domingo, 3 de novembro de 2024

ENTREVISTA – TEREZA BOM-FIM: A ARTE DE ESCREVER PARA CRIANÇAS

Publicado em 16 de março de 2023, às 4:37
Fonte: Da Redação
Como Bela Aurora, a escritora acaba de lançar um livro pela Editora Melhoramentos. Imagem: Divulgação.

Tereza Bom-fim não é uma, mas muitas. É professora pós-doutora do Curso de Pedagogia da UFMA – do Centro de Ciências de Imperatriz (CCIm), autora de algumas obras acadêmicas que refletem suas preocupações com os meandros da literatura infantojuvenil. Também é uma autora-escritora perspicaz, que se divide em mais duas: BÕM FIM TÉKA e BELA AURORA, cada uma com uma personalidade, um olhar específico para a escritura do texto para os pequenos leitores. Unindo todas essas, uma sensibilidade que se percebe à flor da pele das palavras que ela tece. Nesta entrevista, Tereza Bom-fim explicita um pouco do seu fazer-ser literário e desnuda outros aspectos da sua arte de escrever e viver. Vale a leitura.

Região Tocantina – Qual é o papel da literatura infantil?           

Tereza Bom-fim – A literatura para crianças, bem como a literatura denominada para adultos, constitui um espaço capaz de oferecer diferentes olhares não só sobre a atualidade sociocultural bem como sobre nossa perspectiva individual. Pois sabemos que a nossa vida é uma sucessão de atos de outros que nos antecederam e que nós costumamos repetir, atribuir sentidos e/ou transformarmos etc. Atuando como mediadora de situações interativas de leitura com crianças e adultos, empenho-me para que o leitor consiga, entre o dado e o possível nas páginas dos livros, refletir e (re)inventar sua própria vida. Bons livros literários podem ser considerados objetos de arte, visto que eles nos permitem sentir com os outros que nos emprestam a sua longa experiência de vida, para que possamos vislumbrar outros modos de superação de (nossos) conflitos, já que, como leitores, nos defrontamos com situações adversas que, no fundo, são tão humanas. E tão pouco originais.  O livro tem este potencial – o de nos “co-mover”.

Região Tocantina – Você tem uma trajetória no campo da literatura para crianças, que junta a pesquisa acadêmica e a escritura. Conte um pouco sobre esse caminho.

Tereza Bom-fim -Atuei por mais de uma década como professora de crianças com idade entre três e dez anos. Fui decoradora e animadora de festas infantis e continuo trabalhando com a formação de professores, através da educação superior, como docente no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão. Efetivamente, é no espaço acadêmico que surge uma série de questionamentos e se avolumam em discussões científicas, trazendo à tona questões carentes de aprofundamentos. Há muito tempo venho investigando acerca da literatura infantil, da concepção de criança, infância e leitura. Compreendo que o trabalho de formação continuada de professor perpassa um caminho teórico-metodológico que dê conta de pensar sobre a criança, a infância, as artes, o brinquedo, a brincadeira. Especialmente, em nosso contexto educacional, a brincadeira ainda é vista como um mero passatempo e não como um campo de estudos capaz de promover mudanças de paradigmas e realinhar variados aspectos inerentes ao desenvolvimento humano. Trabalhar com a literatura desde a infância exige um profissional possuidor de conhecimentos advindos de diversos campos do saber que lhes forneça competência para uma leitura crítica do objeto-livro, por exemplo.

Tereza Bom-fim divide sua produção entre a academia e a literatura. Imagem: Divulgação.

 Região Tocantina – Como é fazer literatura para criança?

Tereza Bom-fim – Fazer literatura para crianças não é, em minha opinião, menos trabalhoso do que escrever para adultos. Indubitavelmente, escrever para crianças exige critério, zelo e uma conexão com relevantes questões do contexto sociocultural.

Região Tocantina – Qual é o foco do seu mais novo livro, editado pela Editora Melhoramentos?

Tereza Bom-fim – A editora Melhoramentos possui uma equipe de profissionais competentes, cuidadosos e que empreendem esforços para produzir livros da mais alta qualidade. Recentemente publiquei por esta renomada editora a obra infantojuvenil – VOCÊ SABE, VOCÊ VIU?  Trata-se da junção de duas festas folclóricas – Boi Bumbá e Bumba meu boi, que são histórias representativas de nossa cultura popular brasileira, ambas baseadas na lenda de Catirina. A narrativa é constituída de versos rimados e tem uma vaca como protagonista. Diga-se de passagem, apelidada pela Cris Eich, a ilustradora, de Vaquinha Fujona. A narrativa possui um ritmo alegre, tocante, divertido e há uma frase norteadora – “Aí, a vaca foi pro brejo”, fazendo menção a um dito popular. No caso desta história, minha memória me presenteou. É que me lembrei de meu saudoso professor de Latim, Osvaldo Ferreira de Carvalho que, durante as aulas, não se cansava de repetir essa ‘velha frase’. Isto significa dizer que estamos, todos, vez ou outra, recorrendo ao passado, cada vez que escrevemos ou reescrevemos histórias. Esta é a segunda obra que assino como Bella Aurora (nome artístico). Convém esclarecer sobre o heterônimo. Bella é uma homenagem à minha avó paterna que se chamava Isabel. Aurora é o nome de uma personagem de Alice viaja nas histórias, do autor italiano Gianni Rodari. Nesta história, Aurora é uma princesa (A Bela Adormecida) espevitada e irreverente. Bella Aurora é um nome sonoro e me representa bem (risos).

Mais novo livro da escritora, publicado pela Editora Melhoramentos. Imagem: Divulgação.

Região Tocantina – Você acredita que, em meio a tantas telas, ainda haja espaço para a literatura infantil?

Tereza Bom-fim – A nossa vida intelectual está intimamente relacionada aos modos e efeitos que a leitura produz e vinculados a uma série de materialidades enunciativas, tais como: o diálogo entre textos verbais e não verbais; palavras; imagens estáticas; filmes; programas televisivos; mídias digitais etc. Penso que, em meio a esse arsenal rico e diversificado, as histórias pertencentes à tradição popular devem ser reavivadas sempre. É preciso revigorá-la, e neste sentido, a tecnologia tem sua contribuição. O livro (incluindo o impresso) não deve ser substituído por recursos digitais. Para mim, o cheiro do papel, o virar as páginas sentindo a textura do papel, o toque manual etc., são gestos insubstituíveis.  Eu não vivo sem o impresso! (risos) Gradativamente, vamos mudando o modo de fazer, modernizando, claro, envolvendo os recursos tecnológicos, contudo, mantendo viva a essência da vida em interação com o outro. Penso que devamos trazer para o dia a dia, em casa e na escola, as histórias que nossos avós nos contavam, oralmente e de forma escrita. É disto que me vem inspiração!  Por meio dos textos que escrevo, tento mostrar que a leitura é um ato de expansão do nosso EU e que a escrita é um instrumento de manifestação de nossas impressões sobre o mundo exterior e, mais ainda, sobre o nosso interior que está repleto de emoções.

Região Tocantina – Qual é o papel da escola e do(a) professor(a) no incentivo à literatura infantil?

Tereza Bom-fim – Reportando-me ao “chão da escola”, onde a leitura como decifração de sentidos contidos no texto é, ainda, uma visão predominante e o termo literatura infantil sobrevive sem uma clara definição, vimos procedimentos arcaicos no que se refere à seleção, abordagem e avaliação de livros literários, o que denota uma necessidade urgente de fundamentação teórico-metodológica que forneça subsídios aos educadores que se interessam em trabalhar com a literatura. Sabe-se que é no contexto real que tomamos consciência de nosso potencial como um patrimônio de conhecimento. E isto acontece quando nos disponibilizamos a buscar meios de coordenar uma investigação e nos empenhamos em busca de respostas para os fenômenos educativos que se apresentam. E, impreterivelmente, quando os resultados são comunicados e partilhados. Ser um professor-leitor pode significar escolher a leitura e a escrita como uma condição de vida e alimentar-se cotidianamente de indagações tão profundas quanto recorrentes: Será que existem modos de ensinar, que levem as pessoas a se encantar mais e mais pelos livros? O que acontece nas salas de aula é uma espécie de desdobramento de nossa maneira de ser, de agir e de olhar o mundo à nossa volta? O que é preciso para que consigamos envolver, motivar os outros a viver em estado de letramento? Acredito que, quando o profissional assume o compromisso com a educação, ele consegue criar uma dinâmica contagiante entre os sujeitos envolvidos na ação de ensinar e aprender.

Região Tocantina – Quais os novos projetos no campo da literatura infantil?

Tereza Bom-fim – Pretendo continuar me dedicando à escrita literária. Tenho diversas histórias, crônicas e poesias escritas. Dois livros encontram-se em fase de diagramação, outros dois títulos estão sendo ilustrados. Estou caminhando, escrevendo, buscando o meu modo de expressar o que vejo e sinto no (meu) mundo interior e no mundo cá fora, também. O mundo tá cheio de histórias pra gente contar! Como TEREZA BOM-FIM, publiquei os seguintes livros: O livro-de-imagem um (pre)texto para contar histórias (pesquisa de mestrado); O livro-de-imagem (Caderno de Atividades); Professor-leitor – de um olhar ingênuo a um olhar plural (tese de doutoramento); Asas da Imaginação – Leituras sobre a criança que lê (coletânea de artigos); A Literatura Infantil para maiores de dezoito anos (relatório científico de pós doutoramento). Assino BÕM FIM TÉKA nas seguintes publicações: Um lobo total mente mau? (ensaio) pela Viegas Editora, São Luís (MA): 2021; Ditos e Feitos (poesias), pela Viegas Editora, São Luís (MA): 2022; Parte de Mim, o Sim! (narrativa em versos), pela Viegas Editora, São Luís (MA): 2023 (no prelo). E BELLA AURORA assina: À Flor da Pele (narrativa em versos), pela Viegas Editora, São Luís (MA): 2022; Você Sabe, Você Viu? (narrativa em versos rimados), pela Editora Melhoramentos, São Paulo (SP): 2023.

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