Minha primeira ida aos Lençóis Maranhenses eu já não me lembro bem. Foi por volta de 1995 ou 1998? Ou depois? Só lembro que entrei pelo município de Santo Amaro do Maranhão, talvez com amigos da Universidade Federal do Pará, quando ainda cursava Psicologia. Foi uma das visões mais lindas da minha vida, as dunas gigantescas, muita areia, as lagoas infinitas, o rio limpo e vivo que atravessa a cidade, os banhos infindáveis.
Depois, retornei em 2005, novamente Santo Amaro, e a frente em 2009, por aí. Sempre me encantando com a beleza das dunas e lagunas. Porém, ao retornar em agosto de 2022, e pela primeira vez pelo município de Barreirinhas, pela entrada da Lagoa Bonita, a subida da escada ainda do lado da caatinga com cerrado e floresta, no pé da escada, no último degrau, foi uma visão que eu resgatei mas foi mais ampliada. Talvez por estar mais recente a vivência e eu ser uma pessoa mais madura!?
Só posso falar desse sentimento mais recente, da pequenez do ego diante das dunas e lagunas.
As tecnologias espirituais, como o cristianismo, ensinam o amor como virtude principal a ser praticada para a destruição do nosso egoísmo. Tenho uma predileção pela linguagem budista, questão de história e estética, mas aponta o mesmo, a compaixão aos seres sencientes. Assim os jainistas, swamis, sadhus e yoguis: o ego, ou o eu, deve morrer em vida e o sentimento oceânico de comunhão com o universo surge nos funde e nos revela a interconectividade entre tudo, e mais além a unidade cósmica se realiza. O eu deve ser diminuído e reconhecida sua natureza de breve onda fenomênica temporária que pertence ao oceano. Assim me senti diante da grandeza das dunas e lagunas.
As tecnologias psicológicas apontam algo parecido, o ego, ou o eu, é temporário, pertence ao ciclo da vida, tem início, meio e fim: nascimento, maturidade e morte. O eu deve se curvar diante da passagem do tempo e reconhecer sua dimensão pequena e relativa na vida, no universo. Especialmente em Jung, o eixo ego-Self coloca o eu no seu devido lugar pequeno, se quando inflado ou identificado com o Self ele estará produzindo sofrimento em si e no outro, fonte de ilusão.
Assim, as dunas e lagunas nos diminuem de tamanho, nossos corpos parecem uma pequena poeira misturado à areia. Somos um grão de areia nas dunas, uma gota d´água nas lagunas, poeira cósmica na imensidão do universo. Os lençóis nos presenteiam com essa alegoria, metáfora ou imaginário de sermos pequeno diante da imensidão misteriosa.
De lá sai apequenado, então. Os Lençóis Maranhenses são esse professor gigante que nos diz do nosso tamanho. Se chega lá com o ego inflado, doente, infectado pelo tamanho que esse ego se dimensiona na cidade, com suas arquiteturas anti-pedagógicas. Esse eu inflado, inflamado, se espanta com o tamanho dos Lençóis, que o cobre sem nenhuma dificuldade e nos obriga a reconhecermos nossa pequenez, descoberta. O professor Lençóis Maranhenses, natureza mãe, professora, reverbera nossa ignorância ao nos redimensionarmos importantes demais, arrogantes que somos na nossa espécie.
Saí dos Lençóis me descobrindo pequeno, pequen, peque, pequ, peq, pe, p….