O mês de agosto como período ruim ou tempo de desgosto é mais uma dessas rimas e crendices que o imaginário humano constrói a partir de bases naturais e/ou culturais.
Agosto, a contragosto de alguns, é tão somente uma sucessão de dias, horas, minutos, segundos nos quais ocorrem fatos bons e ruins como em todos os demais onze meses — meses estes para os quais se podem selecionar fatos tristes e desagradáveis e alegres e prazerosos, inclusive em quantidade e dramaticidade maior mesmo do que as ocorrências do oitavo mês.
Dizer que “agosto é mês de desgosto” é querer rimar com palavras mas não com a verdade. É mais um registro linguístico e mítico ou mitológico do que uma realidade científica. Mas, como tantas coisas, próprias do imaginário, do constructo humano — e isto também faz ou compõe o que somos.
Essa construção tem início, para alguns, ainda no primeiro século da nossa era. O fundador do Império Romano e seu primeiro imperador, Otávio (ou Otaviano), recebeu como parte de seu nome um título: “Filho do Divino” e “Augusto” (sagrado, venerável, majestoso; “augusto” vem do verbo latino “augere”, que significa “fazer crescer”, “ampliar”, “aumentar”).
Otaviano Augusto, ou César Augusto (por ser filho adotivo do imperador Júlio César), com conquistas de outros territórios e crescimento econômico e cultural, realmente fez crescer, ampliou, aumentou o Império Romano em seus 41 anos de reinado, o maior tempo de governo entre os mandatários de Roma. Por essas e outras razões, deram seu título-nome ao oitavo mês do ano, logo após o mês “julho”, denominado em honra ao seu pai adotivo, Júlio César.
E, ironia do destino, nascido em setembro do ano 63 antes de Cristo, o poderoso imperador Otaviano Augusto morre em… agosto, dia 19, no ano 14 depois de Cristo, aos 75 anos. Além desse fato, os antigos romanos daquele século 1º de nossa Era tinham, igualmente a outros povos, o costume de olhar as estrelas nos diversos períodos do ano — e exatamente em agosto eles olhavam certo grupamento de estrelas e ali, unindo-as por meio de pontos invisíveis, viam figuras de dragões, que os astrônomos depois atestaram ser a constelação de Leão.
Assim, agosto, mês cujo nome tem na origem o significado de “fazer crescer”, “aumentar”, “ampliar”, começa a ser vinculado a “coisas” desagradáveis ou temerárias, como dragões no céu e morte de um querido imperador aqui na terra.
Passam-se os séculos. Mudam-se os tempos e os lugares. Em Portugal, no século 16, o mês de agosto é tido como o melhor para os navios saírem em suas aventuras de conquistas e descobertas. Mas um certo grupo de pessoas não têm o mês em melhor conta: são os namorados e namoradas, as noivas e os noivos, que viam que agosto era contraindicado para selar a união, não deviam se casar, porque os noivos poderiam partir para as demoradas, demoradíssimas viagens… deixando no porto, chorosas, ansiosas, lamentosas, mulheres em idade núbil, que tiveram dias futuros e noites passadas (de núpcias) encurtados em função de seus maridos e amados partirem para navegar mares já ou nunca dantes navegados…
Os portugueses trouxeram essa estória do agosto desgostoso para o Brasil, em especial para o Nordeste, onde nossos irmãos lusitanos foram um tanto hegemônicos. Associado aos fatos de 15 séculos antes, a lenda do “agosto, mês de desgosto” foi-se fortalecendo.
A partir de outras ocorrências desagradáveis em agosto, no Brasil e no mundo, ampliou-se a superstição. Pelo menos três presidentes brasileiros têm vinculados seus nomes a tristes fatos neste mês: Getúlio Vargas, que comete suicídio no dia 24 de agosto de 1954; Jânio Quadros, que renuncia em 21 de agosto de 1961; e Juscelino Kubitschek, que morre dia 22 de agosto de 1976, em consequência do ainda mal explicado acidente automobilístico que sofreu. Além desses e de outros muitos fatos, nas décadas de 1940 a 1960, acidentes com navios e aviões no Brasil, no mês de agosto, deixam muitos mortos.
No plano mundial, o início da 1ª Grande Guerra (1914), a assunção de Hitler ao governo da Alemanha (1932), o início da 2ª Grande Guerra (1939), o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki (1945), o início da construção do muro de Berlim (1961)… são fatos que se deram no mês de agosto.
Enfim, como digo, “agosto, igual a todo mês, é mês a gosto do freguês”. Quem se der ao trabalho de pesquisar e selecionar haverá de encontrar e listar diversos, muitos exemplos de fatos lamentáveis em qualquer um dos doze meses.
As crenças e crendices, os mitos e mitologias, as visões e superstições, bem como a Ciência e a Verdade são buscas e achados, procuras e respostas humanos. Depende dos conteúdos das pessoas, do cardápio de seus interesses, do portfólio de registros da tradição, dos hábitos, da história dos ambientes, das comunidades, da nação em que vivem. Na Alemanha, por exemplo, e contrariamente, agosto é o mês de preferência para muitas mulheres casarem.
Dor e amor, lamentos e aleluias têm, sim, um período para acontecer: aquele que se inicia dia 1º de janeiro e termina dia 31 de dezembro…