(Gabriel Barros Neres – Jornalista)
Fazia 11 meses desde que Rosemary Barton havia falecido de forma trágica no jantar de seu próprio aniversário, no restaurante Luxembourg. A polícia decidiu que foi suicídio e não houve contestação, afinal a jovem mrs. Barton estava sofrendo de uma depressão pós-gripe. Entretanto, depois de receber cartas anônimas afirmando que Rosemary, na verdade, foi assassinada, o viúvo George Barton pede ajuda ao coronel Johnny Race para descobrir a verdade sobre a morte de Rosemary Barton.
Este é o enredo de Um Brinde de Cianureto (HarperCollins Brasil, 2021, 256 páginas), livro publicado originalmente em 1945 pela autora Agatha Christie. O livro é dividido em três partes, sendo a primeira focada nos suspeitos e suas motivações para cometer o crime; a segunda tem como foco o plano de George Barton para descobrir quem é o assassino; e a terceira é a investigação do caso sob o comando do coronel Johnny Race, que faz sua quarta aparição num livro da autora.
Como é costume nos livros da Agatha Christie, não se poupa tempo para desenvolver bem os personagens. Pode parecer entediante a princípio, mas o leitor é apresentado ao elenco de personagens, cada um com seu capítulo individual, para conhecer e entender os relacionamentos com a vítima. Imediatamente se percebe que todos os suspeitos possuem motivações convincentes e diversificadas – a irmã caçula invejosa, o marido traído, o amante insatisfeito, entre outros.
Há um bom número de personagens suspeitos, sem parecer confuso ou inchado como em outros livros da autora. Como o leitor passa boa parte da história acompanhando aquele grupo de pessoas, cria-se uma dúvida sobre quem merece ter a confiança do leitor e quem pode ser riscado da lista de suspeitos. A dinâmica entre os personagens também é outro ponto alto, variando entre o bom relacionamento e a tensão das especulações sobre o que pode ter acontecido no fatídico jantar de aniversário.
A trama possui várias reviravoltas bem colocadas, principalmente após a parte 2 e durante a investigação. O coronel Johnny Race, que participou dos livros Morte no Nilo, Cartas na Mesa (ambos ao lado de Hercule Poirot) e O Homem do Terno Marrom, trabalha ao lado do inspetor-chefe Kemp para resolver esse quebra-cabeça que parece tão complexo, não à toa é a parte mais longa do livro. Apesar de inteligente e simpático na forma como faz as perguntas e como obtém as informações, o coronel Race não é tão marcante quanto outros detetives da autora, é quase como se fosse um intruso na história. Uma curiosidade é que o livro é uma versão estendida do conto Yellow Iris. A autora mudou alguns elementos, como o culpado pelo crime e o detetive, que no conto era o belga Hercule Poirot.
No fim, Agatha Christie mais uma vez demonstra criatividade na solução do caso, apresentando uma pista decisiva que estava na frente do leitor o tempo inteiro. Um Brinde de Cianureto é uma leitura rápida, dinâmica e divertida, apresenta uma trama bem desenvolvida e é um dos melhores livros da Rainha do Crime.
2 respostas
Texto leve, claro, enxuto nas suas proposições. Na verdade, uma tessitura analítica bem costurada. Parabéns!
Gabriel Neres é um crítico que incita o leitor a buscar a obra e o autor, pois põe em relevo e torna descritivel qualquer gênero literário. Parabéns garoto!!