29 de julho. Logo no início da noite, uma notícia passou a circular nos grupos de pessoas ligadas à literatura e nas páginas das redes sociais: “Lamento informar o falecimento agora à noite de nosso confrade Joaquim Itapary”. Imediatamente, o comunicado passou a ser compartilhado e todos os amigos, admiradores e confrades daquele admirável intelectual sambentuense passaram a lamentar seu passamento. Semanas antes, a notícia de sua internação já havia deixado as pessoas de seu entorno preocupadas com seu estado de saúde. Mas foi no final daquela segunda-feira, logo após o pôr-do-sol, imagem que ele muito admirava, que ele fez sua viagem final rumo à eternidade.
Joaquim Salles de Oliveira Itapary Filho, ou simplesmente Joaquim Itapary, como assinava seus livros de crônicas e poemas, nasceu na cidade de São Bento, no dia 23 de abril de 1936, era bacharel em Direito e pós-graduado em Problemas de Desenvolvimento Econômico. Ao longo de mais de cinco décadas de atuação no serviço público, exerceu diversas funções, como, por exemplo, escriturário do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão, Secretário de Urbanismo da Prefeitura de São Luís, Secretário de Cultura do Maranhão, Secretário-Chefe do Gabinete da casa Civil do Governo do Maranhão, Coordenador Regional do Incra, Secretário-Geral do Ministério da Cultura e ministro interino, representando o Brasil no Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura da OEA, entre outros.
Eleito deputado estadual, passou todo o seu mandato – de 1971 a 1974 – a defender a cultura de seu estado, lutou pelo desenvolvimento da região e por uma educação de qualidade.
Homem ligado às letras, Joaquim Itapary teve relevante atuação no campo do jornalismo na capital maranhense. Além de articulista e cronista, foi também diretor do Jornal do Povo, O Combate, Diário da Manhã, O Estado do Maranhão e da Revista Legenda. Seus textos sempre foram considerados elegantes, bem escritos e carregados de sólidas e bem articuladas críticas sociais. Muitas de suas crônicas foram reunidas em livros como “Crônicas tapuiranas” (2007), “Onde andará Willy Ronis?” (2014) e “Armário de palavras” (2015). Nesses livros é possível o leitor entrar em contato com o estilo escorreito de um dos mais talentosos cronistas da transição do século XX para o século XXI no Maranhão.
Além de excelente cronista, Joaquim Itapary também enveredava pelos campos da ficção e da poesia, como pode ser verificado em “Seis Poemas de Joaquim Itapary” (1987) e “Hitler no Maranhão ou O Monstro de Guimarães” (2011). Mas não se pode esquecer também da atração de Joaquim Itapary para a pesquisa de cunho histórico e econômico. Como resultado desse interesse vieram à luz livros como “O subdesenvolvimento e a Universidade no Maranhão” (1962), “Projeto do Maranhão: notas sobre o problema da propriedade” (1965), “Identificação preliminar dos polos de desenvolvimento no Nordeste” (1965), “Terras devolutas e colonização” (1972), “A falência do Ilusório: Memória da Companhia de Fiação e tecidos do Rio Anil” (1995), além de haver organizado o livro “Dez estudos inéditos de Bandeira Tribuzi” (2017).
Em 1987, com o falecimento do professor Luiz de Moraes Rêgo, Joaquim Itapary se candidatou à vaga da cadeira número 04, da Academia Maranhense de Letras. A eleição ocorreu no dia 04 de junho daquele ano e, aos 51 anos de idade, o autor de “Sob o Sol” foi aceito para fazer parte de AML, sendo empossado no dia 07 de agosto do mesmo ano, quando foi recebido pelo escritor Jomar Moraes. Na Academia Maranhense de Letras, Joaquim Itapary teve intensa atividade, tornando-se, inclusive, presidente da Instituição no biênio 2006-2008, período no qual a AML passou por diversas mudanças físicas e estruturais.
Em sua crônica “Do banho de cuia à Academia”, o escritor relembra o episódio de sua eleição para a AML e a emoção que teve em substituir seu antigo professor Luiz Moraes Rêgo na Cadeira 04. Na solenidade de posse, o imortal brindou o público com um bem elaborado discurso e com o lançamento de seu livro “Seis poemas de Joaquim Itapary”, do qual destacamos o seguinte trecho:
Não chores a estrela que apagaram;
veste a tua túnica branca,
imaculada, e vem comigo
em busca da aurora.
Nossa viagem será só de ir,
como a de quem não sabe
caminhos de retorno.
E foi em busca dessa metafórica aurora que Joaquim Itapary partiu, aos oitenta e oito anos, deixando para os futuros leitores um armário repleto de crônicas, de críticas e de bons ensinamentos.
Uma resposta
Um belo texto do Imortal José Neres.
Faz justiça à História do também Imortal Joaquim Itapary. Destaca seu legado que fica registrado para as futuras gerações. De parabéns nosso confrade sobramista José Neres.