Uma história pode nos cativar não somente por ter uma trama interessante, mas também por ter bons personagens e com um senso de humor que consegue conquistar o leitor logo de cara. Muitas vezes, personagens sarcásticos e irônicos acabam se destacando dos demais, seja por suas falas típicas ou por fazerem desse seu comportamento sua marca registrada. Embora seu humor não seja tão bem recebido por muitos leitores, os personagens sarcásticos estão sempre entre os mais queridinhos de boa parte dos leitores, e é por isso que hoje listamos alguns desses personagens em sagas literárias famosas.
“Olha, eu não queria ser um meio-sangue…se você está lendo isso se acha que pode ser um, meu conselho é o seguinte: feche este livro agora mesmo. Acredite em qualquer mentira que seu pai ou sua mãe lhe contou sobre o seu nascimento, e tente levar uma vida normal. Ser meio-sangue é perigoso. É assustador. Na maioria das vezes, acaba com a gente de um jeito penoso e detestável”. Esta fala é de ninguém mais, ninguém menos que Percy Jackson, protagonista da saga “Os Olimpianos”, um garoto que descobre ser um semideus, filho de Poseidon, que vê sua vida virar de cabeça pra baixo ao ser acusado de roubar o raio mestre de Zeus. Todos os livros são a partir do seu ponto de vista, desde o nomes dos capítulos com títulos confusos à princípio, mas que já dão uma pitada de ironia e carregam todo o humor do personagem. Não só a escrita é carregada de humor sarcástico e irônico, Percy também se mostra um garoto sagaz e que não tem medo de enfrentar os deuses, seja com sua espada ou língua afiada.
“ — Significa: Caçadores de Sombras: mais bonitos de preto do que as viúvas de nossos inimigos desde 1234”, Jace Wayland o personagem mais sarcástico de “Os Instrumentos Mortais” responde à Clary quando perguntado sobre a tradução de uma frase em latim que está nos portões da Cidade dos Ossos. Jace é um personagem que não perde nenhuma oportunidade de fazer comentários irônicos e mordazes sempre que possível. Seu humor negro sendo uma barreira emocional construída para impedir outros de se aproximarem dele e esconder seu passado conturbado, pois Jace acredita fielmente que “Amar é destruir e ser amado é ser destruído”, lições aprendidas com seu pai adotivo e também o vilão da saga: Valentim Morgenstern. A verdade é que apesar da “alma torturada”, Jace conquistou o coração da protagonista e dos leitores com suas atitudes de bad boy e seus comentários afiados.
“Dizer que os homens são teimosos como mulas seria um insulto às mulas”, Crônicas da Sociedade de Lady Whistledown, 2 de junho de 1813. A saga “Os Bridgertons” de Julia Quinn fizeram muito sucesso, mas verdade seja dita o mistério por trás da cronista Lady Whistledown foi um dos motivos que fascinaram os leitores e os fizeram criar altas teorias sobre quem seria o personagem da sociedade londrina de “Os Bridgertons” que estaria por trás dos comentários críticos e mordazes carregados de sarcasmo e atrevimento. Em “Os segredos de Colin Bridgerton” finalmente descobrimos que a famosa cronista é ninguém menos que Penelope Featherington, que como descobrimos no quarto livro não é a garota tímida que todos pensavam nos livros anteriores, mas uma mulher de opiniões fortes e que desde que reconheceu ser “uma solteirona” não tem mais medo de expressar suas opiniões.
“ — E Deus sabe que a sociedade não pode se dar ao luxo de desperdiçar as garotas inteligentes que tem”. Além da cronista, outra personagem sarcástica de “Os Bridgertons” é Lady Danbury, uma velhinha com uma língua tão afiada que todos apostavam todas as suas fichas de que seria ela o rosto por trás de Lady Whistledown. Já idosa, viúva, mãe de herdeiros varões, com título e influência na sociedade, Lady Dunbury não tem mais nada a temer da hipocrisia de uma sociedade machista em que as mulheres comumente não têm voz ou são forçadas a se calar. Bem estabelecida Lady Dunbury não tem papas na língua e sempre se faz ser ouvida, sempre com críticas mordazes a respeito da sociedade que a rodeia.
“ — Calma, Alerie, não leve esse tom comigo. E não me chame de mãe. Se eu tivesse dado à luz a você, tenho certeza que me lembraria. Só tenho culpa de seu marido, o lorde idiota de Jardim de Cima”. Outra velhinha que não tem papas na língua é Olenna Tyrell de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, franquia adaptada em Game of Thrones, tanto é que seu apelido é “Rainha dos Espinhos”, isso sendo uma alusão ao símbolo de sua casa ser uma rosa e rosas possuem espinhos. Olenna ganhou vários fãs devido seus comentários mordazes e o modo zombeteiro em que trata até membros de sua família se for necessário, mostrando ter não só a língua, mas a mente mais afiada de Jardim de Cima. Quem se surpreendeu quando descobrimos que a mente por trás da morte de Joffrey Baratheon não era outra senão Olenna Tyrell? Após a conversa reveladora que teve com Sansa Stark a respeito do jovem rei, a velha viúva simplesmente não permitiu que sua neta se casasse com um monstro.
“ — Está com medo? Sabiamente, fiquei de boca fechada quando Nestha atravessou a porta em direção à luz ofuscante do pátio. — Por que eu teria medo de um morcego gigante dado a chiliques?” Dessa aqui, até o feérico mais perigoso e poderoso de Prythian tem medo! A famosa saga “Acotar” teve recentemente como protagonista de “Corte de Chamas Prateadas” a personagem Nestha, que divide muitas opiniões entre os fãs dos livros de Sarah J. Maas. A jovem, que é tida como rabugenta e anti social pelos demais personagens, usa bastante do seu senso de humor para fugir de situações desagradáveis ou que ela considera que não valem a pena sua atenção. Quando não está lendo na biblioteca de Velaris ou treinando com suas amigas Valquírias, ela está trocando farpas com Rhys ou tirando sarro de Cassian, seu par romântico. Muito de seu senso de humor sombrio acaba sendo um escudo que ela utiliza para se proteger, embora mesmo que tenha passado por muita coisa, a personagem se manteve firme à sua essência, uma vez que seu conflito principal se deu pelo fato de ela nunca ter desejado ser uma feérica. Felizmente, seu relacionamento com Cassian a ajudou a passar por essa problemática.
“ — Você achou mesmo que poderia me impedir? Eu queimaria o mundo inteiro para salvá-la!” Alienígena com muito sarcasmo enfrentando o próprio irmão? Estamos falando é claro de Daemon Black, da Saga Lux, de Jennifer L. Armentrout. O arrogante e irritante vizinho de Katy (palavras dela) tem motivos para espantar outras pessoas com sua ironia, uma vez que ele precisa esconder a todo custo sua verdadeira identidade. Porém, a aproximação dele e da protagonista acaba sendo inevitável e os dois aos poucos iniciam um relacionamento de enemies to lovers. Após acidentalmente deixar resquícios de seu poder na garota, ambos precisam conviver para que ela não seja alvo de alienígenas perigosos, e Daemon não mede esforços para provocar Katy sempre que pode, seja fazendo algum comentário irônico ou importunando a protagonista sobre seus gostos literários. Seus comentários ácidos melhoram ainda mais com a chegada do personagem Simon no segundo livro, que passa a representar uma ameaça ao seu romance com Katy.
“ — Você veste essas roupas para impressionar — falei em tom de aprovação. — Não, Anjo — ele se inclinou, sussurrando. — Eu tiro a roupa para impressionar” Sempre andando de preto e com uma resposta afiada na ponta da língua, o anjo caído Patch pretendia seduzir a jovem Nora e matá-la para seguir com seu plano de ter um corpo humano finalmente. Porém, ele não planejava se apaixonar pela garota. Em suas investidas, ele não perde nenhuma oportunidade de fazer algum comentário e provocar a garota sempre que pode. Para a protagonista, ele parece nunca estar falando sério e isso se reflete no seu comportamento com os demais personagens. Nas poucas vezes em que ele não está tecendo nenhum comentário sarcástico, isso sempre acontecia quando Nora estava em perigo. Patch se aproveita bastante de seu senso de humor para transmitir uma sensação duvidosa sobre si mesmo, principalmente para seus inimigos, que nunca sabem ao certo se ele já está agindo ou só ameaçando.
Não é à toa que os personagens sarcásticos e irônicos acabam sendo nossos favoritos, querendo ou não. Seja por seus comentários que marcam momentos emocionantes da trama, que costumam ser lembrados por muitos leitores, ou em momentos inoportunos, mas que acabam sendo engraçados. Geralmente donos de uma personalidade forte, acabamos muitas vezes nos identificando com seu senso de humor, e podendo até mesmo fazer com que torçamos por eles – e em alguns casos até mais do que o próprio protagonista.
Personagens sarcásticos em “A Piromante de Lumiére”:
Por: Laura Zacca
Sendo uma pessoa sarcástica, é inevitável escrever personagens sarcásticos! A protagonista de “A Piromante de Lumiére”, Kimberly Cassidy, é uma mestiça de fênix e humana que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando perde os pais e vira imortal tudo num mesmo incêndio! Não obstante, ela se vê caçada por Legionários, é colocada numa academia de sobrenaturais para treinar seus poderes instáveis e recém-adquiridos, se apaixona por um canalha e pra piorar está na mira do Deus dos Mortos! Devido sua vida recheada de desgraças, Kim usa o sarcasmo pra extravasar e até levar vida com “bom humor”, ela inclusive é apelidada pelo melhor amigo, Simon Cárter, de “A Rainha do Sarcasmo”, graças suas constantes frases irônicas. Além de sarcástica, Kim também é muito azarada, o que rende vários comentários mordazes: “Parecia que os deuses estavam brincando de roda da fortuna com a vida dela e ela estava numa maré de azar” (Kimberly em “A Piromante de Lumiére”).
Além da protagonista, Ryan Midnight, é outro personagem bastante sarcástico. O semideus filho de Nyx, usa o sarcasmo para aliviar o estresse e dar bom humor às situações da vida. Na verdade, ele e Kim possuem o humor tão parecido que eles se entendem muito bem a ponto de praticamente conseguirem se comunicar com poucas palavras ou só com insinuações, mas também é o que rende várias alfinetadas entre ambos quando Kim e Ryan estavam em lados opostos. Os dois vão de inimigos mortais à amigos e confidentes durante os livros. Eles começam se comunicando com altas farpas, mas as indiretas continuaram rolando por toda à vida. “Você é um belo de um mexeriqueiro, não é?”, pensou Kim, abrindo uma conversa telepática. “Você me conhece, passarinho”. Uma voz respondeu em sua cabeça, fazendo Kim revirar os olhos” (Kim e Ryan, em “As Rainhas do Fogo”).
Outro personagem que adora usar o sarcasmo é Kieran Shadoworld, o Príncipe do Inferno e filho de Hades. Ao contrário de Kim e Ryan que usam o sarcasmo para levar à vida com bom humor e aliviar as tensões, Kieran utiliza-se do sarcasmo para criar barreiras emocionais em volta de si e impedir as pessoas de se aproximar dele. Além disso, seus comentários se tornam mais ácidos e até ofensivos quando com raiva. Descrito sempre como tendo um olhar zombeteiro e um sorriso de escárnio no rosto élfico e cinzento. “— Ora, Ora, se não é o traidorzinho apaixonado — uma voz debochada fez Demétrius estagnar onde estava.”(Kieran confronta Demétrius em “A Piromante de Lumiére”).
Os personagens sarcásticos de “Território de Fúria”
Por: Artemisa Lopes
É praticamente impossível um autor não colocar um pouco de si mesmo ou de pessoas próximas em suas histórias, e “Território de Fúria” não foge à regra. A protagonista Valerie até que usa do sarcasmo ou da ironia de forma moderada, mas com comentários certeiros nos momentos certos, por ela ter adotado uma postura muito séria na sua personalidade, o que não impede é claro que ela se relacione muito bem com os demais personagens que usam desse senso de humor mais comumente do que ela, como por exemplo Zoe, sua irmã mais velha, que adora provocá-la sempre que pode.
Isso se aplica também ao seu interesse e futuro par romântico, Roman. Ele é responsável pelos comentários mais inoportunos e irônicos possíveis, que em alguns casos beira o deboche. Sua personalidade é totalmente moldada nesse aspecto, uma vez que ele cresceu sendo tido como o mentalista mais forte e poderoso de sua geração, o que também adiciona um pouco de arrogância no seu modo de ser. Muito disso também acaba sendo um reflexo natural que ele usa como defesa, principalmente pelo fato de ele ser um anti-herói, sendo descrito como um zombeteiro nato e até na sua postura corporal. A partir do momento que ele é colocado para vigiar Valerie a fim de tentar intimidar o assassino que está aterrorizando os dois mundos, ele usa do seu senso de humor para tentar se aproximar dela e entender seu mundo humano, uma vez que ele tem pouco contato e desconhece aspectos comuns, como a tecnologia dos mortais. Alguns de seus comentários quando interage com Valerie rendem boas cenas de comédia e servem para aproximar os dois romanticamente.
Se Roman é sarcástico, seu melhor amigo também é. Kaleb é um mestiço que sempre sofreu muito preconceito na comunidade mentalista, principalmente por sua amizade com o herdeiro do clã Huxley. Os dois se completam e morreriam um pelo outro. Valerie o conhece quando Roman a leva até ele após o mesmo ter sido supostamente atacado pelo assassino, o que preocupa Roman. A primeira vista, Kaleb apresenta um senso de humor um tanto quanto que ameno que Roman, mas ao contrário do melhor amigo, que não precisa ter medo de ser quem é, Kaleb usa bastante do sarcasmo como forma de defesa, sendo do tipo que só se dá bem com alguém com uma personalidade parecida com a sua. A partir do momento que conhece Valerie, ele é um dos primeiros a perceber sua aproximação de Roman, usando de seu humor para alertar o amigo de que talvez a garota humana possa estar conquistando seu frio coração aos poucos.
Como criar personagens sarcásticos:
- Você quer um personagem que seja mais debochado/zombeteiro? Ou um senso de humor mais leve, mas ainda assim ácido? Pense em dosar essa personalidade no personagem.
- O sarcasmo e a ironia devem acrescentar no personagem e ser algo natural de sua personalidade
- Lembre-se: os sarcásticos costumam ser os queridinhos do público. Vale a pena colocar um vilão sarcástico? Ou um anti-herói?