segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Coluna 16: As Fadas da Cultura Pop

Publicado em 30 de novembro de 2022, às 14:16
Fonte: Fonte: Artemisa Lopes (@artemisalopes_) e Laura Zacca (@lauraa_zacca)
Imagem cedida pelas autoras.

Povoando a imaginação de muitas pessoas, especialmente de crianças ao redor do mundo, as fadas são seres mágicos e encantados que ganharam popularidade através da literatura, principalmente pelo que conhecemos como os “contos de fadas”. Atualmente na cultura pop, temos vários personagens famosos que reinventaram essa figura mitológica e sua simbologia.

A palavra “fada” é uma derivação do latim “fata”, que é plural de “fatum”, que significa destino, e é por isso que essas criaturas costumam estar relacionadas ao futuro dos personagens no final das histórias. Não há um consenso acerca da origem exata das fadas, mas há indícios de que elas tenham surgido nas culturas céltica, anglo-saxã, nórdica e germânica. Essas criaturas costumam ser apresentadas na figura de mulheres pequenas com asas, mas podendo assumir formas maiores.

A grande disseminação dessa figura mitológica ocorreu graças aos “contos de fadas” escritos pelos irmãos Grimm e também por Hans Christian Andersen, cujas obras são mundialmente conhecidas até hoje. Muito desse sucesso é devido a suas adaptações para o cinema feitas principalmente pelos estúdios Disney.

Uma das principais obras da Disney que popularizou essa figura fantástica foi “Peter Pan”, escrito originalmente por J. M. Barrie, com a sua personagem Sininho. A fiel companheira de Peter Pan, cuja aparência pequena e com asas remete ao imaginário popular das fadas, e que, possui como um sonho tornar-se grande o suficiente para beijar Peter Pan. A personagem acabou se tornando um dos símbolos oficiais da Disney, tamanha a sua popularidade na cultura pop.

Outro tipo de estereótipo dessa criatura é o da “fada madrinha”, que aparece sempre em um ponto importante da história para ajudar os protagonistas a realizarem os seus sonhos. A mais famosa desse arquétipo é a Fada Madrinha do conto “Cinderela”, em que a personagem carrega o próprio nome do arquétipo no qual se encaixa, não possuindo um nome próprio. Na história, ela aparece como uma mulher comum, portando uma varinha de condão, com o qual realiza os desejos de pessoas de coração puro, sendo responsável por ajudar Cinderela a ir para o baile e encontrar o Príncipe Encantado. Recentemente, a personagem ganhou vida em um live-action sendo interpretada pela atriz Helena Bonham Carter, fazendo-a cair no gosto popular novamente.

Ainda dentro desse estereótipo da “fada madrinha”, temos a Fada Azul, do conto “Pinóquio”. Aqui, a Fada Azul passa por uma remodelagem, sendo representada através de uma estrela azul que toma forma de uma mulher com asas após Gepeto fazer um pedido, dando vida a marionete Pinóquio e, mais tarde, sendo a responsável por transformá-lo em um menino de verdade.  Neste conto, o coração puro e as boas ações dos personagens são recompensados com a interferência da fada ao transformar seus sonhos em realidade.

Outras fadas madrinhas famosas são Fauna, Flora e Primavera, do conto “A Bela Adormecida”. Convidadas para conceder dádivas a princesa Aurora em seu batismo, elas são as grandes responsáveis por proteger a princesa da maldição de Malévola, lançando um contra-feitiço que possibilita que Aurora mais tarde seja salva. Elas também são responsáveis por criar Aurora longe de Malévola e por ajudar o príncipe Philip na luta contra a fada das trevas.

Falando da fada das trevas mais famosa da cultura pop, Malévola marcou o imaginário de muitas crianças ao ponto de que seus atos maléficos a faziam ser confundida com uma bruxa. Após a estreia do filme “A Bela Adormecida”, a personagem liderou o topo das listas de maiores vilões da ficção ao lado de antagonistas como Darth Vader, Voldemort e Sauron, tornando-a a vilã mais icônica da Disney e animações no geral. Retratada como uma fada sem asas, com chifres na cabeça, trajando negro e portando um cajado, costumeiramente acompanhada de um corvo e sendo reconhecida como a “encarnação do mal”. Sua vilania é reconhecida a tal ponto que seu nome tornou-se adjetivo para vilões e ações malignas no geral, sendo comum antagonistas levarem a alcunha de “malévolos”. Recentemente, a personagem passou por uma repaginada ao ganhar um filme solo em live-action, sendo representada por Angelina Jolie. Em que a personagem transforma-se em uma anti-heroína com um passado trágico que a fez cometer atos malignos, mas que ao final da trama encontra sua redenção e seu caminho de volta para as forças do bem.

Duas das maiores animações dos anos 2000 que permeou o imaginário dessas criaturas fantásticas em uma geração de crianças foi “O Clube das Winx”, de Iginio Straffi, e “W.I.T.C.H”, criada por Elisabetta Gnone, Alessandro Barbucci e Barbara Canepa. As séries chegaram a gerar confusão entre os fãs devido a aspectos e temática parecidos: fadas. A semelhança entre os desenhos era tanta que acabou gerando um processo judicial entre a Disney, responsável pelos direitos de  “W.I.T.C.H”, que acusou a Rainbow SpA de plágio, pedindo a suspensão de “O Clube das Winx”. No entanto, a justiça italiana decidiu que as produções eram distintas, além de Straffi provar que o piloto de “O Clube das Winx” estreou antes do lançamento de “W.I.T.C.H”.

Apesar de “W.I.T.C.H” e “O Clube das Winx”, possuírem uma história protagonizada por jovens mulheres que se transformam em seres mágicos com asas, as semelhanças entre as animações terminam por aí. A começar pelo fato de que as personagens de “W.I.T.C.H”, apesar de terem a aparência semelhante ao imaginário das fadas, com as famosas asas e poderes elementais, Will, Irma, Taranee, Cornélia e Hay Lin, são, como suas iniciais que dão nome ao desenho indicam: bruxas. As cinco garotas são as “Guardiãs do Véu”, sendo responsáveis por proteger o reino mágico de Kandrakar do maléfico Phobos. Cada uma das bruxinhas, sendo ligada a um elemento: com Irma sendo a Guardiã da Água, Taranee a Guardiã do Fogo, Cornélia a Guardiã da Terra e Hay Lin a Guardiã do Ar. Com Will, a protagonista, sendo a exceção à regra, já que é a portadora do Coração de Kandrakar, o amuleto que ativa os poderes e a transformação do grupo.

O Clube das Winx”, por outro lado, é de fato um universo mágico em que fadas, bruxas e especialistas povoam a Dimensão de Magix. Sendo protagonizado por Bloom, que descobre ser uma fada após seus poderes desabrocharem ao salvar Stella, outra fada, de um ogro. Stella então apresenta Bloom à Alfea, uma escola para fadas, onde faz amizades com Flora, Musa, Tecna e mais tarde com Aisha, que viriam a compor o famoso grupo: Clube das Winx. Nesse universo, cada fada nasce com um poder especial e diferenciado, sendo Bloom, a Fada da Chama do Dragão; Stella, a Fada do Sol e da Lua (em algumas traduções a Fada do Sol Reluzente);  Flora, a Fada da Natureza; Tecna, a Fada da Tecnologia; Musa, a Fada da Música; e Aisha, a Fada das Ondas. Com o prosseguir da narrativa cada uma das Winx tornam-se as Fadas Guardiãs de seus planetas-natais e as fadas mais poderosas da Dimensão Mágica, ganhando uma nova transformação a cada temporada. Algumas delas como Bloom, Stella e Aisha, sendo também princesas em seus reinos, atuando no campo da política quando necessário.

Já no universo literário, as fadas vêm conquistando fãs, mas com outro nome: feéricos. A palavra “feérico”, vem do termo “feérique”, cujo substantivo “fee” significa “fada”. Seu significado podendo ser interpretado como: “que diz respeito às fadas”, sendo também relativos a “pertencente ao mundo imaginário, que não tem ligação com a realidade concreta e factual”. São personagens que embora tenham raízes nas mitologias das fadas, costumam ter características únicas e distintas. Há quem diga que são o novo hype do momento.

Muito desse sucesso está sendo em decorrência da série de livros conhecida como “Acotar”, da autora Sarah J. Maas. O primeiro livro, “Corte de Rosas e Espinhos”, nos apresentou um mundo que divide humanos e os chamados feéricos em dois reinos após uma trégua depois de anos de guerra. A protagonista Feyre acaba violando uma lei desse tratado de paz e embarca no reino de Prythian, e acaba se deparando com uma maldição e uma ameaça ainda maior. Nesse cenário, alguns feéricos são retratados como criaturas monstruosas, violentas e sanguinárias, enquanto outros, os chamados grão-feéricos, tem forma humana e orelhas pontudas, além de poderes mágicos de vários tipos. Na Corte Noturna, o reino mais sombrio de Prythian, existem os “illyrianos”, uma raça de feéricos de orelhas humanas e asas de morcego. Além da trama, os livros também contam com personagens emblemáticos como o mocinho (ou vilão?) Rhys, um grão-feérico que inicia um romance com Feyre (de tirar o fôlego), que acabaram se tornando um dos casais favoritos entre os fãs de livros atualmente.

Também muito famosa atualmente no meio literário, a trilogia “O Príncipe Cruel”, de Holly Black, explora a figura das fadas de um jeito inusitado. Enquanto em Acotar temos romance, magia e guerra, aqui vemos os feéricos em meio à uma trama política. Tudo o que a protagonista Jude mais quer é ser como eles, mesmo sendo humana e odiada por boa parte deles. Nessa narrativa, os feéricos são representados como figuras humanóides, de orelhas pontudas, com uma aparência muito semelhante à humana e que possuem magia. Jude acaba se envolvendo com o príncipe feérico Cardan e com as tramas políticas da monarquia e vê a oportunidade perfeita para conseguir o que quer. Outro detalhe interessante é que alguns feéricos possuem características animais, como o próprio Cardan (que possui um rabo). Além disso, a trama da trilogia se passa no mundo moderno e brinca com o estereótipo das fadas que “realizam desejos”, uma vez que muitos humanos são atraídos para o reino de Elfhame com falsas promessas de feéricos perversos.

Assim como várias figuras fantásticas, as fadas por muito tempo foram símbolo de beleza e magia, sempre associadas a reinos mágicos. Com o passar dos séculos, essa figura foi se destacando e ganhando mais popularidade, deixando até mesmo de ser apenas uma criatura que permeia o imaginário infantil, para ganhar as telas dos cinemas e possuir toda uma mitologia própria que hoje conquista muitos adultos. As fadas deixaram de “pegar os dentes das crianças”, e passaram a serem criaturas legítimas — e em alguns casos, até temíveis. 

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