(Para Selma Rodrigues (Secéu), com carinho)
É muito difícil alguém não se impressionar com a beleza proporcionada pela visão de um ipê florido, com as cores vibrantes de uma flor, com o voo de um pássaro ou com a simetria de um peixe. A natureza oferece a cada um de nós verdadeiros espetáculos em forma de curvas, ângulos, cores, contrastes, sons, odores e outros presentes que ativam nossos sentidos e aguçam nossa curiosidade. Porém, às vezes, não temos diante de nós a oportunidade de um encontro pessoal com os diversos elementos da natureza. Em casos assim, para fugir de uma realidade que nem sempre nos é agradável, costumamos recorrer às artes em suas mais variadas manifestações.
Os artistas são seres que circulam entre nós, mas que têm a capacidade de captar detalhes que podem passar despercebidos para a maioria das pessoas. São seres que abdicam do senso de egoísmo e utilizam seu tempo para mostrar às outras pessoas aquilo que estava bem diante dos olhos de todos, mas que, por algum motivo, não ficou registrado nos cinco sentidos que usamos para captar os sinais da realidade.
O pintor e publicitário Isaac de Oliveira era uma dessas pessoas que transpiram arte e gentileza. Dono de uma voz pausada, de um olhar atento, de gestos gentis e de um imensurável talento na arte de transpor para a tela elementos da natureza, esse artista baiano de Itajuípe bem cedo deixou sua terra natal e foi viver em Campinas. Em 1978, adotou a cidade de Campo Grande como local ideal para morar e desenvolver sua arte, tornando-se um dos mais ilustres, respeitados e admirados artistas de Mato Grosso do Sul.
Isaac de Oliveira gostava de cores vivas e brilhantes, era um pintor extremamente refinado e consciente de sua capacidade de transpor para a tela elementos simbólicos de uma sociedade. Um de seus motes preferidos eram os ipês floridos, e conseguiu impregnar toda a capital sul-mato-grossense desse seu gosto. Ao caminhar pelas ruas e pelos estabelecimentos comerciais de Campo Grande é possível notar a presença de Isaac de Oliveira em seus quadros expostos em bares, restaurantes, shoppings, murais, peças de artesanato, plotagens e em muitos outros suportes. Ele, com sua arte, conseguiu fazer com que as floradas de ipês deixassem de ter uma temporada específica e se tornassem parte permanente na paisagem da cidade e do Estado.
As cores dos ipês encontram ressonância em outros motivos da obra de Isaac de Oliveira. Ele conseguiu irradiar essa característica para a composição de quadros que trazem como elementos principais a fauna e a flora, com destaque para peixes e flores, sendo que em alguns momentos de sua carreira ele também se concentrou na reprodução artística de formas humanas, mais notadamente os elementos indígenas. Porém quem se concentrar apenas no foco central dos quadros pintados por esse talentoso artista pode acabar perdendo um detalhe essencial para a harmonia da tela: as sinuosidades e a leveza das cores de fundo, que são capazes tanto de transmitir aos olhos das pessoas uma sensação de movimentos dos animais retratados ou uma noção de que por trás da imobilidade das árvores existe o constante movimentar-se de todo o entorno da natureza.
Mas o bom gosto de Isaac de Oliveira para as artes ia além de seu talento no manuseio dos pincéis e das tintas. Ele, em respeito a seu público, fazia questão de sempre utilizar telas, molduras e pigmentações de excelente qualidade, o que garantia a quem adquirisse uma de suas obras a certeza da durabilidade do suporte do suporte e das imagens.
Praticamente todas as vezes que estive em Mato Grosso do Sul, tive a honra de ter encontrado Isaac de Oliveira e pude acompanhar de perto sua silenciosa luta contra uma enfermidade que foi minando suas forças, mas que não conseguiu apagar seu sorriso franco, nem borrar os inúmeros traços que ele deixou pela vida. Um dia, em 23 de setembro de 2019, recebi um telefonema de minha colega, a professora doutora Ildenice Nogueira comunicando-me a fatídica notícia de que nosso estimado artista já não estava entre nós. Impossível não lamentar a partida de um homem que eternizou a natureza em suas telas e que distribuiu alegrias por onde passou.
De propósito, não irei ilustrar este texto com alguma tela de Isaac de Oliveira… Prefiro esperar que cada um dos possíveis leitores procure nos motores de pesquisa da internet imagens que contenham as obras e a imagens físicas desse homem que imprimiu seu talento nas telas da eternidade. Afinal, acredito eu, a maior homenagem que se pode fazer para um artista é apreciar suas obras, que certamente irão superar as noções de tempo que tanto cultivamos sem sabermos que um dia o tempo cobrará de cada um de nós todo o tempo que nos deu.
2 respostas
Irei buscar as obras do genial Isaac Oliveira. Destacar a beleza dos ipês e demais dádivas da natureza representam o fenômeno deste artista . Obrigado Escritor José Neres por nós disponibilizar estas maravilhas
Isaac de Oliveira era um poeta que usava telas e tintas para compor sua obra. Abraços, Dr. Gilmar!