o ajuntamento de casas toscas, provisórias, geminadas, sem padrão arquitetônico, sem espaços públicos, em ruas densas e sinuosas, não se podia falar que ali houvesse interesse em desenvolvimento. Bastava o crescimento visível e desejado pelas correntes migratórias que aqui chegavam.
No entanto, como negar que, por trás e a despeito de tudo, o desenvolvimento espreitava a cidade extraordinária que se tornava Imperatriz? Se não estivesse presente no inconsciente da população da nova cidade de Imperatriz um arraigado espírito desenvolvimentista, porque acreditava que o fenômeno socioeconômico do qual participava era mais do que simples crescimento vegetativo, não seríamos a maior e mais desenvolvida metrópole do interior da Amazônia.
Imperatriz cresceu e se desenvolveu a despeito da insustentabilidade da violenta e devastadora causa econômica a que foi submetida.
Região Tocantina – Como o senhor avalia hoje a cidade de Imperatriz?
Agostinho Noleto – Meio século atrás, dizia-se que Imperatriz estava fadada a um grande destino. Era a forma de assumir o desconforto de uma cidade inóspita, em todo sentido. Hoje, a mesma afirmação toma por base o progresso que está contido na cidade. Não há mais adivinhação: Imperatriz é e será o mais desenvolvido centro urbano do Maranhão, depois da capital. Com seus quase 300.000 habitantes é uma das cem maiores cidades do Brasil. Sua trajetória de desenvolvimento social, econômico, cultural, educacional tem poucos similares em todo o país.
Região Tocantina – E, fazendo uma projeção, para onde o senhor acha que a cidade caminha, em termos de progresso?
Agostinho Noleto – No princípio da segunda fase histórica de Imperatriz, com o advento da Belém-Brasília, o progresso foi sustentado pela economia primária, monocultura do arroz e pecuária bovina. Quase simultaneamente deu-se o crescimento do setor terciário, representado pelo volumoso comércio varejista e prestação de serviços diversos. O setor secundário restringia-se à indústria de beneficiamento de arroz pelas usinas que vendiam seu produto no mercado de Anápolis e outras praças. Mas somente começou a se desenvolver com o surgimento da indústria madeireira de aproveitamento do que restou das matas derrubadas e incendiadas com milhões de metros cúbicos de madeira nobre de inestimável valor. Foi uma nova fase da economia que sustentou o progresso de Imperatriz por mais de uma década, até que se esgotaram as últimas reservas de matas.
Atualmente, a indústria, que gera emprego e renda, cresceu substancialmente e ao lado da atividade primária e terciária eleva o produto interno bruto – PIB e faz crescer o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. A grande indústria de celulose e suas florestas de eucalipto e muitas indústrias de transformação de matéria-prima garantem o progresso de Imperatriz.
O setor terciário agregou o polo universitário como um dos vetores da nova economia de Imperatriz e o grande comércio atacadista e varejista projeta a cidade na direção do progresso de desenvolvimento sustentável e do grande destino do qual falávamos atrás.
Região Tocantina – O senhor acredita que Imperatriz está reservada a ser, um dia, capital de um novo estado?
Agostinho Noleto – Um sonho antigo, antes conhecido com o nome de Estado do Tocantins, foi sendo desfeito, a princípio com a exclusão do lado maranhense do novo estado no projeto da Constituinte de 1987. Depois, com o solapamento do projeto Maranhão do Sul, que acalentou sonhos dos habitantes da Região Tocantina maranhense. Hoje, os eternos sonhadores do desmembramento do Maranhão em dois estados, destinados a se tornarem os mais desenvolvidos da Norte e Nordeste, sentem que é preciso esperar a superação da grave crise brasileira, para voltar a lutar pela criação do Maranhão do Sul, tendo Imperatriz como sua capital. Até lá, resta manter a esperança viva e atuante para, num futuro não muito distante, conseguirmos realizar esse sonho geopolítico que há de potencializar o progresso e desenvolvimento desta vasta e rica região.
Uma resposta
Haveria que discutir e rever três itens/conceitos: DESENVOLVIMENTO versus CRESCIMENTO/PROGRESSO… “florestas” de EUCALIPTO… E isso de uma nova unidade federativa com um nome (+Q discutível , não obstante referido “sonho”) de “MARANHÃO” do Sul
Os três assuntos/temas já foram abordados, não poucas vezes (inclusive na AIL… ) com produção de textos, dados à publicação e/ou distribuídos via Internet
Não há espaço necessário para retoma-los em um simples “comentário
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