terça-feira, 10 de dezembro de 2024

ROTEIROS DE VIAGENS PELAS VEREDAS LITERÁRIAS

Publicado em 23 de janeiro de 2023, às 10:48
Imgem cedida pelo autor

Por: José Neres – Professor. Membro da AML, ALL e Sobrames-MA.

Ler um livro é comparável a fazer uma viagem. Ao abrir as páginas de uma obra literária, somos quase que imediatamente transportados para um universo paralelo onde habitam personagens com quem iremos conviver durante certo período de tempo. Tanto no caso dos livros quanto nas viagens, podemos escolher o destino de forma aleatória, com o objetivo explícito de apenas chegar a algum lugar ainda desconhecido ou ainda de revisitar um local já conhecido, porém levando novas bagagens de conhecimento. Mas também é possível recorrer a viajantes mais experientes que sempre têm boas sugestões de livros e de roteiros de viagem.

No caso da literatura, vários são os autores que disponibilizam listas e mais listas de livros, em alguns casos com comentários básico e em outros com ensaios bastante aprofundados. Em livros “Por que ler os Clássicos”, de ítalo Calvino; “O Cânone Ocidental”, “Como e por que ler” e “Gênio – Os cem autores mais criativos da História da Literatura”, de Harold Bloom; “Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler”, organizado por Léa Masina; “Literatura Brasileira: Modos de Usar”, de Luis Augusto Fischer; e, mais recentemente, “Tem aqui um livro que você vai gostar”, de Antônio Fagundes, é possível encontrar várias centenas de livros e autores que podem agradar a pessoas com os gostos literários mais diversos, ou mesmo quem considere que não goste de ler e tenha intenção de mergulhar no mundo das palavras escritas.

No Maranhão contemporâneo também há escritores/leitores que se dedicam a comentar livros e sugerir leituras, no intuito de que as demais pessoas possam aproveitar de modo mais intenso as atuais e futuras viagens pelo mundo das letras.

Recentemente, o psicólogo, professor e mestre em Cultura e sociedade Isaac Viana publicou “Breves Reflexões em Literatura” (Viegas Editora, 2021, 155 páginas), no qual, como o próprio título já indica, reflete sobre textos literários de escritores diversos, associando os livros lidos a questões relacionadas com a essência da condição humana. Com o intuito de “desconstruir o pensamento equivocado de que a leitura de obras literárias é um hábito apenas das elites”, Isaac Viana vê a leitura como parte de um processo de autoconhecimento e de preparação do indivíduo para enfrentar os inúmeros problemas que se apresentam cotidianamente em nosso caminho. Mesclando autores consagrados a outros que nem sempre são tão divulgados, o autor, ao comentar as obras, relaciona as narrativas lidas com questões sociais, psicológicas e/ou comportamentais que possam ser destacadas nos livros. O autor busca, de alguma forma, fazer o leitor enxergar detalhes que vão além da superfície das histórias lidas nas páginas dos livros.

Conhecido por sua paixão declarada pelos livros, o desembargador e escritor Lourival Serejo, atual presidente da Academia Maranhense de Letras, reuniu parte de seus artigos e ensaios no volume “Literatura no Espelho” (Edições AML, 2021, 224 páginas). Defensor da ideia de que “não se pode escrever duas linhas sobre um livro sem tê-lo lido”, o autor alerta que há outros escritores de sua preferência que não foram contemplados, por motivos diversos, nesse volume e organiza o livro em diversas partes, com resenhas, ensaios e artigos sobre autores como Ítalo Calvino, Jorge Luis Borges, Ian McEwan, Jean Genet, com espaço também para as letras maranhenses, comentando a obra de autores como Ronaldo Costa Fernandes, Félix Alberto Lima, João Mohana, Luís Augusto Cassas e Bruno Tomé Fonseca, entre outros. Importante notar que o interesse de Lourival Serejo não é dar ao leitor de “Literatura no Espelho” a falsa sensação de haver lido a obra original, mas sim de instigar a leitura dos escritores e das obras comentadas. Ele utiliza sua experiência de leitor para solidificar novas leituras em outras pessoas. Cada texto é uma aula de elegância, mas sem cair na tentação de apelar para um eruditismo que afaste os leitores, tanto do livro dele quando dos que são comentados.

Dono de uma coluna bastante popular no Jornal Pequeno, o advogado, escritor e acadêmico Alexandre Maia Lago vem reunindo seus artigos em volumes, o que facilita o trabalho daquelas pessoas que nem sempre têm acesso aos textos publicados semanalmente. Até o presente momento, ele já publicou “Letras de Sempre” (Edufma, 2018, 168 páginas), “Litterae Semper” (Edufma, 2019, 173 páginas) e “Tà Athànata Grámmata” (Edufma, 184 páginas). Em uma linguagem escorreita, porém acessível a pessoas das mais variadas faixas etárias, sociais e educacionais, Alexandre Lago prima por oferecer às pessoas um grande leque de possibilidades de leituras para que cada indivíduo possa compor seu arsenal de obras e autores de acordo com seus interesses. Ele apresenta a obra, mas evita fazer um julgamento de valor da mesma, deixando para o leitor a oportunidade de tirar suas conclusões.

Com foi visto acima, nessas viagens oportunizadas pela literatura, cada pessoa pode fazer seus roteiros, pode até mesmo ter antecipação do que irá encontrar nas páginas dos livros, mas o contato com a obra sempre pode trazer surpresas, pois os comentadores, por melhor que sejam, não conseguem substituir nossos olhares e nem simular as sensações que emanam de cada descoberta. Intelectuais abnegados como Isaac Viana, Lourival Serejo e Alexandre Maia Lago merecem aplausos, pois são capazes de abrir caminhos por veredas e mares até já antes navegados, mas somos nós que devemos empreender nossas viagens nas páginas dos livros e pelos universos paralelos que se abrem a cada correr de olhos pelas linhas da imaginação alheia.

2 respostas

  1. Caro Neres, seu texto já é, por si só, uma grande viagem pelo universo das letras e/ou das ideias; e, por isso, nos deixa em algum ponto de um porto ou aeroporto da linguagem para encontrarmos aquilo que Raland Barthes chama de ‘O Prazer do Texto’. Afinal, seu texto traz em si aquilo que Barthes sempre enfatiza: “O texto que o senhor escreve tem de dar prova de que ele me deseja”.
    Parabéns, mestre.

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