Marcos Fábio Belo Matos – jornalista, professor, membro das Academias Bacabalense e Imperatrizense de Letras
Foi ali pelo fim dos anos 1990, quando eu era um jovem jornalista recém-saído dos bancos da UFMA, que conheci Sálvio Dino. E o conheci por duas vias. Primeiro, li um texto seu no espaço semanal que o jornal O Estado do Maranhão tinha, a seção de Opinião, que se chamava “Hoje é dia De”, era ocupado por nomes como Jomar Moraes, Ubiratan Teixeira, ele e outros intelectuais. Li um e passei a acompanhar os próximos. A outra via era a familiar: sabia que ele tinha uma prole prodígia e muito bem posicionada no campo do direito, ela era o pai “Dos Dinos”, famosos pelas aprovações em concursos.
Quando, em 2016, fui admitido na Academia Imperatrizense de Letras, soube que Sálvio Dino também era um dos nossos confrades. E, no dia em que o conheci pessoalmente, no nosso chá das quintas, ele pegou no meu braço e me disse: “seja bem-vindo, meu confrade”. Este também foi o dia em que fiquei sabendo da pendenga dele com Adalberto Franklin em torno do nome de Carlota Carvalho e Passondas de Carvalho; pendenga que alegrava nosso sodalício, um debate histórico-literário de alto nível.
Outras vezes encontrei com Sálvio, na academia mesmo. Quando ele ia, era sempre uma alegria porque ele gostava de falar e, quando falava, parecia que estava discursando. Sálvio era chamado pelo nosso confrade Domingos César de “o último grande tribuno do Maranhão”. E era mesmo.
Lembro muito bem de ter acompanhado, num dos nossos últimos Salimps, um discurso seu, na abertura. Ele falava com o coração, sem papel que o guiasse, e nunca perdia o belo raciocínio. Como os grandes tribunos.
Na abertura da Uemasul, ele estava no palanque, ao lado do filho governador. Eu o vi e depois fui cumprimentá-lo. Nesse dia, fiquei sabendo, pela boca do próprio governador, que Sálvio, quando deputado, tinha já pensado em criar uma universidade independente para a região sul do estado. Região que ele amava, que conhecia, que estudava e que escolheu para viver, na pacata João Lisboa, cidade onde também foi prefeito.
A última vez que nos encontramos foi aqui em São Luís. Fui prestigiar seu discurso em homenagem ao novo presidente da Academia Maranhense de Letras. Foi uma noite linda, cercada de literatura e conhecimento. Sálvio, como sempre, encantou a audiência com um discurso vigoroso, cercado de ênfases verbais, de pausas oratórias, de aceleração e desaceleração da fala, de polimento das palavras, de história, de memórias e de homenagens. O último discurso do grande tribuno que era.
Para além de uma grande personalidade da política, da administração pública, da literatura, da sociedade maranhense, Sálvio Dino era uma pessoa muito simples e muito divertida, de grande inteligência e lucidez, que gostava de cultivar e cultuar os amigos, que tinha generosidade para espalhar aquilo que sabia, que gostava de fazer indicações de livros, de gracejar com todos, de demonstrar afeto. E que vai fazer uma enorme falta nos ambientes onde sua presença era sempre, sempre marcante.
Descanse em paz, querido confrade! Ganham as tribunas celestiais.