O livreiro Malcolm “Mal” Kershaw seguia sua rotina rodeado pelos livros de suspense e mistério na livraria Old Devils quando a agente do FBI, Gwen Mulvey, entra em contato para pedir informações sobre uma série de assassinatos aparentemente isolados, mas com um ponto de referência: o próprio Malcolm.
Acontece que o assassino está seguindo uma lista feita pelo livreiro, intitulada “Oito Assassinatos Perfeitos”, em que foram escolhidos oito livros de mistério e suspense com crimes praticamente insolucionáveis, e reproduzindo tais crimes na vida real, sendo uma cliente da livraria Old Devils a vítima mais recente. Isso levou a agente Gwen Mulvey a inicialmente suspeitar de Malcolm, mas foi descartado após verificar seu álibi. Sendo assim, Malcolm e a agente Mulvey se unem para investigar este assassino (intitulado de “Charlie” pela dupla) antes que mais mortes aconteçam.
Narrado por Malcolm, Oito Assassinatos Perfeitos (Editora Jangada, 2022, 275 páginas), de Peter Swanson, possui uma premissa muito boa e bastante original, atraindo a atenção dos fãs de mistério e suspense por trazer referências de livros clássicos do gênero e até menções a obras e autores modernos. A execução, entretanto, não chega a ser diferente de inúmeros livros do gênero, o que pode tornar o livro previsível em alguns momentos para os fãs mais experientes.
Enquanto acompanhamos a investigação, vamos conhecendo um pouco mais do passado e dos interesses de Malcolm Kershaw, viúvo, sócio da Old Devils e que já foi um amante de livros de mistério e suspense, porém tem preferido ler poesia ultimamente. Acompanhar sua rotina é interessante no começo, mas se torna maçante e repetitivo. Felizmente essas partes também são preenchidas com informações sobre o seu passado.
Malcolm é o tipo de narrador não-confiável, desde as primeiras páginas ele parece estar escondendo alguma informação da agente do FBI e dos leitores. Ele também admite que não é confiável ao se comparar com outro narrador não-confiável de um livro clássico de mistério, portanto ele se torna suspeito para os leitores, mas ao mesmo tempo é possível acreditar em sua inocência quando ele passa a ser honesto com o leitor.
Uma polêmica envolvendo Oito Assassinatos Perfeitos é a presença de spoilers dos livros que são citados, estando presentes ou não na famigerada lista de Malcolm. Por mais que Oito Assassinatos Perfeitos possa ser uma porta de entrada para novos leitores do gênero, é contraditório que tais leitores tomem spoiler destes livros citados, perdendo o interesse em pesquisá-los. No entanto, acredito que a intenção do autor não era indicar leitura ou resgatar algum livro esquecido no tempo, mas sim de homenagear os autores e o gênero de mistério e suspense, trazendo desde escritores clássicos (Agatha Christie e Patricia Highsmith) a outros mais inesperados (A. A. Milne, o autor de Ursinho Pooh).
Oito Assassinatos Perfeitos é recomendado para quem procura um mistério despretensioso, com uma boa premissa, mas sem a intenção de reinventar o gênero ao qual pertence. Ele tem um pouco de suspense psicológico e o narrador não-confiável ajuda a desconfiar até do próprio protagonista, mesmo quando o caso está resolvido a dúvida se Malcolm era o verdadeiro culpado permanece.