Quando estive nos territórios pelas primeiras vezes, em 2012, os primeiros territórios foram os dos povos Kritatí, Gavião e Guajajara. Como psicólogo e doutor acadêmico, eu estava completamente despreparado a me aproximar, cometi erros que foram difíceis de consertar depois. Na universidade não tivemos psicologia dos povos originários e das comunidades tradicionais.
Em aldeias Guajajaras levamos estudantes que também não tinham o mínimo de treinamento e foi um desastre. Som alto à noite, falta de educação, boçalidades nas relações interétnicas, arrogâncias acadêmicas. Desatento como professor novato e despreprado para o contato, só anos depois eu consegui retirar as lições das tragédias iniciais. Busquei aprofundar leituras, recebi orientações de indigenistas experientes, observei mais, visitei mais territórios e me engajei nos movimentos indígenas como psicólogo indigenista, fui aprendendo cada vez mais…
Melhorando, me aperfeiçoando na escuta indígena, sempre no gerúndio, pois é um aprendizado eterno. Cada povo/etnia (ethno quer dizer povo em grego) uma história, cada território uma trajetória, cada aldeia uma característica, cada pessoa indígena um universo. Espelhamento da minha própria caboquice negada durante anos, também processo de autoconhecimento aprofundado, conhecendo raízes da terra…
Os erros servem para isso mesmo, serem reconhecidos e lá na frente refazermos melhor. Porém, é necessário que quem for trabalhar com povos tradicionais, indígenas ou não, populares que sejam, é necessário formação, treinamento, aprofundamentos, se não se comete muitos erros. É preciso conhecer a etnia/povo ao qual vai encontrar, a história do aldeamento e contato, quantos anos de contato tem com a sociedade nacional, geralmente violenta. É necessário saber adentrar ao território, aceitar o beber água, aceitar uma comida diferente, ao menos provar, aceitar uma planta, um assento de madeira, uma aproximação diferente…bem como apontou em Live recente a palestrante convidada Anarandá, professora, rapper, atleta e atriz Guarani, em evento online organizado pela professora Jurema Teixeira e e a psicóloga Aline Carla da Rocha Soares Bento.
Quando anjos em sonho pedem para indígenas evangelizados queimarem sua casa de reza, quando o suicídio entre jovens nas aldeias se dão pelo sofrimento da perda de identidade, quando na cidade lhes tratam mal, diferente do bem tratar que recebemos nos territórios, estamos diante de alguns fatos cotidianos que os psicólogos devem estudar e estão fora dos currícuos universitários e da psicologia ocidental brancocentrada…
Oxalá tenhamos melhoramentos nos conteúdos curriculares universitários sobre este tema e que psicólogos se tornem mais humanos, (humanidade como potêencia a se construir e não dada), para escutar outros povos/etnias…