A escritora britânica Agatha Christie (1890-1976) está eternizada como a Rainha do Crime da literatura, tendo 66 romances policiais publicados, 163 contos, 19 peças teatrais, além de 2 autobiografias e 6 romances sob o pseudônimo Mary Westmacott. Com uma carreira tão produtiva e rica em publicações e mesmo após quase 50 anos de seu falecimento, seus livros ainda recebem novas edições a cada ano, atraindo novos leitores para o gênero de romance policial e (re)conquistando seus fãs mais antigos.
Pensando em como a autora e sua vasta obra estão sendo bastante procuradas, quis trazer algumas sugestões de livros escritos pela Rainha do Crime. Vale destacar que a maioria das histórias de Agatha Christie pode ser lida em qualquer ordem. Essa é uma lista pessoal e vale mais como um “Por onde começar a ler” do que “Os melhores livros de Agatha Christie”.
1- O Misterioso Caso de Styles (The Mysterious Affair at Styles, 1920)
O Misterioso Caso de Styles é o romance de estreia de Agatha Christie, já apresentando elementos que se tornaram frequentes em suas publicações: O crime numa cidade pequena, um número específico de suspeitos e suas motivações, algumas subtramas que adicionam novos mistérios para confundir as convicções do leitor e o personagem mais famoso da autora, o detetive belga Hercule Poirot.
Na trama, o capitão Arthur Hastings é convidado a passar um tempo de recuperação na casa de campo de Styles, no interior da Inglaterra. Há um clima de apreensão ao redor de Emily Inglethorp, a matriarca da casa, por conta de seu novo marido, Alfred. Quando Emily é encontrada morta em seu próprio quarto, Hastings pede ajuda ao detetive Hercule Poirot que, juntamente com outros belgas e graças ao auxílio de Mrs. Inglethorp, estava refugiado na mesma região por conta da Primeira Guerra Mundial que assolava a Europa.
Uma curiosidade sobre o livro é que, na época, Agatha Christie trabalhava numa farmácia de hospital e usou seu conhecimento sobre venenos para escrever o crime no romance.
2- O Assassinato de Roger Ackroyd (The Murder of Roger Ackroyd, 1926).
Algo recorrente em livros de Agatha Christie é a tentativa de Hercule Poirot de tirar férias ou se aposentar da carreira de detetive, mas sempre forçado a voltar à ativa por um crime ocorrido onde quer que ele esteja. Em O Assassinato de Roger Ackroyd, é assim que Poirot começa: aposentado e cultivando abóboras na pacata vila de King’s Abbot. Porém, decide retornar ao trabalho quando o rico (e seu conhecido) Roger Ackroyd é encontrado morto em sua própria residência, trancado pelo lado de dentro e que não estava sozinho quando foi visto pela última vez. Um crime que só Hercule Poirot é capaz de solucionar.
O Assassinato de Roger Ackroyd foi o primeiro grande sucesso da autora, quebrando algumas convenções do romance policial da época – o que gerou uma pequena polêmica com outros autores do gênero – e marcando o nome de Agatha Christie como Rainha do Crime graças à maneira como ela conduz a história até seu final imprevisível.
3- Assassinato na Casa do Pastor (The Murder at the Vicarage, 1930).
Em St. Mary Mead, um vilarejo pacato que não ocorre um crime há muito tempo, o leitor descobre que o coronel Protheroe é malvisto pelos moradores do lugar e até mesmo o pastor, que narra a história, tem antipatia pelo homem. Para o horror dos habitantes locais, o coronel Protheroe é encontrado morto na casa do pastor e algumas suspeitas começam a pairar no ar.
Diferente dos livros citados anteriormente, Assassinato na Casa do Pastor não traz Hercule Poirot. Em seu lugar, a autora introduz uma nova detetive: trata-se de Miss Jane Marple (ou apenas Miss Marple), uma idosa solteirona vista como fofoqueira pelos vizinhos, bastante observadora, simpática, perspicaz e inteligente. Porém, ela aparece apenas pontualmente na história, interagindo com o pastor, com a esposa do pastor ou apenas sendo mencionada, não sendo tão protagonista da narrativa. No final, é ela quem elucida o caso, mesmo que se considere uma observadora do comportamento humano.
4- O Adversário Secreto (The Secret Adversary, 1922)
O segundo romance publicado pela autora também dispensa Hercule Poirot e nos apresenta um casal de protagonistas: Tommy Beresford e Prudence “Tuppence” Cowley. dois amigos que se encontram casualmente em Londres após a Primeira Guerra Mundial. Desempregados, quase zerados na conta, os dois decidem abrir juntos uma agência chamada Jovens Aventureiros Ltda. e anunciam no jornal que topam – quase – qualquer trabalho em troca de dinheiro. Porém, um sujeito ouve a conversa e convida Tuppence a se infiltrar num colégio interno da França, que recusa por não poder contar com seu amigo Tommy. Posteriormente um agente do governo britânico os contrata e explica que eles precisam encontrar Jane Finn, uma sobrevivente do naufrágio do navio RMS Lusitania, que está de posse de arquivos secretos capazes de iniciar uma crise na Inglaterra.
O Adversário Secreto é uma história de aventura e espionagem, sendo consideravelmente diferente dos livros mais tradicionais de Agatha. É uma leitura bem divertida, tanto Tommy quanto Tuppence possuem seus momentos de brilho e de inteligência, é envolvente e os dois personagens são bem divertidos.
Tommy e Tuppence protagonizam outros quatro livros e, nesse caso específico, é interessante lê-los na ordem em que foram lançados, porque os personagens envelhecem a cada nova aventura.
5- E Não Sobrou Nenhum (And Then There Were None, 1939)
Antes de falar sobre o livro, uma observação: Por muitos anos, o título desta obra foi O Caso dos Dez Negrinhos e muitos fãs ainda conhecem por esse nome, porém, por seu título original (Ten Little Niggers) ser considerado racista, ele foi alterado nos anos após sua publicação para seu título atual.
Oito pessoas bem comuns, mas que não se conhecem, são convidadas a passar um tempo na ilha do Soldado, península recém-adquirida pelo milionário U. N. Owen. Na chegada, o casal de funcionários informa que o anfitrião iria se atrasar naquela noite. No entanto, após o jantar, uma voz misteriosa revela o motivo daquele encontro: cada pessoa presente cometeu um crime e saiu impune, portanto todos serão julgados e sentenciados. Aos poucos, as mortes vão ocorrendo de acordo com os versos de um poema infantil, chamado Os Dez Soldadinhos, enquanto convivem com a existência de um assassino entre eles e tentam planejar uma saída da ilha antes que não sobre ninguém para contar a história.
E Não Sobrou Nenhum traz uma atmosfera diferente de qualquer livro escrito por Agatha Christie. Sem Hercule Poirot, Miss Marple ou qualquer outro detetive para desvendar o mistério, o clima de suspense perdura ao longo da narrativa, pois qualquer um dos presentes pode ser o culpado e não se sabe até quando um ‘soldadinho’ vai continuar vivo.
6- Morte na Mesopotâmia (Murder in Mesopotamia, 1936)
A última indicação para essa lista é o primeiro livro de Agatha Christie que eu li.
Morte na Mesopotâmia é narrado por Amy Leatheran, uma enfermeira que é contratada para cuidar de Louise Leidner durante uma expedição na Mesopotâmia. O detalhe é que a senhora Leidner acredita que seu primeiro marido, morto muitos anos atrás, possa estar vivo e a está assombrando. Uma semana depois da chegada da enfermeira, Mrs. Leidner é encontrada morta em seu quarto. Cabe a Hercule Poirot – que convenientemente estava por perto – investigar a causa da morte de Louise Leidner.
A narrativa demora a engrenar e Poirot também demora a aparecer. Enquanto isso, os suspeitos são desenvolvidos assim como as relações entre os personagens e suas impressões sobre Louise Leidner, criando aquele clima de suspense. Quando o detetive Poirot aparece, a história flui mais depressa, as soluções aparecem e o final me surpreendeu bastante pela criatividade, ousadia e como se encaixou bem com o que foi proposto. Existem outras obras que poderiam se encaixar nesta lista, mas meu objetivo foi apresentar um grupo pequeno de livros e incentivar a leitura da obra dessa grande escritora que fez do mistério sua missão de vida literária