Samara Volpony (Samara Laís Silva). Poeta brasileira nascida à beira do rio Mearim, na cidade de Arari/MA, em 1990.
Autora dos livros Contramaré (Patuá, SP, 2017) e Lua de Memórias (Primata, SP, 2021).
Vencedora do 4º Concurso Internacional Poesia Urbana, promovido pelo Centro Universitário de Brusque – UNIFEB e 2ª colocada no 2º Concurso Internacional de Poesia da Casa de Espanha.
Tem poemas publicados em antologias, jornais e revistas nacionais e internacionais.
HOMINI
nada em nós
a não ser o homem de ontem
que palita os dentes
o homini lupus de plauto
preso noutro tempo
nada em nós
a não ser o homem de ontem
de gestos arcaicos
tocando violoncelo
na fogueira das bruxas
nada em nós
a não ser o homem de ontem
empurrado ladeira abaixo
pela pedra bárbara
de um sísifo ao avesso
nada em nós
de ontem
a não ser
o homem.
GENEALOGIA DO DESERTO
sou da linhagem das ninfas sem nome,
da terra onde corre o rio entre as pedras:
lençol de água dos dragões.
sou do clã dos herdeiros das fomes
e minha pátria é uma miragem,
que ninguém sabe ao certo
onde vivemos (in)felizes para sempre,
cada um no seu deserto.
nunca aprendemos o código da humanidade.
SUÍTE N. 3
como são terríveis as primeiras horas do dia
e seu desejo de loucura:
suportar o seu desastre sob as nuvens
numa pátria parva
e um corpo em declínio à espera do abraço
tocamos árias de bach
para não oferecer à vista o lamento
fizemos todo amor que não demos
solfejamos serenatas
dançamos insanamente ao som de monocórdios
para contrariar fragilidades
enquanto tento não ruir
junto ao salitre das paredes
desta casa sem entes.
BABEL EM PROGRESSO
nosso tempo é curto,
não nos desesperemos,
não nos desesperemos, ainda.
avancemos, pois,
na urgência dos dias sem razão.
babel se ergueu sobre nós,
mas não nos precipitemos ao caos,
demo-nos as mãos para que não nos percamos.
o asfalto sepultou todas as flores.
o progresso sepultou todas as flores.
nos gabinetes e escritórios, são fabricados
sonhos de caneta e papel.
arquivam-se outros tantos,
e, assim, nascem gerações inteiras e infinitas:
milhares de rostos que não sei.
o tempo do progresso chegou,
a ideia do progresso.
vivemos o progresso e o deleite.
mastigamos o grito do progresso,
do mais fino e absurdo.
STELLA MARIS
quando vier o mal
e nos assaltar a sorte,
serei o boi condenado ao abate,
que preferiu o naufrágio
a ajoelhar-se à morte.
ALICE
Alice
seu rosto fez-se espera
no verde parado
da nossa casinha antiga.
o rio ligeiro passava.
inaugurava-se um mais doce ciclo
farto de fadigas
a nossa vida mudava, alice
e no rio
na infância
na casa dos que amei
a tua voz se fazia antiga.
CONFISSÃO
Aos domingos
dói-me
o inútil pecado
confesso
concordo
calo
ficamos assim.
Uma resposta
A melhor poeta do Maranhão!
Orgulho de dizer que é minha irmã lindona.